Numa primeira análise, esta pergunta pode parecer ingénua, mas de acordo com Prof. Joaquim Ferreira, “No final de uma consulta, uma palmadinha nas costas pode ser um reforço positivo” no tratamento de uma doença.
Na última FMUL Talk, na Sala Paul Janssen da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, foi discutido o efeito que um simples “ato de simpatia” pode ter na prática clínica. Para os mais distraídos, o resultado de uma palmadinha nas costas pode consistir no tão controverso efeito Placebo.
Placebo, termo proveniente do latim, que significa “agradarei” e com aplicação quer em contexto de investigação, quer em contexto clínico. Trata-se de uma intervenção inerte, que se pode refletir na administração de uma substância, num gesto, numa atitude, sem efeitos farmacológicos (do ponto de vista de interferência na patogénese de uma doença), mas que resulta num benefício.
No decorrer da Talk, Joaquim Ferreira, Médico Neurologista e Professor da FMUL, demonstra-nos, através de uma panóplia de estudos de investigação na área da Doença de Parkinson, que o efeito Placebo resulta de N fatores (físicos, sociológicos, ambientais, verbais, entre outos), que influenciam a magnitude do seu efeito. Se idealizarmos o Placebo como um tratamento, tudo conta, desde a cor da pílula, o formato de administração, passando por palavras de apoio trocadas com um médico, até ao local onde a intervenção ocorre.
O efeito Placebo enquanto Ato de Simpatia
Regressarmos aos “primórdios” da Medicina, neste contexto, não parece ser uma má opção. Antes dos tratamentos farmacológicos, muitas vezes, o médico tinha apenas como opção, oferecer palavras de força e motivação ao seu doente. Hoje em dia, não obstante o desenvolvimento das ciências farmacológicas, a relação médico-doente pode contribuir, e em muito, para induzir um benefício no bem-estar do doente. Segundo o Prof. Joaquim Ferreira, este mistério é explicado pelo processo Neurobiológico de libertação dos Neurotransmissores patogénicos das doenças que conduz a esta melhoria. Confuso? – Não tem porquê! Com base no estudo Placebo administration is associated with dopamine realese, a administração de placebo promove a libertação de dopamina; “a molécula da motivação” no cérebro. Nestes casos, o efeito Placebo está no mesmo nível que a levodopa, medicamento standard, utilizado para o tratamento da Doença do Parkinson.
Placebo e as suas formas de administração
O efeito Placebo não se limita aos medicamentos orais. Existe uma outra modalidade, designada por “Sham”, a falsa intervenção. Falamos de falsas cirurgias “Sham Cirurgies”, em que os doentes são levados para os blocos operatórios, anestesiados e é-lhes feito o buraco de Trepan – ferida cirúrgica no crânio. De seguida, tapa-se a ferida e os doentes são acordados. Por vezes, conta-nos o Prof. Joaquim Ferreira, os doentes de Chicago são operados em Nova Iorque e vice-versa com o objetivo de impedir que os médicos, que os seguem, tenham contato com a equipa cirúrgica. Porém, do ponto de vista ético, esta é a prática que levanta mais questões às Comissões de Ética. Contudo, “Se não tivesse havido investigadores a desenvolver ensaios clínicos desta forma, nem Comissões de Ética a autorizar a condução destes ensaios não teríamos chegado a este nível de conhecimento”, afirma o Prof. Joaquim Ferreira. Em contexto clínico, quando se recorre à administração oral, é necessário avaliar-se a tipologia da doença, o modo de administração, a dose e a forma de funcionamento. “Temos de olhar para o Placebo como um medicamento que tem um efeito, uma duração de ação”. – Assegura o Professor.
Muito haveria ainda para se dizer sobre o efeito Placebo e a sua magnitude em várias componentes. No entanto, o Prof. Joaquim Ferreira selecionou apenas alguns aspetos, tais como, o facto de haver efeito Placebo em modelo animal, apesar da diferença das circunstâncias. O aspeto do custo, no âmbito do estudo Placebo effect of medication cost in Parkinson disease, sobre o qual o Prof. Joaquim Ferreira adianta que “Eu diria que é uma curiosidade, mas que denota o quanto importante é estudarmos todos estes fatores que acabam por modelar a nossa expetativa quando ao efeito Placebo”. E ainda, a prescrição de Placebo, em receitas médicas, que merece ser equacionado, de acordo com a opinião do Professor.
Desta vez, a Sala Paul Janssen recebeu um tema que é transversal a muitas doenças, pois apesar da magnitude do efeito variar, é universal, e tem efeitos em muitas delas, quer falemos de doenças degenerativas, oncológicas, imunológicas ou outras. Mas, recordamos que esta é uma sala disponível para abraçar qualquer tipo de discussão de interesse público, clínico e de investigação.
Aguardamos pela sua sugestão e venha falar connosco!
Isabel Varela
Equipa Editorial