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30 anos depois da partida de José Pinto Correia
Consensualmente aclamado como um dos maiores vultos da Gastroenterologia nacional e internacional, deixou pegadas demasiado marcadas para que o tempo o consiga apagar.
Nascido na sua tão querida terra natal de Tremês, em Santarém, no dia 22 de abril de 1931, José Pinto Correia nunca negaria as suas origens, nem as suas gentes, voltando sempre ao seu lugar quando queria recato e silêncio.
Aluno brilhante da Faculdade de Medicina de Lisboa, os 19 valores de nota final de curso só seriam suplantados pelos 20 que consagrariam a sua dissertação de licenciatura. Ainda nos tempos de estudante faria um marcado percurso na Juventude Universitária Católica, mas o tempo e o seu amadurecimento intelectual fizeram com que se fosse afastando de alguns ideais mais conservadores.
Gigante de espírito para caber num só país, foi para Inglaterra, onde se deparou com um sistema de saúde mais maduro e estruturado e trabalhou com grandes nomes da Gastroenterologia. Ainda em Londres fez uma formação em Cardiologia, mas seria a Gastro que o arrebataria, discípulo de Frederico Madeira foi sob a sua orientação que decidiu que esse era o seu caminho. Foi também sob a sua direção que regressou ao Hospital de Santa Maria.
O sentido de mundo levou-o a conviver com as maiores referências clínicas e científicas da Gastroenterologia, Estados Unidos, Alemanha, França, Holanda e Espanha foram algumas das suas montras de modernidade.
Na mesma proporção que trazia novas ideias sobre a forma como o médico se deveria relacionar com o doente, dizendo, aliás, que “o doente devia estar sempre em primeiro lugar e acima de tudo”, tentou importar algumas das bases fundamentais de um bom Serviço Nacional de Saúde. Porém as causas sociais e cívicas do país também não lhe escapavam nem passavam para segundo plano. Proporcionalmente focado no espaço universitário, criou estratégias de alargar fronteiras na Universidade, abrindo novas relações institucionais com os centros de saúde. Debateu-se igualmente pela saudável coabitação entre Faculdade e Hospital de Santa Maria, afirmando que não podia ser uma relação de primos distantes, defendeu aguerridamente um centro de formação médica universitário que na altura não tinha ainda forma nem alma.
“Líder natural”, escreveu o Professor David Ferreira em 2001, “imprimia às atividades em que se envolvia uma dinâmica difícil de acompanhar. Era frontal nas suas críticas e na defesa das suas posições, cuja discussão e crítica, contudo aceitava”. Essa mesma liderança levou-o a completar uma primeira Presidência do Conselho Científico da sua Faculdade de sempre, a Faculdade de Medicina de Lisboa, mas o carisma acaba por trair quem brilhantemente o tem. Apesar de lhe terem prometido apoios e votos incontestáveis para um segundo mandato, percebeu que não contava com alguns que se diziam seus amigos, porque esses votos de apoio nunca chegariam. Perdeu a segunda eleição, perdeu alguma fé nas amizades, mas aprendeu a lição, conta David Ferreira. Por justiça, ou por liderança nata, teria por direito o que deveria ser seu e é convidado pelo Reitor Virgílio Meira Soares para Vice-Reitor da Universidade de Lisboa e por aí ficou.
Passaram-se 30 anos da sua morte. Uma morte que o assaltou de repente, com um cancro que lhe galgou o tempo e o espaço físico, fazendo que o seu papel de Vice-Reitor fosse exercido por pouco tempo e entre tratamentos e luta para ficar na vida.
Partiu a 14 de setembro de 1988.
Das muitas frases marcantes que estão gravadas em papel e que lhe pertenciam mostrou que acreditava no sentido justo da vida e que “a vida encarregar-se-ia de mostrar quem tem razão, sem ninguém precisar de se pôr em bicos de pés”, mas outra foi a mais marcante de todas e que ainda hoje ninguém encontra resposta. O homem que estudou a Ciência para salvar os outros, o médico perfecionista que recebia todos quanto o procuravam no seu consultório privado e que ia a Tremês cuidar dos seus, foi “traído pelas costas como César”.
Numa homenagem que se realizou dia 14 de setembro onde as filhas, netos, amigos, colegas e outros curiosos se reuniram para matar as saudades do Professor e médico José Pinto Correia, pedimos às filhas que nos contassem das memórias do pai. As filhas Clara e Margarida Pinto Correia aceitaram a exposição dos afetos e da saudade e escreveram. As filhas Rosário e Teresa Pinto Correia pediram para guardar a saudade com elas e de alguma forma, assim, também nos falaram do seu pai.
José Manuel Duarte Pinto Correia.
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Joana Sousa
Equipa Editorial