Nas pessoas com doença renal crónica, em programa regular de hemodiálise, seguir uma alimentação ajustada às necessidades decorrentes da patologia consiste num dos pilares fundamentais do tratamento e contribui para prevenir eventuais consequências associadas a uma ingestão alimentar e estado nutricional desadequados. Alguns micronutrientes, como o fósforo e o potássio são frequentemente avaliados devido aos riscos associados à presença de valores fora dos limites desejados. No entanto, existem outros nutrientes com um papel importante no nosso organismo, como o zinco, que não fazem parte das avaliações de rotina destes doentes e cuja associação com o risco de mortalidade é ainda pouco conhecida.
No que diz respeito a este micronutriente, sabe-se que a sua deficiência pode afetar o estado nutricional, por promover anorexia e alterações de paladar. Para além disso, o zinco tem um papel importante como cofator de enzimas úteis no controlo do dano oxidativo e participa também no metabolismo dos macronutrientes (1-3). Os doentes em programa regular de hemodiálise estão mais suscetíveis a desenvolver deficiência deste micronutriente devido a uma ingestão alimentar desajustada, perdas de zinco decorrentes do próprio tratamento, absorção intestinal reduzida ou toma de medicamentos (como quelantes de fósforo à base de cálcio ou ferro oral) (4, 5). Apesar desta aparente importância, até à data não existiam estudos que avaliassem a relação entre a ingestão deste micronutriente e a sobrevida em doentes em hemodiálise.
A ingestão recomendada de zinco para a população geral é de 8 mg/dia para as mulheres e de 11 mg/dia para os homens (6). No entanto, as recomendações europeias para doença renal crónica - European Best Practice Guideline on Nutrition and Chronic Kidney Disease -, recomendam uma ingestão diária de zinco entre 8-12 mg para as mulheres e entre 10-15 mg para os homens (7). Este micronutriente é absorvido em grandes quantidades através dos alimentos ricos em proteína como o peixe e o marisco (especialmente as ostras), carne vermelha, leite e lacticínios, carnes brancas e ovos. As leguminosas, frutos secos e cereais integrais constituem também boas fontes de zinco (8).
Os 582 doentes que participaram neste estudo foram divididos em 3 grupos em função da sua ingestão de zinco se encontrar abaixo, dentro ou acima da ingesta diária recomendada (entre 10-15 mg para os homens e 8-12 mg para as mulheres) (7). De entre os participantes neste estudo, 53.6% apresentaram uma ingestão de zinco abaixo do recomendado tendo sido a média da ingestão de zinco nas mulheres de 8.3±3.2 mg/dia e nos homens de 10.4±4.4 mg/dia.
Ainda no que respeita aos resultados encontrados, os doentes com ingestão de zinco acima do recomendado, apresentaram também maior ingestão calórica e proteica, assim como um índice de massa magra mais elevado. Por outro lado, a ingestão de zinco abaixo do valor recomendado associou-se a maior risco de mortalidade (durante os 12 meses de seguimento do estudo).
Com base nestes dados, foi possível concluir que existe uma prevalência elevada de doentes em tratamento de hemodiálise com uma ingesta insuficiente de zinco, o que se relaciona com piores parâmetros nutricionais e de composição corporal e com maior risco de mortalidade. Assim sendo, nestes doentes, é importante monitorizar a ingestão de zinco e o aconselhamento nutricional deve encorajar o consumo de alimentos ricos neste micronutriente de forma a ser atingida a quantidade diária recomendada.
Cristina Garagarza
Referências
1. Prasad AS. Zinc is an Antioxidant and Anti-Inflammatory Agent: Its Role in Human Health. Front Nutr. 2014;1:14.
2. Gammoh NZ, Rink L. Zinc in Infection and Inflammation. Nutrients. 2017;9(6).
3. Tonelli M, Wiebe N, Hemmelgarn B, Klarenbach S, Field C, Manns B, et al. Trace elements in hemodialysis patients: a systematic review and meta-analysis. BMC Med. 2009;7:25.
4. Bhogade RB SA, JOshi NG. Effect of hemodialysis on serum copper and zinc levels in renal failure patients. Eur J Gen Med. 2013;10:154-7.
5. Guo CH, Wang CL. Effects of zinc supplementation on plasma copper/zinc ratios, oxidative stress, and immunological status in hemodialysis patients. Int J Med Sci. 2013;10(1):79-89.
6. Trumbo P, Yates AA, Schlicker S, Poos M. Dietary reference intakes: vitamin A, vitamin K, arsenic, boron, chromium, copper, iodine, iron, manganese, molybdenum, nickel, silicon, vanadium, and zinc. J Am Diet Assoc. 2001;101(3):294-301.
7. Fouque D, Vennegoor M, ter Wee P, Wanner C, Basci A, Canaud B, et al. EBPG guideline on nutrition. Nephrol Dial Transplant. 2007;22 Suppl 2:ii45-87.
8. Harshman LA, Lee-Son K, Jetton JG. Vitamin and trace element deficiencies in the pediatric dialysis patient. Pediatr Nephrol. 2018;33(7):1133-43.