Com o objetivo de comunicar e abrir as portas à comunidade científica externa da Faculdade, como forma de promover e afirmar o que de melhor se faz nesta escola com a criação da Licenciatura em Ciências da Nutrição (LCN), nasceu o Ciclo de Conferências “Nutrição na Academia” pela mão das Professoras Catarina Sousa Guerreiro e Joana Sousa. “Foi pensado para criar uma cultura nutricional dentro da nossa instituição, daí o nome. Contudo, pretendemos também abrir as portas da academia para o exterior e criar um espaço de discussão e de reflexão de ideias, que girem em volta das ciências da nutrição”, afirmou a Joana Sousa.
Cada ciclo terá um tema a discutir. O primeiro, após profunda reflexão da organização sobre qual seria o mais adequado para “pontapé de saída”, foi a ciência da nutrição e a nutrição baseada na evidência porque, “o tema de lançamento deveria ser transversal às várias áreas de atuação do nutricionista. É neste âmbito, que se propôs um tema suficientemente abrangente, mas ao mesmo tempo, cientificamente sólido para dar o mote ao início desta divulgação exterior à comunidade científica da área da nutrição. Foi uma escolha totalmente consensual. Só poderia ser este tema. Quisemos discutir a importância de reconhecer e valorizar a ciência válida, em detrimento de fenómenos voláteis, que, tantas vezes estão associados à nutrição.”
“Evidence-based nutrition: da prevenção ao tratamento” foi o primeiro tema desta sessão moderado pela Bastonária da Ordem dos Nutricionistas, Doutora Alexandra Bento, apresentado pelo Professor António Vaz Carneiro. Foi referida a complexidade das ciências da nutrição em que os estudos clínicos baseados na evidência apresentam dificuldades particulares. “Conhecer, identificar e ter análise crítica deste domínio na área da nutrição torna-se fundamental para melhor crescer e desenvolver a produção de conhecimento científico e práticas mais eficazes. As ciências da nutrição gozam, atualmente, de um estatuto de algo altamente interessante para o consumidor, mas muitas vezes veiculado de forma pouco credível e muito mediático,” esclarece Joana Sousa.
Porque, investigar sobre nutrição é uma tarefa muito complexa, em que a maioria dos estudos apresentam vieses, resultantes do facto de se estar a estudar alimentos/padrões alimentares e não substâncias únicas, como acontece com os medicamentos, daí não se poder entender a nutrição baseada em evidência científica como clínica baseada em evidência científica. “Por esses e outros motivos, por vezes, torna-se difícil criar bases sólidas que suportem algumas recomendações nutricionais, existindo por isso um “gap” entre aquilo que é a evidência científica e a crença do profissional. Repensar as Ciências da Nutrição, é consequência disto”, diz-nos Joana Sousa.
Na opinião da Professora, “a prática baseada na evidência deve ser a prioridade de qualquer profissional de saúde. Sendo o nutricionista um “profissional de saúde que dirige a sua ação para a salvaguarda da saúde humana através da promoção da saúde, prevenção e tratamento da doença pela avaliação, diagnóstico, prescrição e intervenção alimentar e nutricional a pessoas, grupos, organizações e comunidades, bem como o planeamento, implementação e gestão da comunicação, segurança e sustentabilidade alimentar, através de uma prática profissional cientificamente comprovada e em constante aperfeiçoamento. Incorpora ainda as atividades técnico-científicas de ensino, formação, educação e organização para a promoção da saúde e prevenção da doença através da alimentação”, é fundamental que se encontre em constante atualização técnica e científica, suportado pelos maiores níveis de evidência científica, conhecendo, analisando, criticando e adaptando as orientações de acordo com as limitações inerentes ao conhecimento científico na área da nutrição. É importante que reconheçam onde existe a boa e a má investigação, onde existe ou não evidência sobre determinado tema, e tendo essa refleção feita, optar por uma conduta que traduza o conhecimento existente. Discutiu-se muito a credibilidade científica do nutricionista, e a importância de transpor para o nosso cliente/doente recomendações corretas e cientificamente válidas.”
Com uma Aula Magna cheia de alunos, profissionais de saúde e docentes, esta foi a primeira Conferência que terá repetição já no início do próximo ano, com outra temática que irá afirmar, mais uma vez, a Nutrição, como área tão relevante da nossa escola médica.
Ana Raquel Moreira
Equipa Editorial