Reportagem / Perfil
Ana G. Almeida – Uma cardiologista que toca a perfeição
Entrou para a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa tinha apenas 16 anos, apesar de completar nesse ano os 17, foi seguramente das alunas mais novas a entrar até hoje.
Defende que a idade precoce traz ainda poucas convicções do que se quer ser, mas como era aluna de 20 valores a Física e Matemática, dos tempos do secundário, sabia que não seria difícil optar pelo curso mais trabalhoso.
Talvez tenha sido a primeira vez que a Cardiologista Ana G. Almeida partiu o coração a alguém, o mesmo que dizer que foi à sua Professora de Matemática que até aos pais apelou que a convencessem a seguir o mundo dos números, já que a sua cabeça era talhada na perfeição para aquele raciocínio. Mas os pais respeitavam os seus passos, já que mostrava nunca errar, e apoiaram qualquer que fosse a decisão.
Teve aulas de piano no Conservatório, saiu aos quinze anos, ainda assim aprendeu a arte da música durante cinco. Em casa tem um piano de cauda onde toca “pequenas peças” e quando dá por isso já passaram três horas. A música podia ter sido outra das suas alternativas profissionais, “se nasci com algum dom foi na parte musical”. Mas nem a aptidão tão elogiada pelos professores lhe deu alguma vez perspetiva de futuro.
Medicina era uma área muito completa e integrativa, se bem que tinha o lado da sua familiar ciência, aquilo que a movia era a vertente humana e a perspetiva de poder mudar a vida dos outros. Talvez porque a excelência exija sempre um somatório de parcelas sabiamente conjugadas, também sabia que tinha de fazer investigação, porque um bom médico não o é sem investigar e um investigador não se completa se não for também ele médico. Sonhou voar até outro país para se formar, mas acabou por ficar, porque os tempos eram outros, e porque acreditava que ela própria deveria investir no seu país.
Enquanto aluna diz que teve os seus ídolos professores, mas na tentativa de conseguirmos antecipar que nos falaria de alguém da Cardiologia, explica que foi a Psiquiatria uma das áreas que lhe fez palpitar o coração. “O Professor Bracinha Vieira foi Assistente na minha altura e nós íamos atrás dele para todo o lado, porque ele era fascinante, não era só um Psiquiatra, era um conhecedor incrível de Antropologia e Filosofia e podíamos discutir com ele essas e muitas outras matérias; já depois de a disciplina acabar íamos com ele fazer consultas. Naquela altura, e devido à nossa idade, colocávamo-nos todas as questões existenciais e ele estimulava-nos imenso na discussão”. Também o Professor David Ferreira na Histologia marcou o seu percurso.
Apesar de ir traçando objetivos, eram os acasos da vida que a empurrariam para a Cardiologia. Aluna de excelência, tinha quase sempre notas elevadas nas ciências básicas, apesar de olhar com admiração para a vertente clínica, nunca pensara na Cardiologia, era o trabalho no laboratório e a investigação que parecia ser a sua razão de vida. Conhecera os Professores Fernando Pádua e José Pereira Miguel, na altura responsável pelo Núcleo de Cardiologia Preventiva e pessoa que descreve como “entusiasmante” e acabou por participar, já aluna do 4º ano, em diversas atividades de rastreio com ele. Foi no fim do internato geral e quando se preparava para fazer o exame de especialidade que passou por um interregno de uns meses de espera até fazer exame e foi nessa altura que ficou colocada, e sem escolha, no Serviço de Cardiologia. “Nessa altura quando recebi a notícia desta minha colocação detestei, fiquei frustradíssima e ainda tentei falar com o Professor Pádua para mudar, mas sem sucesso, era a única interna que tinha ficado ali”. Mas foi no insucesso do seu desejo que conheceu o “seu mundo novo que tanto a arrebatou”. Era assim que o acaso lhe passava a fazer sentido, passado o primeiro mês de negação. Hoje em dia Coordenadora da Unidade das Técnicas de Cardiologia de Santa Maria, área para a qual pensava que “não tinha grande jeito”, foi precisamente aí que ficou a trabalhar. É também a responsável da Imagiologia Cardiovascular do mesmo hospital no contexto da Unidade e Secretária Científica do Centro Cardiovascular da Universidade de Lisboa (CCUL).
