Reportagem / Perfil
Projecto sobre o Estudo da Estrutura do Núcleo Cerebral Accubens Humano - Dra. Lia Neto
A Newsletter da Faculdade conversou com a Dra. Lia Neto, neuroradiologista e investigadora no Instituto de Anatomia. Está a desenvolver uma tese de Doutoramento no âmbito do estudo da estrutura do núcleo cerebral denominado Núcleo accumbens humano, com o objectivo de que a ciência evolua no tratamento de algumas doenças psiquiátricas medicamente intratáveis, como a perturbação obsessivo-compulsiva, a depressão, a ansiedade severa, porque este núcleo está envolvido nos chamados núcleos cerebrais de recompensa.
O objecto de estudo da minha Tese de Doutoramento é o núcleo accumbens humano. Esta estrutura cerebral foi bem caracterizada na investigação do cérebro de animais, como o rato e o chimpanzé, mas os seus limites e relações anatómicas, bem como a sua importância funcional, ainda não foram estabelecidas de forma rigorosa na nossa espécie.
Este estudo tem-se revestido de particular importância pelo facto de o accumbens estar envolvido nos chamados circuitos de recompensa cerebral. Esta rede reúne vários núcleos e vias neuronais que são responsáveis por importantes funções emocionais e psicomotoras, estando também envolvida nos mecanismos de motivação. Entre estas estruturas, o núcleo accumbens é frequentemente denominado o “centro do prazer”, tendo-se tornado um importante alvo para a estimulação cerebral profunda.
Esta técnica neurocirúrgica foi utilizada pela primeira vez em 1987, para tratar a doença de Parkinson e consiste na colocação de eléctrodos no parênquima cerebral profundo, conectados a um aparelho de estimulação eléctrica semelhante a um pacemaker. Os bons resultados obtidos no tratamento desta patologia, o facto de ser uma técnica segura e reversível, levou à sua expansão e ao desejo de tratar outras doenças afins. Mais recentemente, teve início o tratamento de perturbações neuropsiquiátricas resistentes à terapêutica médica, como alguns casos muito selecionados de perturbação obsessivo-compulsiva, depressão grave e ansiedade severa. Foram também publicados alguns casos clínicos de estimulação do núcleo accumbens em toxicodependentes e em doentes com anorexia.
Assim, uma vez que o núcleo accumbens se tornou um importante alvo de estimulação, o refinamento e evolução destas técnicas depende em absoluto de uma aprofundada investigação anatómica e imagiológica desta estrutura.
A minha colaboração com o Instituto de Anatomia teve inicio, como monitora voluntária, no decurso da minha Licenciatura em Medicina, que concluí em 2003. Após esta data, comecei os trabalhos de investigação que levaram à obtenção do Mestrado em Neurociências em 2007, com a tese “Estudo do Núcleo Accumbens Humano – identificação, localização e imagiologia”. Esta investigação permitiu estabelecer que o núcleo accumbens humano é uma entidade morfológica distinta e delimitável, registar a sua dimensão média, a sua forma e as suas coordenadas estereotáxicas marginais, que representam a localização espacial deste núcleo no cérebro humano.
Paralelamente à atividade docente como Assistente Convidada da disciplina de Neuroanatomia, tenho sido autora e tutora de projetos de investigação para alunos no âmbito do Gabinete de Apoio à Investigação Científica da FMUL (GAPIC) e concluí, em 2011, o internato complementar de Neurorradiologia, assumindo funções como Assistente Hospitalar no Serviço de Neurorradiologia do Hospital de Santa Maria.
Esta tripla função docente, de investigação e clínica, condicionou a evolução da presente Tese de Doutoramento, que tem como título “Núcleo Accumbens Humano – Da Anatomia à Imagiologia e à Clínica”. Este trabalho levou à criação de um modelo matemático tridimensional, baseado no estudo anatómico do núcleo, definindo um alvo preciso para utilização na estimulação cerebral profunda. O estudo anatómico foi complementado com uma análise histológica e imunohistoquímica, estabelecendo a localização preferencial dos receptores dopaminérgicos e permitiu determinar uma região de extensão do núcleo, não identificada anteriormente, cuja existência tinha sido sugerida por estudos clínicos de estimulação cerebral.
