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Progress Testing – O novo método de avaliação que pode pôr cada aluno à prova
É já sabido por todos que, depois de terminarem a formação pré-graduada, os alunos de Medicina candidatam-se à formação especializada. Para tal têm de prestar provas. Mas o formato dessa prova mudou.
Do célebre e temido teste Harrison, o exame tinha como bibliografia um só livro, que recebeu precisamente o nome do cardiologista Tinsley Harrison. Agora, na prova nacional de seriação de acesso à especialidade, as perguntas passam a assumir um contexto diferente, com uma abordagem mais próxima da clínica.
Mas há mais diferenças, das antigas 100 perguntas baseadas num só livro e com um tempo de prova de 150 minutos, a partir deste ano as perguntas aumentam para 150, proporcionalmente aumentando também a duração da prova.
Sempre atento ao que se passa no país e como Presidente do Conselho Pedagógico (CP) e em trabalho de consonância com o Departamento de Educação Médica (DEM) da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, o Professor Joaquim Ferreira entendeu que era tempo de reagir e preparar os alunos de Medicina para o embate real. Surgiu assim a ideia do Progress Testing. Um projeto que apesar do próprio reforçar que não é ideia sua original, é por ele incentivado, iniciando assim o seu processo de implementação.
"Esta nova forma de avaliar coloca um desafio a todas as Universidades. O nosso objetivo principal é formar médicos competentes, mas não podemos desvalorizar todos os outros fatores que podem condicionar o futuro dos nossos alunos. Julgamos também que este exame estimula um pensamento clínico e permite que o corpo docente valorize mais as metodologias de avaliação".
Mas do que falamos quando falamos do Progress Testing?
Baseia-se num conceito já existente em que os alunos de vários anos, mas dentro do mesmo programa curricular, são sujeitos a um mesmo teste. É apenas um processo informativo para a Escola e para os alunos através de uma autoavaliação.
E como refere, “o carácter formativo do Progress Testing não é menos importante pois permite analisar os seus próprios conhecimentos”. Joaquim Ferreira acrescenta, “os alunos poderão ainda ir exercitando a sua gestão de stress, estando psicologicamente mais preparados para o dia real do Exame de Admissão à Formação Especializada”.
No final de 2018 foi feito um teste piloto com esta fórmula de exame, mas o exame efetivo ocorre este ano em meados de outubro / novembro.
Os primeiros alunos do 6º ano de Medicina serão os primeiros a serem sujeitos a este novo exame.
Em vez de perguntas clássicas de memorização, agora é apresentado um caso clínico, descrito numa linguagem acessível e feita uma pergunta curta, apresentando várias opções de resposta, "todas elas devem ser plausíveis, mas uma claramente deve ser melhor do que as outras", acrescenta o Professor.
A decisão de implementar o Progress Testing na FMUL foi tomada há cerca de um mês e terá aplicabilidade já a 27 de abril. “O que decidimos foi avançar com este modelo que vai ser facultativo, vamos convidar todos os alunos do 1º ao 6º ano. Sabemos que a pergunta clássica é se um aluno do 1º ano saberá responder a um caso clínico quando ainda está numa fase inicial da sua formação. A resposta é, sim! Nós ainda não estamos preocupados com o conhecimento adquirido. Preocupa-nos mais formá-los e expô-los a um cenário que vai ser semelhante aquele com que se vão confrontar. O nível de dificuldade é igual para todos”, explica o Professor, “sendo as perguntas de cultura geral médica no fim de um período de formação pré-graduada".
Como será a estrutura do Progress Testing
1/3 das perguntas serão de índole pré-clínica, ou seja ligadas às Ciências básicas e 2 / 3 de índole clínica, com casos clínicos. "Pedi aos Professores das Ciências básicas que as perguntas tenham aplicabilidade clínica, ou seja, se falamos de genes é importante que a pergunta incida sobre o que tem o médico que saber sobre genes nas suas decisões clínicas".
Serão os vários Docentes da FMUL, das várias áreas disciplinares, que vão elaborar as perguntas, avançando também eles pela primeira vez neste novo projeto.
O Progress Testing pretende ser anual e realizar-se-á no final de cada ano letivo, mas antes do período em que os alunos recolhem para exames. "Não pode ser mesmo no final, final, porque aí os alunos precisam de se isolar para estudar e afastam-se mesmo fisicamente da Faculdade e daí a data de 27 de abril, intencionalmente, a um sábado para não haver sobreposição com outras atividades curriculares".
Depois de fazer o exame, cada aluno receberá individualmente a sua nota, saberá ainda qual o seu posicionamento dentro do seu ano, bem como fica colocado em relação ao número total de alunos que fizeram o exame. No entanto, os outros nomes não serão expostos, será confidencial.
Tenho já reunido com as várias comissões de curso e com os Discentes do CP da Faculdade, Joaquim Ferreira não sabe antever o grau de adesão dos alunos, mostrando-se curioso. "Nas reuniões quis ouvi-los e pedi opiniões, não diria que foram entusiásticos, mas deram um apoio comedido, porque estão na fase da digestão da ideia".
Se todos os alunos aderirem a este desafio o exame será feito a 2500 alunos, desafio que também é logístico, para os próprios Docentes. "Pode ser muito importante como desafio para toda a comunidade académica, sejam Docentes ou Discentes. Para os Discentes no sentido da auto formação, para a Faculdade como elemento informativo adicional para podermos tomar decisões válidas. E, para o corpo Docente e para quem rege as várias unidades curriculares também podem ganhar algum treino adicional num formato de avaliação a que os nossos alunos vão ser sujeitos, cada vez mais. É importante não descurar que este é um treino dos nossos alunos para o raciocínio clínico, não tendo nós um programa curricular, exclusivamente centrado na abordagem de casos clínicos, é também um sinal do CP e da própria Escola para a valorização dessa peça educacional".
Quase 40 anos depois o Harrison é assim destronado, esperemos que a todos, mas em particular aos alunos traga melhores notícias e aquilo que mais se pretende, grandes resultados.
Joana Sousa
Equipa Editorial