Ecocardiografias, cateterismos cardíacos, foram exames em que iniciou a aprendizagem ainda como interna, tinha ainda acesso às intervenções cardíacas e percebia que quanto mais sabia, mais queria estudar. Fez o exame de especialidade em que teve a quarta melhor nota e isso fez com que escolhesse Cardiologia no Hospital de Santa Maria.
Foi logo que terminou a sua especialidade de cinco anos que surgiu o convite do Professor Pereira Miguel para desenvolver uma outra Técnica de Cardiologia. Na altura Pereira Miguel era Diretor de um outro hospital de Lisboa e convidou Ana G. Almeida a desenvolver técnicas dentro de uma nova área, a Ressonância Magnética. Precisava de se especializar mais nesta matéria e foi até Dallas, nos EUA, onde ficou meses a estagiar. Seguiu depois para Londres, onde fez formação durante seis meses. Londres recebeu várias vezes os seus regressos.
Do começo de um percurso que rejeitou e que não planeava, passou a ser a primeira pessoa de Cardiologia em Portugal a fazer Ressonância Magnética Cardíaca. Passaram-se apenas vinte e dois anos desde que nasceram as Ressonâncias em Portugal.
Atualmente pertence à Sociedade Europeia de Cardiologia onde, em dupla com outro colega, é responsável por certificar médicos que praticam Ressonância Magnética Cardíaca. Reúne regularmente em Londres para acompanhar a evolução e preparar o processo de certificação das mesmas.
Adora ler e saber de História, não é por acaso que também leciona História da Medicina, na Faculdade, onde é Professora Associada com Agregação de Cardiologia. Começou por dar Anatomia enquanto aluna do 2º ano do curso, passou para a Histologia, desde aí nunca deixou de lecionar, dá ainda várias formações pós-graduadas. Tem alunos de Doutoramento e Mestrado, mais dois ou três com projetos de investigação em cada ano, mas nunca mais que isso, entende que para se acompanhar bem alguém, não se pode ter muitos ao mesmo tempo. A eles fica sempre ligada de alguma maneira e mantém contacto com os alunos estrangeiros, até pelos projetos internacionais em que participa.
Se tivesse de tocar sozinha uma composição para descrever quem é, tocaria uma sonata de Mozart, mas no que respeita a habitar as paixões do seu coração divide-as também com Beethoven e Wagner. “Mozart exige uma perfeição absoluta, não é nada fácil tocá-lo”, mas o facto é que sabemos que o toca como se fizesse do hobby a sua profissão.
As manhãs são sempre agitadas entre doentes que aguardam a sua vez e pequenos grupos de alunos que se juntam para fazer estágios no âmbito do curso. Acabaram de entrar mais 22, do 3º ano, curiosos na área da Cardiologia e é este o primeiro contacto que têm com os doentes.
Aquele momento para eles é magia. Ana G Almeida sabe-o e sabe que a vida de um médico é muito exigente física e psicologicamente, é um desafio às próprias emoções que só se superam porque há paixão em tudo o que se faz. Tenta passar estas emoções aos seus novos seguidores, diz, aliás, “que a paixão tem um efeito muito integrativo, porque se lida com o ser humano na totalidade e sabe que lhe pode fazer bem e tirar-lhe sofrimento, isso é algo que lhe é altamente compensador”.
Recordando de novo os seus tempos de aluna, explica que uma das grandes diferenças entre o passado e o agora é que não havia o acesso aos professores nem aos doentes como hoje. No caminho colocam-se, no entanto, obstáculos sobretudo burocráticos que por vezes dificultam a interacção dos médicos e doentes, devido ao grau de exigência de tudo o que envolve o seu tratamento, as questões informáticas que são complexas e todas as questões de organização, são exemplos disso.
Por voto de confiança do seu amigo pessoal e Diretor da Faculdade, Professor Fausto Pinto, é a responsável pela organização da distribuição de alunos do 3º ano e uma vez que está a dar a disciplina de Introdução à Clínica, que inclui cinco semanas de estágio, sabe que terá os seus alunos focados a 100%. Isso implica que se aplique com eles na mesma proporção.
Enquanto esperava pela Professora, vi um grupo de alunos ansiosos à sua espera, cheios de vontade de começar o dia. Nem parece que estão num hospital rodeados de doentes. Mas é isto que os move e que a moveu.
