Nunca tanto como agora se falou de alimentação, o que no geral é benéfico, pese embora muitas vezes sustentado num registo desvirtuado da evidência científica. Com o propósito de combater essa desinformação, a Fundação Francisco Manuel dos Santos desafiou alguns dos professores de nutrição da FMUL a elaborar uma coletânea que, de forma simples e acessível, contribuísse para o aumento do conhecimento alimentar/nutricional da população.
Por esse mesmo motivo o primeiro ensaio desta coletânea foi dedicado à literacia alimentar por forma a capacitar o leitor para escolhas corretas, apresentando um conjunto de estratégias que o apoiem na tomada de decisão. De seguida, dedicámos atenção às dúvidas relativas aos primeiros 1000 dias de vida onde aprofundámos as recomendações alimentares e nutricionais na gestação e nos primeiros 2 anos de vida. Como seria de prever também a obesidade foi alvo de análise e reflexão, em especial sobre o impacto individual e coletivo desta doença e potenciais ações para a sua mitigação. Também as dietas da moda e seus impactos clínicos foram abordadas num dos ensaios, e por fim, porque somos nutricionistas, quisemos com base em informação científica, selecionar/sistematizar um conjunto de alimentos acessível a todos, cuja inclusão na rotina alimentar consideramos como benéfica. Trata-se assim de uma coletânea de 5 ensaios que esperamos que desperte o interesse e curiosidade de todos, e que cumpra o seu propósito – informar em nutrição. De seguida deixo uma breve nota sobre cada um dos ensaios, que estão já disponíveis ao consumidor, em forma de livro isolado ou em formato coletânea.
Ensaio 1 - Literacia alimentar: decisão informada (Autor: Joana Sousa)
O conceito de literacia alimentar é cada vez mais utilizado, tanto na definição de políticas alimentares e nutricionais, como no contexto da opinião pública. A sua definição não é consensual, mas é inquestionável que respeita à envolvência do indivíduo no sistema alimentar através da relação com a informação alimentar e a capacidade em aplicar essa informação para uma escolha alimentar informada e saudável, a preparação de alimentos e compreensão do impacto das mesmas na saúde, no meio ambiente e na economia.
Os hábitos alimentares dos portugueses representam o quinto fator de risco que mais contribuiu para a perda de anos de vida saudável. É emergente capacitar a população das melhores estratégias informativas, adaptadas ao contexto do indivíduo, para que as escolhas e consumos se ajustem ao estado global de saúde. Este ensaio destacou a importância da literacia alimentar como essencial e igualmente complexa, mas fundamental para uma escolha e decisão alimentar informada, tentando apresentar um conjunto de estratégias para capacitar o consumidor na tomada de decisão para a escolha, preparação e consumo alimentar saudável e sustentável como promotor de saúde.
Ensaio 2 – Alimentação e nutrição nos primeiros 1000 dias de vida (Autor: Maria Ana Kadosh)
Os primeiros 1000 dias de vida correspondem ao período entre a conceção e os dois anos de vida da criança. São uma fase de extrema importância para o desenvolvimento da criança pela sua enorme plasticidade. Os fatores ambientais a que somos expostos em períodos críticos do nosso desenvolvimento, nomeadamente a alimentação e a nutrição, tem efeito na saúde a longo prazo, nomeadamente no risco de desenvolver doenças não transmissíveis. Neste ensaio pretendeu-se apresentar a evidência científica que existe, até à data, na área da alimentação e da nutrição nos primeiros 1000 dias de vida, através de uma linguagem simples e com exemplos práticos do quotidiano. Foram abordadas as recomendações alimentares e nutricionais na gravidez, desmistificados os mitos associados à amamentação, clarificadas as recomendações sobre a diversificação alimentar e por último, apresentadas estratégias para dar resposta ao enorme desafio de manter uma dieta familiar saudável para a vida.
Ensaio 3 - Obesidade – uma questão de peso? (Autor: José Camolas)
A obesidade é uma doença crónica metabólica, que também constitui fator de risco para outras patologias, tais como a diabetes, doença cardiovascular e alguns tipos de cancro. No início do milénio, a Organização Mundial da Saúde designou a obesidade como a epidemia global do século XXI. Portugal, onde mais de metade dos adultos e um terço das crianças terá peso em excesso, foi um dos primeiros países europeus a atribuir-lhe o estatuto de doença crónica. O seu impacto negativo e a sua crescente prevalência ameaçam a própria sustentabilidade dos sistemas de saúde. Esta constatação, determina a urgência de medidas de prevenção, mas também a necessidade de assegurar que as pessoas com obesidade tenham acesso a intervenções adequadas. Quanto pesa a obesidade na saúde individual e coletiva? Existe uma dieta ideal e universal capaz de a vencer? Quais as intervenções nutricionais mais adequadas? A carga genética é um fator de predisposição? E o prazer em comer? Esta componente da coleção pretende constituir um exercício de análise e reflexão, sobre esta temática. Porque esta é, de facto, uma urgência de peso.
Ensaio 4 - As dietas da moda – impactos clínicos (Autor: Ana Brito Costa)
O crescente reconhecimento de qua a alimentação constitui um dos principais fatores de risco modificáveis para a obesidade, diabetes, doença cardiovascular ou oncológica tem implicado um aumento na procura de alternativas alimentares capazes de resolver eficazmente a sua prevenção e/ou tratamento. Considerando que as doenças crónicas não transmissíveis são uma epidemia do século XXI, o número de dietas proclamadas de “milagrosas” e o de indivíduos que as seguem desinformadamente convictos multiplica-se exponencialmente.
Este ensaio pretende alertar, com base na evidência científica atual, para o impacto clínico e nutricional de algumas “dietas da moda”, para além daquele pelo o qual são habitualmente mediatizadas. Para que a dieta constitua o medicamento verdadeiramente eficaz e seguro é importante refletir com sentido crítico algumas questões: O que realmente se sabe sobre as dietas da moda? A informação é cientificamente sólida? As dietas da moda são eficazes na perda e/ou manutenção do peso? Qual é o efeito na composição corporal, nas reservas mineral-vitamínicas e no metabolismo? Quais são os impactos na incidência ou agravamento de outras doenças? Quais são os efeitos a longo prazo no controlo hormonal e gasto de energia? Estas dietas influenciam a sensação de fome, apetite e bem-estar psicológico?
Ensaio 5 - Alimentos de hoje (Autor: Catarina Sousa Guerreiro)
A nutrição é atualmente considerada um dos principais fatores determinantes das doenças crónicas, com evidência científica a suportar a ideia de que alterações na dieta têm fortes implicações, positivas e/ou negativas, na saúde de cada um de nós durante todo o seu ciclo de vida. À luz do conhecimento atual a nutrição já não é estudada na sua perspetiva clássica, a qual é apenas considerada como um veículo de nutrientes que satisfaz as necessidades nutricionais do indivíduo. Atualmente o conceito moderno de assenta no facto de alguns alimentos e/ou ingredientes, para além do seu papel nutritivo, apresentam também um efeito fisiológico benéfico para o organismo.
Essa riqueza nutricional é encontrada em muitos alimentos atualmente acessíveis à grande maioria da população e cujo consumo deve ser promovido. Desperdiçar o potencial de saúde que estes alimentos nos fornecem de uma forma muito acessível, é algo que é urgente de mudar. Aumentar literacia alimentar da população é uma nobre função do nutricionista. Neste ensaio pretendeu-se isso mesmo, fornecer informação ao consumidor para que este possa de forma consciente fazer uma escolha informada na seleção dos alimentos.
Catarina Sousa Guerreiro