Um Parlamento com diversidade é muito positivo: seja na diversidade de idades, de género ou de profissões, porque nos leva à diversidade de ideias e de propostas, enriquece o debate e a reflexão, e conduz a melhores processos na resolução dos problemas das pessoas. Acredito que os nutricionistas têm de ter uma presença cada vez mais visível e preponderante. Afinal, todos os nutricionistas são poucos para incrementar o impacto da nossa atuação na saúde da população - seja num hospital ou num ginásio, nas autarquias ou nas escolas, nos lares ou na indústria, na Universidade ou na Assembleia da República. Todos somos parte do futuro que está a ser construído.
Quero, por isso, aproveitar esta oportunidade para colocar a alimentação inadequada no centro da discussão política dos problemas de saúde. A alimentação é um dos determinantes com mais impacto na saúde dos portugueses, pelo que devemos insistir na mensagem de que vale a pena investir na promoção da saúde e na prevenção da doença através da alimentação. Falar sobre isto é falar sobre a sustentabilidade dos serviços sociais e de saúde e sobre a diminuição das desigualdades sociais em saúde. Não podemos esquecer que as famílias portuguesas têm passado por grandes dificuldades para suportar todas as despesas, com falta de acesso a alimentos adequados para garantir a sua saúde. Quando temos quase dois milhões de pessoas a viver abaixo do limiar da pobreza, é imperativo quebrar o círculo vicioso entre pobreza e doença.
Se o progresso científico abriu caminho para permitir uma melhor compreensão do consumo alimentar das populações e o seu impacto na saúde, integrando áreas desde a agricultura, o ambiente, a coesão social e a economia, então estes avanços têm de ser refletidos nas políticas de saúde. Se o fardo da má alimentação é muito pesado, então deve ser devidamente ponderado na balança das políticas públicas.
O Programa do Governo é um ponto de partida do trabalho que está a ser desenvolvido. Não podemos desistir da ideia de que os portugueses devem ter uma porta de entrada no Serviço Nacional de Saúde, de forma a não ficarem sem resposta para os seus problemas de saúde. Destaco o compromisso de alargamento de consultas de nutrição nos centros de saúde e a aposta na motivação dos profissionais de saúde. Noutra dimensão, nas Instituições de Ensino Superior, foi já anunciado a introdução do cheque nutricionista, com entrada em vigor no próximo ano letivo, que permitirá a atribuição de mais de 50 000 consultas a estudantes, que têm liberdade de escolha do Nutricionista de entre os que constam de uma lista nacional de prestadores. Também assistimos ao reforço do número de nutricionistas no programa Cuida-te +, destinado aos jovens. O Governo tem a meta de mais anos de vida com mais qualidade de vida, onde sabemos que os nutricionistas desempenham um papel fundamental.
Acredito que seja possível ir mais longe. No exercício das minhas funções enquanto Deputada da Nação estou e estarei sempre disponível para receber contributos e ter um diálogo estreito com os colegas nutricionistas.
Os jovens nutricionistas têm partilhado comigo problemas que são conhecidos: as barreiras no acesso à profissão, a insatisfação com os baixos salários, a precariedade do trabalho e a necessidade de terem de ter mais do que um emprego. Há quem desabafe que pensa em desistir da área por não conseguir alcançar estabilidade financeira, o que significa uma grande perda de talento para o País, para a Nutrição e para quem investiu tempo, recursos financeiros e o seu empenho para estudar esta área tão nobre. Por tudo isto, não podemos falhar aos jovens portugueses, que nos últimos anos foram esquecidos e resumidos a exercícios de entretenimento político que simulam a auscultação dos jovens. Aos jovens da minha geração quero transmitir uma mensagem de confiança no futuro: há um compromisso claro deste novo Governo de Portugal com a juventude, com o maior investimento da última década para que os jovens fiquem no País. Sei que para muitos, esta é a última esperança para concretizarem os seus projetos de vida em Portugal. Contem comigo para ser a vossa voz no Parlamento. Recuso que os filhos de Portugal sejam condenados a emigrar.
Ana Gabriela Cabilhas