Ana Almeida: Eles adoram estar aqui, é um terreno fértil em que se forem estimulados, dão tudo. Para nós médicos o acompanhamento também não é simples porque temos o atendimento e tratamento dos doentes e é difícil orientar estes grupos de jovens sedentos de aprender, fazer todas as perguntas e aplicar as técnicas. É no 3º ano que começam a fazer as histórias clínicas, é uma fase muito interessante para eles, passam boa parte do dia connosco. Supostamente deveriam estar connosco só de manhã, mas gostam tanto, que passam os dias aqui e acompanham as urgências ainda. Há um tutor para dois alunos, o que significa que eles têm uma interação que muitas vezes se mantém no futuro. Quando decidem fazer Mestrado ou Doutoramento vêm conversar comigo e pedem aconselhamento e orientação. Por outro lado, já tive grupos que ficavam tão ligados aos doentes que conheciam que vinham depois acompanhá-los em todos os processos, vê-los depois das operações, ficavam no hospital fora de horas e regressavam aos fins-de-semana só para os seguir.
O tempo depois ensina-os que é preciso criar mais distância com os pacientes?
Ana Almeida: Esta situação é algo limitada no tempo para eles, são seis semanas intensivas. Mas depois é preciso ter presente que temos direito ao nosso tempo e ao nosso descanso e a momentos de lazer, só assim podemos ser mais eficazes com os pacientes. Tempo esse que, muitas vezes, é aproveitado para estudar. Sabe que no nosso país não está contemplado dentro do nosso horário de trabalho esse estudo, mas noutros países isso é tido em conta. Todos temos que estudar imenso e fazer muito trabalho em casa. No horário de um Professor ainda está contemplada alguma parte para a preparação das aulas, mas no do médico não. O médico tem sessões clínicas e sessões de preparação, mas sempre integrado na actividade assistencial. O mesmo se aplica à investigação, o médico não tem tempo dedicado à preparação e investigação. Isto é um tema que se fala há muito, mas que ainda não está consagrado. Tudo somado, o facto é que o tempo do médico se diversifica por inúmeras actividades e por vezes se torna difícil integrar bem a actividade assistencial, de ensino e investigação.
É verdade que há uma parametrização do tempo de consulta para cada doente?
Ana Almeida: Há uma parametrização sim. Na Cardiologia temos vinte minutos, mas temos de ter em conta que o exame físico demora e que muitas vezes a primeira consulta demora mais tempo, porque os doentes já trazem antecedentes e um processo pesadíssimo, alguns com dados muito antigos e complexos. Por isso a primeira consulta pode demorar, à vontade, 45 minutos.
Mas qual é a entidade que impõe estes tempos? É o Serviço Nacional de Saúde, é cada Hospital?
Ana Almeida: Penso que é a política de cada hospital, mas a verdade é que, tendo em conta os horários dos médicos e a multiplicidade das suas funções, tentam-se reduzir ao mínimo estes tempos. Cada um de nós tem de tentar cumprir estes tempos, mas por vezes é mesmo muito difícil. Mas há hospitais em que a Cardiologia ainda tem menos tempo que nós aqui, com apenas 15 minutos. Para mim este é um tempo impensável…
Aqui no nosso hospital (Santa Maria) temos a sorte de ter gabinetes só destinados à Cardiologia o que nos permite maior disponibilidade de tempo. Já o sector ambulatório multidisciplinar do Hospital tem limites apertados aos tempos de consulta, o que significa que passadas as três horas de uma equipa, ou médico, é preciso dar vez a outros que estão a chegar. Esta rotatividade cria uma pressão que mostra que temos de ser essenciais no que estamos a resolver e dirigir muito bem o problema. Relativamente aos exames cardíacos, todo o hospital os pede e de áreas que nada dizem respeito direto à Cardiologia pois metade dos doentes que recebemos vêm indicados por outros médicos de outras patologias. Temos uma pressão muito grande porque a Cardiologia não pode esperar, são necessárias as informações logo para poder tratar os doentes. Somos a área que faz mais exames de Ecocardiografia no país mas temos sempre listas de espera, pois a informação é crucial. Os recursos têm de aumentar mas é também necessária a racionalização correta do uso dos exames.
A quantidade de regras criadas e os tempos balizados acabam por impor o tal distanciamento que falávamos há pouco…
Ana Almeida: O Serviço Nacional de Saúde (SNS) devia ter atenção a esta parte, mas como tem sido noticiado, sabemos que há muita escassez de recursos humanos. Há falta de médicos em todas as especialidades. E os médicos que cá estão têm de fazer o mesmo como se fossem muitos e por vezes em menos tempo porque têm enormes solicitações. Mas sabe que eu acredito que esta realidade é modificável, é só uma questão de ponderar as necessidades e de estas ficarem bem respondidas.
