
Sabíamos que algo andava a ser cozinhado fora de horas, desde há muitas semanas.
Câmaras e tripés e focos de luz que se iam acrescentando à medida que o grupo conquistava regalias técnicas, com os parceiros de sempre.
Noite dentro e fins-de-semana seguidos, todos no Campus iam para casa descansar, menos eles que ficavam. Ficavam horas a fio, seguindo uma linha da história só desvendada ontem.
Dezenas de pessoas, centenas de takes que fervilhavam através de milhares de cenas e repetições de um guião apresentado em direto, no Campo Pequeno.
Todos os anos letivos representados em palco. Os dois cursos da Faculdade. A crítica e a sátira a assumir uma dimensão maior, quando olhadas de frente e a tentar revelar o que preocupa esta geração que está a poucos anos de comandar parte da saúde do país.
Nós fomos segui-los, acertando um compromisso de confidencialidade e segredo, colaborando nas interpretações abertas e nos segredos à porta fechada.
Sempre longe dos olhares atentos.
3 2 1 ação.
Poucos takes, poucos enganos. Apenas a repetição para melhor o detalhe. Sem insegurança, apesar da parca experiência cinematográfica.
Na sala os coordenadores que, são na verdade os nossos estudantes, assumem também o lugar de realizadores e técnicos. Distraídos com a nossa presença discutiam quem já ia mais avançado no desenvolvimento da tese de Mestrado. Afinal são finalistas e apesar de estarem focados em terminar o curso, nem por isso querem deixar a Faculdade sem a marcarem pessoalmente com uma reflexão social e sobre a classe médica.
O Pedro e a Catarina coordenam a realização e fazem a direção de atores. A Beatriz e a Leonor coordenam o projeto inteiro. Mas há ainda a outra Beatriz, a jornalista que se faz de "tonta", mas é atriz brilhante e que ainda agora batia a claquete e assinalava os takes. A aluna revelação GAPIC tem no plateau outra interlocutora à altura, a Profª Carmo Fonseca. A repetição de cena serve somente para incorporar melhor o papel e para trocar o plano.
Enquanto se alinham câmaras e testam planos, o Pedro e o João discutem detalhes da tese que ainda precisam de trabalhar, medindo qual estará mais atrasado no processo. Do João viríamos a perceber ontem a incrível presença em palco com um monólogo incontestável sobre o papel de um “só aluno que quer acabar com o óbvio” que o rodeia entre médicos.






Nós fotografamos o backstage e observamos a Vera, a Catarina, a Maria e o Afonso. Sentados e à espera do arranque da cena, o Duarte vestia a pele do Francisco estudante, do Francisco, antes de tudo, doutor. A Ana perguntava se o figurino estava demasiado exagerado para lhe dar o ar de avó que só precisava de companhia e alguém para falar. O Duarte nunca nos contou que seria um dos protagonistas da noite. E nós não lhe contámos ainda que foi aplaudido efusivamente. Ele e todos os alunos que representaram os seus anos e subiram ao palco com mensagens claras de contestação, ou ideal.
Nutrição e Medicina voltarão todos para o ano e continuarão a dar espetáculo. Mas este ano a Noite foi deles, dos empenhados, dos que organizaram os principais eventos, dos criativos e dos voluntariosos, dos que sonharam com ambição e dos que se entregaram com tudo. Porque é só com tudo que sabem estar na vida.
A Noite das noites acontece há mais de 90 edições. E recebe o aplauso de pé, porque prova que um “médico que só sabe Medicina, nem Medicina sabe”.
Bravo, nossos magníficos!



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