Espaço Ciência
AFIVASC – O Impacto da Atividade Física no defeito cognitivo vascular
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Terá a atividade física impacto nas pessoas que tenham problemas cognitivos de causa vascular? Esta foi a pergunta que desencadeou um ensaio clínico randomizado que dura há quase 2 anos e que tem promovido a prática da atividade física em pessoas que tenham defeito cognitivo vascular. O defeito cognitivo vascular caracteriza-se por dificuldade na tomada de decisões, lentificação, diminuição de iniciativa e defeito de atenção. Sendo a memória normalmente poupada no início da doença, esta patologia encontra-se sub-diagnosticada.
Esta é uma investigação que está a cargo da Neurologista e Professora, Ana Verdelho, e que conta com uma equipa multidisciplinar constituída por médicos, fisiologistas do exercício e neuropsicólogos que verificam todos os procedimentos. A equipa pertence ao laboratório do Professor José Ferro e decorre na Faculdade de Medicina e iMM João Lobo Antunes, contando com um financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).
Mariana Borges (fisiologista do exercício) e Mário Rodrigues (neuropsicólogo) concorreram a uma bolsa de investigação e trabalham neste projeto. Diariamente acompanham os diferentes passos de um estudo que tem seis meses de intervenção e outros seis a seguir, para observação do efeito a longo termo.
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O propósito de todos é tentar avaliar quais os benefícios da atividade física nesta população com defeito cognitivo vascular.
Atualmente com cerca de setenta participantes, o estudo encontra-se em fase de recrutamento, sendo um dos objetivos obter uma amostra que permita conclusões robustas. Geralmente os candidatos são indicados pelos médicos, mas é também através de palestras (em universidades séniores, por exemplo) que o estudo tem sido divulgado, sendo proporcionado, aos participantes, a custo zero, um plano de intervenção física exequível.
Se os doentes cumprirem os critérios de inclusão, doentes com patologia vascular comprovada na imagem cerebral, com ou sem AVC, não dependentes, sem critérios de demência e sem limitações para atividade física, podem então deslocar-se até ao gabinete e é lá que vão conhecer o estudo, e dar o seu consentimento para a recolha das variáveis clinicas. É nesta fase que conhecem Mário Rodrigues, Neuropsicólogo, que faz a avaliação neuropsicológica de todas as variáveis cognitivas, bem como Mariana Borges, Fisiologista do Exercício, que faz uma avaliação física e aplica o plano de intervenção dos exercícios.
Através de um acelerómetro, que conta os passos e o ritmo que a pessoa faz por dia, e durante uma semana, estudam quanto tempo a pessoa faz de atividade física leve, moderada e vigorosa, só depois fazem o cálculo personalizado. Com base no perfil de cada um, mas sempre tendo por base o protocolo estipulado, Mariana Borges adequa as atividades físicas mediante as necessidades. O objetivo é que ao fim de seis meses se possa fazer um primeiro balanço das atividades induzidas podendo avançar indicações se há impacto cognitivo e físico.
Todos os exames e custos inerentes à investigação são assumidos pelo grupo que estabeleceu parcerias com o Hospital da Luz, aquando a realização de ressonâncias feitas aos zero, seis e doze meses de estudo. As caminhadas decorrem num espaço do Estádio Universitário. Desta forma pretendem proteger e retardar o declínio cognitivo que pode acontecer no envelhecimento, por interferência vascular.
Mas se fisicamente já têm bem fundamentado que as pessoas melhoram, será que o mesmo acontece cognitivamente? Este é um caminho que ainda estão a percorrer.
Atualmente importa a este grupo de investigação receber mais pessoas para que possam continuar com a triagem e randomização, mas sabem que o facto de o doente ter que se deslocar ao centro de investigação, pelos seus próprios meios, pode limitar alguns voluntários. Após a intervenção, dão ao participante, durante 6 meses, a autonomia para decidir que atividade vão estabelecer em casa, pretendem com isso perceber se os seus hábitos de vida vão mudar, razão pela qual se tem sempre o maior zelo para não manipular as motivações.
O recrutamento de novos pacientes acabará já este ano, depois segue-se o follow up. Até lá terão sempre pessoas a entrar e a sair, num processo que é naturalmente rotativo. Sendo um estudo multicêntrico, estão também a trabalhar no Porto, apesar de ser uma fase mais embrionária.
Fechada a investigação, Mariana e Mário pensam seguir para Doutoramento. Mário Rodrigues quer seguir a investigação na área das demências e, em paralelo, fazer psicologia e neuropsicologia clínica de intervenção, já Mariana Borges fará a prescrição de exercício a pessoas com patologias.
Para todos aqueles que possam pertencer ao grupo que é considerado amostra significativa, ficam os requisitos para quem queira participar e ser referenciado, ainda vai a tempo!
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- Critérios de inclusão: doentes com patologia vascular na imagem, com ou sem AVC (idade superior a 18 anos), não dependentes e sem critérios de demência e sem limitações para atividade física
- Diagnóstico: Defeito cognitivo de causa vascular (lentificação, diminuição da iniciativa, queixas de memória, dificuldade nas decisões, lentificação na marcha)
- Critérios de exclusão: doença de Alzheimer, demência e contra-indicação à atividade física
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Contactos AFIVASC
afisvasc@gmail.com
91 338 89 18
Joana Sousa
Equipa Editorial