Conheça o projeto “FOODS - FOod Patterns and Oral Disbyosis in Sjögren’s disease”, resultante da parceria entre o Laboratório de Nutrição e o Serviço de Reumatologia da Unidade Local de Saúde do Hospital Santa Maria (ULSSM), representados pela Professora Doutora Catarina Sousa Guerreiro e pelo Professor Doutor Vasco Romão, respetivamente. Este projeto pioneiro tem como principal objetivo estudar de que forma a atividade da doença e a sua sintomatologia se relacionam com o estado nutricional, o padrão alimentar e a microbiota oral, em indivíduos com a Doença de Sjögren.

A história desta patologia inicia-se no ano de 1930, onde o oftalmologista sueco Henrik Sjögren, contacta com um caso clínico de uma mulher com dores articularesdificuldade na mastigação e deglutição (devido à falta de saliva) e uma sensação de irritação ocular. Sjögren estudou esta tríade invulgar, apelidando-a inicialmente de “síndrome de Sjögren” (1). Atualmente, é uma das doenças reumáticas mais prevalentes, que afeta até 9 vezes mais mulheres do que homens. Caracteriza-se por ser uma doença autoimune, em que existe destruição das glândulas exócrinas, em particular as salivares e lacrimais, desencadeando os típicos sintomas de secura oral e ocular (2,3). Aliado a estes sintomas, a presença de dor articular e fadiga constante contribuem fortemente para a redução da qualidade de vida destes indivíduos (4). A redução da secreção salivar pode originar problemas como a disfagia, alteração do paladar, maior suscetibilidade para infeções orais, para cáries dentárias e, consequentemente, pode comprometer a ingestão alimentar (5,6). Existe evidência de que os sintomas orais são dos que mais desconforto causam nesta população, onde muitos referem dificuldade em ingerir alimentos secos (5–7).

A dieta Mediterrânica tem sido um tópico muito estudado pelas suas propriedades anti-inflamatórias e imunomoduladoras, possuindo um potencial papel protetor nas doenças reumáticas (8). Assim, levanta-se a questão sobre a possibilidade de estar relacionada com a Doença de Sjögren. Evidência crescente parece indicar que uma boa adesão à dieta Mediterrânica pode reduzir a atividade da doença e até o risco de a desenvolver (9–11). Paralelamente, vários estudos demostram uma grande prevalência de disbiose oral na população com Doença de Sjögren (12,13). Especula-se que esta possa ter um papel causal no desenvolvimento e evolução da doença, parecendo estar associada a uma maior severidade (3,14). Por todos estes fatores, podemos afirmar que a Doença de Sjögren tem um grande potencial de influenciar o estado nutricional e o bem-estar desta população. A relação entre a nutrição e a doença de Sjögren é uma área ainda pouco explorada. Em Portugal, até à data, não existe nenhum estudo sobre a realidade do estado nutricional nesta população.

Assim surge este projeto, que se propõe a contribuir para o conhecimento sobre o estado nutricional, ingestão alimentar, adesão à Dieta Mediterrânica, microbiota oral, assim como, a sua relação com a severidade da doença, no contexto português. Com este estudo, observacional e transversal, espera-se contribuir com uma base para o desenvolvimento de abordagens terapêuticas mais eficazes no alívio dos sintomas, particularmente no domínio da intervenção nutricional, com o principal intuito de melhorar a qualidade de vida destes indivíduos.

O FOODS está, neste momento, numa fase avançada da recolha de dados. Esteja atento, acompanhe o seu desenvolvimento, e não perca a partilha dos resultados!

Ana Ribeiral e Mariana Manata

Referências bibliográficas: 

1. Murube J. Henrik Sjögren, 1899–1986. Ocul Surf. 2010 Jan 1;8(1):2–7.
2. Beydon M, McCoy S, Nguyen Y, Sumida T, Mariette X, Seror R. Epidemiology of Sjögren syndrome. Nature Reviews Rheumatology 2023 20:3 [Internet]. 2023 Dec 18 [cited 2024 Jun 20];20(3):158–69. Available from: https://www.nature.com/articles/s41584-023-01057-6
3. Paiva CS, Jones DB, Stern ME, Bian F, Moore QL, Corbiere S, et al. Altered Mucosal Microbiome Diversity and Disease Severity in Sjögren Syndrome. Sci Rep. 2016 Apr 18;6.
4. Brito-Zerón P, Flores-Chávez A, Horváth IF, Rasmussen A, Li X, Olsson P, et al. Mortality risk factors in primary Sjögren syndrome: a real-world, retrospective, cohort study. EClinicalMedicine [Internet]. 2023 Jul 1 [cited 2024 Jun 20];61. Available from: http://www.thelancet.com/article/S2589537023002390/fulltext
5. Negrini S, Emmi G, Greco M, Borro M, Sardanelli F, Murdaca G, et al. Sjögren’s syndrome: a systemic autoimmune disease. Clin Exp Med [Internet]. 2022 Feb 1 [cited 2024 Jun 20];22(1):9–25. Available from: https://link.springer.com/article/10.1007/s10238-021-00728-6
6. Berman N, Vivino F, Baker J, Dunham J, Pinto A. Risk factors for caries development in primary Sjogren syndrome. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol. 2019 Aug 1;128(2):117–22.
7. Fernández-Martínez G, Zamora-Legoff V, Molina GH. Calidad de vida oral en pacientes con síndrome de Sjögren primario. Reumatol Clin. 2020;16(2):92–6.
8. Izzo R, Colafrancesco S, Pinto A, Gattamelata A, Giardina F, Claudia F, et al. Adherence to Mediterranean diet and nutritional state in Italian women with isolated Sjögren’s syndrome. Ann Rheum Dis. 2021 Jun;80(Suppl 1):1183.2-1184.
9. Machowicz A, Hall I, de Pablo P, Rauz S, Richards A, Higham J, et al. Mediterranean diet and risk of Sjögren’s syndrome. Clin Exp Rheumatol [Internet]. 2020;38(126):216–21. Available from: https://www.researchgate.net/publication/346484147
10. Carubbi F, Alunno A, Mai F, Mercuri A, Centorame D, Cipollone J, et al. Adherence to the Mediterranean diet and the impact on clinical features in primary Sjögren’s syndrome. Clin Exp Rheumatol. 2021;39(133):190–6.
11. Alunno A, Carubbi F, Mariani FM, Rossi m., Sipari P, Grassi D, et al. Dietary habits and the impact on clinical features in primary Sjögren’s syndrome. Ann Rheum Dis. 2022 Jun;81(Suppl 1):644.
12. Mosaddad SA, Mahootchi P, Safari S, Rahimi H, Aghili SS. Interactions between systemic diseases and oral microbiota shifts in the aging community: A narrative review. J Basic Microbiol. 2023 Aug 1;63:831–54.
13. Van der Meulen TA, Harmsen HJM, Bootsma H, Liefers SC, Vila AV, Zhernakova A, et al. Reduced salivary secretion contributes more to changes in the oral microbiome of patients with primary Sjögren’s syndrome than underlying disease. Vol. 77, Annals of the Rheumatic Diseases. BMJ Publishing Group; 2018. p. 1542–4.
14. Alam J, Lee A, Lee J, Kwon D Il, Park HK, Park JH, et al. Dysbiotic oral microbiota and infected salivary glands in Sjögren’s syndrome. PLoS One. 2020;15(3).