No passado dia 9 de junho, teve lugar no Salão Nobre da Reitoria da Universidade de Lisboa (UL) a apresentação pública do estudo “Saúde e Estilo de Vida dos estudantes Universitários à Entrada da Universidade”, do projeto HOUSE, promovido e delineado pelo Colégio F3.
O estudo tinha como principal objetivo conhecer e estudar o perfil de saúde e estilo de vida dos estudantes do 1º ano da Universidade de Lisboa. Para tal, contou com a participação de 1143 alunos do 1º ano das 17 unidades orgânicas da UL com formação de 1ºciclo. A recolha de dados foi realizada no período de março e abril de 2021, altura que coincidiu com o 2º confinamento geral devido à pandemia COVID-19.
A amostra era maioritariamente do sexo feminino e quase na sua totalidade de nacionalidade portuguesa. As idades estavam compreendidas entre 17 e 65 anos (19,61 ± 3,96 anos).
O Laboratório de Nutrição da FMUL foi um parceiro ativo do planeamento, implementação e avaliação deste estudo, sendo responsável pela análise dos dados referentes ao estado nutricional, e caracterização alimentar e nutricional.
Relativamente ao domínio da saúde e alimentação, foi avaliado o Índice de Massa Corporal (IMC) com base em dados de peso e altura autorreportados, tendo sido identificado um IMC médio de 22,01 kg/m2, correspondendo a um indicador médio “normoponderal”. Todavia, quando questionados sobre a sua perceção corporal, quase 40% referiu ter, pelo menos, algum peso a mais e cerca de 43% considerou ter um peso ideal.
Em média, os estudantes inquiridos, consomem entre 4 a 6 refeições diárias, sendo o almoço e o jantar as refeições mais consumidas e o meio da manhã e ceia as menos consumidas. Diariamente mais de metade dos estudantes tomam o pequeno-almoço, porém mais de 6% referiu nunca almoçar e apenas 36% dos estudantes reportou consumo de fruta ao almoço.
Em relação ao Padrão Alimentar Mediterrânico, somente 10,5% apresentaram boa adesão à Dieta Mediterrânica. 88,8% reportou utilizar o azeite como principal fonte de gordura para cozinhar, no entanto apenas 6,7% utilizava 4 ou mais colheres de sopa de azeite. De salientar que 55,8% tende a comer 2 ou mais porções de hortícolas diariamente, estando de acordo com as recomendações da Dieta Mediterrânica, o que não se verifica para o consumo de fruta.
Quando avaliada a literacia nutricional com base em análise de rotulo nutricional, 83,3% dos estudantes apresentaram uma literacia nutricional adequada, o que diverge do que se verificou nas questões relacionadas à “prática”, traduzindo-se numa manifesta preocupação na relação entre o conhecimento teórico e a prática. A maioria dos estudantes não sabe quando é que deve incluir ovos na sua alimentação, não identifica o veganismo como uma forma de vegetarianismo e desconhece quando é que se deve adotar uma dieta livre de leite.
No que respeita à prática de atividade física, verificou-se que 43,6% reportou praticar atividade física 1-3x/semana. No entanto, mais de um quarto dos estudantes não pratica qualquer tipo de atividade física.
No que diz respeito às horas de sono durante a semana e durante o fim de semana, 59,3% dos jovens dorme menos de 8 horas durante a semana. Padrão que reverte durante o fim de semana, em que 54,6% dos jovens dorme mais de 8 horas.
Relativamente à saúde e bem-estar, mais de metade dos jovens referiu ter sintomas físicos (dor de cabeça, de estômago, de costas e pescoço/ombros) pelo menos uma vez por mês.
Em relação aos problemas de saúde, 81,7% dos jovens não tem nenhuma doença prolongada que tenha sido diagnosticada por um médico e dos que têm uma doença prolongada, 51,7% não necessita de tomar medicação, 81,2% não necessita de um equipamento especial e em 67,8% a doença foi diagnosticada até ao 3º ciclo do ensino básico.
Quando questionados sobre a frequência com que recorrem a determinados profissionais de saúde, os mais frequentados são o dentista (50,7%) e o médico de família quando estão doentes (46,6%). Por outro lado, a maioria dos jovens refere que nunca/raramente vão ao nutricionista (88,9%).
Relativamente aos problemas que podem aparecer com a COVID-19, grande parte dos jovens referiu uso excessivo de ecrã (89,9%), comportamento sedentário (87,6%), ansiedade (84,5%), preocupações (76%), depressão (74,8%), perturbações na qualidade do sono (69,4%), conflitos familiares (61,8%), má nutrição (58,4%), perturbações na quantidade do sono (57,4%). Para enfrentar os problemas referidos anteriormente, os jovens consideraram que as ligações familiares, ter menos fadiga e ter mais tempo pode ajudar. A maioria dos jovens referiu ter sido difícil ou muito difícil manter a rotina para o convívio social (66,3%), o trabalho (51,4%) e o lazer (43,4%). Em contrapartida, mais de um terço dos jovens referiu ter sido fácil ou muito fácil manter a rotina para o convívio familiar (37,1%).
Na satisfação com a vida, as respostas variaram entre o valor 1 e 10, sendo que se obteve uma média de 6,6. Nos sintomas psicológicos, mais de metade dos jovens refere sentir-se triste/deprimido, irritado e nervoso pelo menos uma vez por mês, 45,5% refere sentir medo pelo menos 1 vez por mês, 20,4% nervoso quase todos os dias e 12,9% sente-se triste diariamente.
Muitos outros comportamentos e preocupações foram estudados neste estudo e podem ser consultados no seu relatório que está disponível através deste link.
Este estudo permitiu desenvolver, pela primeira vez, uma caracterização pormenorizada dos estudantes que ingressam na UL, no que ao seu estado de saúde global e estilo de vida diz respeito, num momento tão preocupante como foi aquele criado pelo impacto pandémico da Covid-19 na sociedade em geral. Espera-se que desta forma que se consiga contribuir para o delineamento de estratégias de saúde prioritárias dirigidas aos estudantes da UL, permitindo ao mesmo tempo a continuidade deste estudo transversal, podendo criar um observatório de saúde dos estudantes da UL, replicando este estudo ao longo dos anos.
Joana Sousa