Como é que o Chat GPT pode ser útil para os nutricionistas? Foi esta a minha primeira pergunta submetida ao Chat GPT. A resposta que obtive satisfez-me, sobretudo pelas suas ressalvas, quer antes da interação, quer no parágrafo final da resposta.
Na sua página inicial, após efetuarmos login, apresenta-nos:
- Exemplos de formulação de mensagens, para nos guiar ("Explique a computação quântica em termos simples"; "Tem alguma ideia criativa para o aniversário de uma criança de 10 anos?"; "Como faço uma solicitação HTTP em Javascript?")
- Capacidades do Chat GPT, concretamente refere que “Lembra o que o usuário disse anteriormente na conversa”, “Permite que o usuário forneça correções de acompanhamento” e que é “Treinado para recusar pedidos inapropriados”
- e Limitações, declarando que “Ocasionalmente pode gerar informações incorretas”, “Ocasionalmente, pode produzir instruções prejudiciais ou conteúdo tendencioso” e que tem “Conhecimento limitado do mundo e eventos após 2021”.
Além disso, terminou a resposta à questão colocada salientando que “É importante observar que o Chat GPT não substitui a consulta personalizada de um nutricionista qualificado.” indicando, ainda, que “Os nutricionistas devem usar o Chat GPT como uma ferramenta complementar, combinando-o com sua experiência profissional e julgamento clínico para fornecer orientações nutricionais individualizadas e precisas aos seus clientes.”.
Estaríamos bem se estas considerações fossem sempre tidas em conta. Tudo seria simples, ético, seguro e proveitoso. Porém, ainda não estamos aí.
Numa pesquisa lata, rapidamente encontramos resultados de interações no Chat GPT relacionados com nutrição, obtidos tanto pelo público em geral, como influencers, profissionais de comunicação ou até profissionais de saúde, incluindo, a título de exemplo, menu de 1200 kcal (sem se questionar se faria sentido este pressuposto), ou plano alimentar para o dia, considerando determinadas características individuais alegando que os nutricionistas não vão querer que se saiba que esta possibilidade existe), também exercícios como este e este de análise crítica dos resultados obtidos pelo Chat GPT (que implicam o indispensável pensamento crítico, a par do conhecimento científico, não acessíveis ao público geral), carta ao editor de periódico científico explorando o potencial do Chat GPT no tratamento personalizado da obesidade, e, até, artigo de revisão em periódico científico com revisão por pares acerca da utilidade do Chat GPT na educação, investigação e práticas em saúde (convidando a reflexões sobre esta matéria).
Perante o atual panorama, no passado dia 16 de maio, a Organização Mundial da Saúde (OMS) apelou por Inteligência Artificial (IA) segura e ética para a saúde. Salientou que “a adoção precipitada de sistemas não testados pode levar a erros por parte dos profissionais de saúde, causar danos aos pacientes, minar a confiança na IA e, assim, minar (ou atrasar) os potenciais benefícios e usos”, designadamente “para melhorar o acesso a informações de saúde, como uma ferramenta de apoio à decisão ou mesmo para aumentar a capacidade de diagnóstico em ambientes com poucos recursos para proteger a saúde das pessoas e reduzir a desigualdade.”. Como nota final, recordou a importância do cumprimento das Orientações da OMS sobre ética e governança de IA para saúde, ao projetar, desenvolver e implementar IA em saúde.
Ao nível da educação, as potencialidades e desafios são também inúmeros. No passado mês de abril, a UNESCO International Institute for Higher Education (UNESCO IESALC), promoveu iniciativas para discutir a integração do Chat GPT e IA no Ensino Superior, incluindo a publicação de um Guia de início rápido. Entre outros aspetos, apresenta uma árvore de decisão que apoia a identificação de situações em que é ou não seguro utilizar o Chat GPT e elenca sugestões concretas para incorporar a utilização do Chat GPT nas instituições de ensino superior e no processo de investigação científica. Em maio, o Ministério de Educação do Chile publicou o Guía para Docentes: Cómo usar ChatGPT para potenciar el aprendizaje activo.
Enquanto nutricionistas, e também enquanto agentes ativos na sua formação, quer seja em experiências de estágio, quer seja enquanto docentes, temos a responsabilidade e o dever de estar a par dos desenvolvimentos, com capacidade de reflexão sobre as implicações práticas e éticas. O caminho só pode ser pela via de integração, tendo sempre em consideração as tais ressalvas, por onde começámos, e recomendações de utilização que têm vindo a ser estabelecidas, de modo transparente e ético. Como pessoas, seremos sempre determinantes no processo criativo e de inovação. Que tiremos o máximo partido do potencial que a ferramenta possa ter nas nossas atividades diárias e que continuemos a exercer, incitar e capacitar para o pensamento crítico, aperfeiçoando as nossa perguntas.
Telma Nogueira