É uma otimista que acredita que se consegue implementar mudança, mesmo num sistema como o SNS?
Ana Almeida: Eu acredito. Até porque sou uma defensora do SNS. Eu acho que o nosso serviço público médico é excelente, muito melhor que o inglês, que é tantas vezes considerado uma referência para todos. Conheço bastante bem o Serviço Nacional de Saúde de Inglaterra e ele é excelente, quando estamos a falar de instituições altamente diferenciadas. Se é preciso cuidados diferenciados, como os cuidados intensivos, ou cirurgias avançadas, aí eles são espetaculares e têm uma investigação de excelência. Mas, se falarmos deste serviço em termos de cuidados primários, ou de situações menos graves, o atendimento e a disponibilidade são muito piores. Inglaterra neste momento está também muito pontuada pelas questões financeiras, como tal pedir menos exames, efectuar menos intervenções sendo o acesso a um médico especialista muito difícil. Na minha opinião, o nosso SNS é mais seguro e sólido, e permite esta variedade de exames e de tratamentos apropriados suportadas pelo Estado. Se em Inglaterra os grandes centros médicos estão localizados praticamente só em Londres, aqui em Portugal temos várias cidades espalhadas pelo país onde se fazem exames muito importantes como os cateterismos, tratamentos oncológicos, entre outros.
Isso faz-me perguntar se um médico deveria ter sempre o seu “faro” apurado para despistar à partida o acessório do indispensável e assim tornar-se mais rentável também.
Ana Almeida: Essa questão é muito interessante porque vem tocar num tema que é muito debatido hoje e que é sobre a inteligência artificial e como ela pode alterar a Medicina. Vai seguramente influenciar a prática médica. Quando nós recolhemos os dados dos doentes, sejam sintomas, sejam sinais, estamos a jogar com a aprendizagem e toda a experiência, mas apanhamos sinais subtis que um computador não consegue captar. O computador precisaria de inúmeros elementos certos e depois outros tantos dados subjetivos que explicassem o que não está bem, ora o computador não é capaz de fazer isto. Assim se percebe como a relação humana médico / doente é tão importante e é o que sustenta o diagnóstico, é nessa fase que também se apanham os sinais subtis que participam na decisão e no tratamento. Nesta altura nada aqui é matemático, nem uma ciência exata, porque tem muita subjetividade. Eu diria que é mesmo preciso algum grau de arte e, claro, conhecimento perante o que se aprendeu para trás, mas também intuição.
Como é que lidou com o facto de ser a primeira pessoa a implementar uma nova técnica (a Ressonância Magnética) no país? Isso assustou-a?
Ana Almeida: Eu sou uma pessoa que tem coragem para a novidade, muitos me diziam que eu estava a ser arrojada, por começar uma coisa desta envergadura sozinha, mas eu estava apoiada pelos centros onde trabalhei e Londres dava grande suporte e ajuda se eu precisasse. Foi um desafio completamente apaixonante, eu adorei esta técnica. Isto obrigou-me a tomar opções, porque deixei de fazer hemodinâmica (exame que analisa, e hoje em dia trata, a obstrução nas artérias), na verdade deixei de fazer as técnicas invasivas. Não era possível fazer tudo ao mesmo tempo. Dediquei-me muito mais às técnicas da imagem não-invasivas, nomeadamente à Ressonância e a Ecocardiografia e mais recentemente na Angio-TAC das coronárias. Estas técnicas sofreram um crescimento expansivo e são essenciais ao diagnóstico em Cardiologia.
Falamos de técnicas não-invasivas e que são também menos agressivas, mas algumas que implicam uma dose de radiação. Essa radiação tem danos a médio prazo no coração?
Ana Almeida: O conceito não invasivo significa não cruento (não derrama sangue), mas tem radiação e essa radiação é cumulativa ao longo da vida e os estudos que há apontam para um possível risco de aumento de cancro, sim. Estes exames não invasivos devem ser pontuais e não seriados, a não ser que não haja outra hipótese, havendo outra opção, esta não deve ser a de primeira linha. A TAC está a aparecer cada vez mais porque, o que tem de bom é que, tem cada vez menos radiação, mas terá sempre radiação. Tem aplicações excelentes, mas não é um exame para se fazer todos os meses, ou seja, não pode servir para seguir doentes sistematicamente, a não ser que estejamos a falar de tumores ou neoplasias (proliferação descontrolada de células) que obriguem à realização frequente destes exames em que o risco da doença supera o da radiação. De um modo geral, devemos sempre usar alternativas onde a radiação não seja a escolha de primeira linha, como a ultrassonografia ou a ressonância magnética, no caso das técnicas de imagem.
