Investigação e Formação Avançada
Alunas Premiadas no Dia da Investigação contam-nos como foi
As alunas Joana Almeida e Mariana Vargas receberam o 1.º Prémio do 17.º Workshop “Educação pela Ciência”, no âmbito do Dia da Investigação, com o trabalho “Efeitos da expressão microglial de Sirt2 na LTP”, desenvolvido na unidade J.A. Ribeiro Lab e orientado pelas Professoras Ana Sebastião e Maria José Diógenes Nogueira.
À news@fmul as alunas deixam o seu testemunho sobre esta sua experiência na investigação, com o Programa “Educação pela Ciência”, e apresentam os resultados do seu trabalho.
Trabalho
As Sirtuinas constituem uma família de sete proteínas deacetilases dependentes de NAD+ (SIRT1-SIRT7) conhecidas por desempenhar papéis major nos processos relacionados com o envelhecimento, o qual por sua vez constitui o fator de risco predominante e unificador das doenças neurodegenerativas.
É sabido que o sistema imunitário desempenha um importante papel nos processos de envelhecimento e doenças neurodegenerativas, sendo a neuroinflamação um fator na patogénese destas condições. Além disso, a neuroinflamação detetada em modelos de doenças neurodegenerativas, está associada a uma diminuição potenciação de longa duração (Long-Term-Potentiation, LTP), um tipo de plasticidade sináptica que tem sido implicado na aprendizagem e formação da memória.
A SIRT2 é a sirtuina mais abundantemente expressa no cérebro, sendo capaz de deacetilar o NF-kB, um dos mais importantes reguladores da expressão genética pró-inflamatória, na microglia, inibindo-o e prevenindo assim a ativação microglial excessiva, pelo que desempenha um papel inibitório chave na inflamação mediada pela microglia.
Tendo em conta o papel que SIRT2 desempenha na neuroinflamação, a qual, por sua vez, segundo estudos em modelos animais de doenças neurodegenerativas, pode estar associada a um défice na LTP, o nosso trabalho teve como objetivo avaliar o impacto do défice de SIRT2 microglial na plasticidade sináptica do hipocampo, através da medição da magnitude da LTP em fatias de ratinhos wild-type (WT) ou “knockout” (KO) para Sirt2 microglial, sob condições inflamatórias versus controlo.
Os nossos resultados mostram que, na ausência da expressão microglial de SIRT2, os estímulos inflamatórios diminuem significativamente a LTP, ou seja a plasticidade sináptica. Tal aponta para que a expressão de Sirt2 na microglia tenha um efeito protetor no declínio da plasticidade sináptica mediada por estímulos inflamatórios.
Experiência GAPIC
A investigação sempre foi uma área que nos despertou especial interesse a nível académico. A possibilidade de vir a poder integrar uma equipa laboratorial e desenvolver um projeto de investigação sempre foi um grande sonho nosso, desde que entrámos no faculdade e que ganhou forma graças ao programa “Educação pela Ciência”. Este programa, organizado pelo Gabinete de Apoio à Investigação Científica, Tecnológica e Inovação (GAPIC) da nossa faculdade, oferece aos estudantes de Medicina a oportunidade de participar na vida laboratorial e envolver-se em projetos de investigação, criando um dinamismo entre os Laboratórios do IMM e a Faculdade de Medicina e permitindo uma experiência laboratorial, pré-clínica, essencial para a formação de futuros médicos.
No nosso caso não houve dúvidas quanto à escolha do laboratório: Neurociências. Foi uma felicidade e uma honra sermos aceites no departamento de Farmacologia e Neurociências do IMM e termos como tutoras a Professora Dra. Maria José Diógenes, a Dra. Teresa Pais e a Professora Dra. Ana Sebastião. Não poderíamos ter tido tutoras melhores, pois além de serem academicamente excelentes são pessoas excecionais sempre disponíveis e prontas a ajudar. Foi com muito agrado e carinho que desenvolvemos este projeto ao longo do ano que passou e acreditamos que o podemos levar mais longe, pelo que tencionamos dar continuidade ao nosso trabalho laboratorial.
Foi-nos oferecida a oportunidade de colaborarmos num projeto recente relativo ao estudo da SIRT2, a qual aceitámos com agrado! Após pesquisas bibliográficas sobre as sirtuinas, o tema foi-nos intrigando cada vez mais, estimulando todo o nosso empenho no desenvolvimento do projeto. O primeiro contato com as técnicas laboratoriais de eletrofisiologia não foi fácil e muito tivemos de aprender de forma a ganharmos autonomia no laboratório. O trabalho de investigação implica a aceitação que é preciso despendermos tempo para a aprendizagem das técnicas, bem como aceitação que, muitas vezes, sem razão aparente visível, nem sempre tudo corre bem e os resultados nem sempre são os esperados. Mas é mesmos assim! Quando se gosta do que se faz, todos os obstáculos são ultrapassáveis.
O programa “Educação pela Ciência” constitui assim um estímulo tanto para os estudantes como para os laboratórios, permitindo a perfeita união das duas metades simbióticas e contribuindo para um ensino da medicina integrado, com uma visão mais ampla. A nossa participação neste programa implica a formulação, numa primeira fase, de uma candidatura com a descrição do nosso trabalho e do método experimental, juntamente com os nossos objetivos e possíveis resultados. Após todas as experiências feitas e análise dos dados obtidos, segue-se a discussão dos resultados, uma parte do trabalho desafiante, mas ao mesmo tempo estimulante a nível intelectual. O final do projeto passou pelo desafio de apresentar os resultados obtidos sob a forma de relatório, bem como comunicação dos mesmos no Dia da investigação da FMUL através da apresentação de poster, bem como uma apresentação oral. Para além de tudo o que já foi referido esta iniciativa “Educação pela Ciência” promove ainda o encontro de diferentes jovens estudantes que têm em comum o gosto pela investigação, permitindo a troca de diferentes conhecimentos, ideias e projetos.
Em suma, não poderíamos estar mais felizes e agradecidas pela oportunidade que este programa constituiu para nós, permitindo o nosso lançamento no campo da investigação e tenho sido fulcral no desenvolvimento e concretização do nosso gosto pela investigação, sendo ao mesmo tempo uma experiência desafiante, mas muito enriquecedora e uma mais valia para a nossa formação académica e pessoal.