Mais e Melhor
Medicamento português melhora os sintomas da doença de Parkinson, sob a coordenação de Joaquim Ferreira
Um fármaco 100% português foi criado pela Bial e já está no mercado. O objetivo é melhorar os sintomas da doença de Parkinson.
Joaquim Ferreira, Professor da Faculdade de Medicina, Neurologista e Farmacologista Clínico desempenhou um papel relevante na coordenação dos ensaios clínicos que conduziram ao desenvolvimento deste fármaco.
Dentro do grupo das doenças do Movimento, a doença de Parkinson identifica-se pelo tremor (sinal clínico que mais frequentemente leva as pessoas ao médico) e lentificação dos movimentos, consequência de uma disfunção do sistema nervoso central. Num estado mais grave pode causar uma importante limitação na mobilidade do doente.
Sabendo que há um medicamento que pode melhorar estes sintomas é já por si uma excelente notícia, mas se por acréscimo esse medicamento tiver intervenção de um Professor da Faculdade, tanto mais orgulho isso nos causa.
Fomos falar com o Professor Joaquim Ferreira e entender o que significa atenuar estes efeitos da doença.
“O problema do tratamento da doença de Parkinson é que nós não temos ainda nenhum medicamento que pare a progressão da doença, ou que a faça desaparecer. O que se passa com esta doença é que, ao fim de algum tempo, os doentes alternam períodos em que estão bloqueados, não se mexem e estão sentados numa cadeira sem se levantar e não conseguem andar. Acontece que depois de tomarem o medicamento – LEVODOPA – estão ágeis e ficam quase normais. A este comportamento chama-se ter flutuações motoras, ou estão off (desligados, não andam), ou estão on (mexem-se e caminham). Neste momento ainda estamos muito limitados em diminuir o tempo em que os doentes estão off. O que este medicamento faz é prolongar a duração do on, ou seja, prolongar o tempo em que eles estão bem durante o dia. Os doentes que participaram neste ensaio tinham por dia cerca de 6 a 7 horas de off e com o medicamento conseguiu-se globalmente obter uma redução em cerca de duas horas, passando assim de seis para quatro, ou de quatro para duas e é esse o ganho, os doentes estão mais tempo ativos”.
Único laboratório português a desenvolver novos fármacos, a Bial tem um programa de desenvolvimento de medicamentos, colaborando com pessoas da Faculdade de Medicina para áreas científicas que enriquecem o conhecimento e a experiência da farmacêutica. “Este é o modelo de relacionamento certo entre a universidade e a indústria farmacêutica e é o modelo ideal, acontece aqui em Portugal, em Israel e em poucos países mais. É raro a indústria farmacêutica estar aberta a estas colaborações com a Academia”.
A Bial colabora também com o Laboratório de Farmacologia da Universidade do Porto o que significa que há uma verdadeira parceria entre indústria e departamentos académicos.
“Sem a Bial não teríamos a oportunidade de participar tão ativamente no desenvolvimento de um novo medicamento. Por outro lado, abrimos à Bial as portas dos investigadores e centros clínicos e de investigação líderes na área da Doença de Parkinson em todo o mundo”.
Como é que se sente quando faz parte de um grupo que descobre e aplica um medicamento que traz condições mais dignas às pessoas?
Joaquim Ferreira: É muito bom.
Eu conheço investigadores e clínicos notáveis que passaram toda uma vida à procura de contribuir com um novo tratamento que faça a diferença na vida dos doentes.
Mas dito isto é importante reforçar que o medicamento não foi desenvolvido por mim, mas pela equipa da Bial que tem investigadores de grande qualidade, coordenadas pelo Prof. Patrício Soares da Silva que fez um trabalho notável, não apenas com este medicamento mas com outros. O nosso papel foi apenas ajudar a desenhar os ensaios que contribuíram para gerar os dados necessários para que o medicamento tivesse chegado a esta fase. Mas o meu papel foi colaborar com a Bial numa doença e comunidade científica que conheço bem. Tudo isto nos dá uma enorme satisfação”.
O medicamento só foi lançado agora em Portugal, mas aprovado há dois anos, estando já comercializado noutros países. Em jeito de remate e como referiu o Professor Joaquim Ferreira, este medicamento e os laços criados entre entidades vieram “terminar com as fronteiras”.
Quem sabe um dia se consiga atenuar tão drasticamente a doença que ela seja curada, como um antibiótico trata uma infeção.
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No dia 5 de setembro a Rádio e Televisão de Portugal publicou uma reportagem sobre este medicamento. Poderá rever esta reportagem aqui (créditos de imagem RTP).
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Joana Sousa
Equipa Editorial