Para alguém que lida com a imagem do coração, o que é que se “fotografa” no coração que seja uma mensagem subliminar?
Ana Almeida: Tal como noutras áreas, a imagem está no topo dos diagnósticos. Hoje em dia é muito difícil diagnosticar um doente sem recorrer à imagem cardíaca. A imagem ao coração é tudo menos uma fotografia, a imagem é de movimento, contraste, são perspetivas de como o coração está a funcionar profundamente. Quando falamos de imagem, ela compreende a Ecocardiografia, a Ressonância Magnética Cardíaca, a TAC cardíaca e a Cardiologia Nuclear.
A imagem dá-nos o diagnóstico e o prognóstico das doenças do coração. Por exemplo, a Ressonância permite-nos estudar o músculo cardíaco e perceber de que forma pode estar a ser afetado o coração por doenças como as miocardiopatias ou o enfarte do miocárdio. A imagem ajuda a caracterizar tão bem algumas doenças que podem evitar o recurso à biópsia. O recurso à imagem dá-nos tantos índices que permite tomar decisões apropriadas de tratamento e, em última análise, possibilitar que um doente viva mais tempo. Se falarmos das áreas das arritmias, da cardiopatia valvular, da doença coronária, da insuficiência cardíaca, todos precisam muito da imagem. Mas é uma das causas de maior despesa na saúde. Os custos com a imagem são superiores a muitos outros custos, porque é usada quase como rastreio e prevenção. Hoje em dia o grande desafio que está presente é de como conter esses custos, porque há que racionalizar o uso e selecção da imagem para o diagnóstico e seguimento das doenças e não pedir exames demais.
Percebe-se pelo perfil pessoal e académico um sentido de perfeição muito apurado. Está sempre à procura do aluno perfeito?
Ana Almeida: Exijo muito de mim e por isso dos outros. Às vezes tenho dificuldade em acabar textos, ou outros trabalhos, porque exijo que esteja tudo tão bem que parece que nunca está perfeito. Mas nada é absolutamente perfeito, senão nunca haveria um fim. Isto significa que espero dos outros esta perfeição, mas os anos ensinaram-me que devemos abrandar e perceber que as velocidades são diferentes e as experiências também, mas devemos sempre ter essa exigência.
Agora que olha para trás e vê as contrariedades que tanto a incomodaram e que a empurraram para caminhos que não seriam as suas escolhas, acha que afinal tudo fez sentido?
Ana Almeida: Fez. Apesar de eu achar que as nossas escolhas são sempre as nossas escolhas, acho que não há um destino totalmente traçado, há acasos que nos aparecem na vida e que nos mudam. Se voltasse atrás talvez tivesse passado uns anos fora do país, mas na altura escolhi assim e uma das grandes razões foi por querer investir no nosso próprio país. De qualquer forma fui fazendo estágios fora, em centros e com pessoas de referência além de manter inúmeros contactos de investigação e de trabalho.
A Unidade de Imagem Cardiovascular de Santa Maria que coordena é uma referência nacional e com passos dados para continuar a crescer. Pela primeira vez, como Coordenadora Nacional do Grupo de Estudos de Cardiologia Nuclear, Ressonância Magnética e TC cardíaca da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, organizou a 1ª Reunião Ibérica de imagem cardíaca avançada, com grande destaque na Sociedade Europeia de Cardiologia; o sucesso foi tal que vários países pedem agora para entrar.
No próximo ano Ana G. Almeida será Co-organizadora do Congresso Europeu de Ressonância Magnética Cardíaca, em Veneza. Quando começou, o Congresso juntava uma “pequena família de 100 pessoas”, hoje cresceu para as 1500 e promete continuar a ultrapassar todas as fronteiras.
Habituada à perfeição e otimista por excelência, Ana G. Almeida acredita sempre no crescimento dos projetos e das pessoas e empenha tudo o que tem nas suas convicções. É que apesar do tempo que já foi passando, continua a ver a mesma magia na Medicina com o mesmo olhar dos seus recém-chegados alunos.
Joana Sousa
Equipa Editorial