Atualmente, e concluindo este ciclo de investigação, está a ser realizada a caracterização estrutural do accumbens in vivo, pelo estudo por Ressonância Magnética de alto campo (3Tesla), com recurso a técnicas avançadas de Tensores de Difusão e Tractografia.
Este percurso de investigação não corresponde ao padrão habitual de ultra-especialização e análise. É um trabalho de síntese, que pretende unir as chamadas ciências básicas, como a Anatomia e a Histologia, às modernas técnicas de Neuroimagem e à prática clínica. Resulta da colaboração e incentivo do Prof. Doutor António Gonçalves Ferreira, diretor deste Instituto e tutor da tese, do Prof. Doutor Jorge Guedes Campos, diretor do Serviço de Imagiologia Neurológica e co-tutor do trabalho, da participação dos departamentos de Neurocirurgia e Psiquiatria, bem como da colaboração dos múltiplos alunos que participaram nos projetos do GAPIC. Representa uma forma diferente de fazer investigação e penso que demonstra que uma atividade clínica intensa, com menor disponibilidade para o trabalho de laboratório, não é incompatível com uma contribuição científica válida.
O objecto de estudo da minha Tese de Doutoramento é o núcleo accumbens humano. Esta estrutura cerebral foi bem caracterizada na investigação do cérebro de animais, como o rato e o chimpanzé, mas os seus limites e relações anatómicas, bem como a sua importância funcional, ainda não foram estabelecidas de forma rigorosa na nossa espécie.
Este estudo tem-se revestido de particular importância pelo facto de o accumbens estar envolvido nos chamados circuitos de recompensa cerebral. Esta rede reúne vários núcleos e vias neuronais que são responsáveis por importantes funções emocionais e psicomotoras, estando também envolvida nos mecanismos de motivação. Entre estas estruturas, o núcleo accumbens é frequentemente denominado o “centro do prazer”, tendo-se tornado um importante alvo para a estimulação cerebral profunda.
Esta técnica neurocirúrgica foi utilizada pela primeira vez em 1987, para tratar a doença de Parkinson e consiste na colocação de eléctrodos no parênquima cerebral profundo, conectados a um aparelho de estimulação eléctrica semelhante a um pacemaker. Os bons resultados obtidos no tratamento desta patologia, o facto de ser uma técnica segura e reversível, levou à sua expansão e ao desejo de tratar outras doenças afins. Mais recentemente, teve início o tratamento de perturbações neuropsiquiátricas resistentes à terapêutica médica, como alguns casos muito selecionados de perturbação obsessivo-compulsiva, depressão grave e ansiedade severa. Foram também publicados alguns casos clínicos de estimulação do núcleo accumbens em toxicodependentes e em doentes com anorexia.
Assim, uma vez que o núcleo accumbens se tornou um importante alvo de estimulação, o refinamento e evolução destas técnicas depende em absoluto de uma aprofundada investigação anatómica e imagiológica desta estrutura.
A minha colaboração com o Instituto de Anatomia teve inicio, como monitora voluntária, no decurso da minha Licenciatura em Medicina, que concluí em 2003. Após esta data, comecei os trabalhos de investigação que levaram à obtenção do Mestrado em Neurociências em 2007, com a tese “Estudo do Núcleo Accumbens Humano – identificação, localização e imagiologia”. Esta investigação permitiu estabelecer que o núcleo accumbens humano é uma entidade morfológica distinta e delimitável, registar a sua dimensão média, a sua forma e as suas coordenadas estereotáxicas marginais, que representam a localização espacial deste núcleo no cérebro humano.
Paralelamente à atividade docente como Assistente Convidada da disciplina de Neuroanatomia, tenho sido autora e tutora de projetos de investigação para alunos no âmbito do Gabinete de Apoio à Investigação Científica da FMUL (GAPIC) e concluí, em 2011, o internato complementar de Neurorradiologia, assumindo funções como Assistente Hospitalar no Serviço de Neurorradiologia do Hospital de Santa Maria.
Esta tripla função docente, de investigação e clínica, condicionou a evolução da presente Tese de Doutoramento, que tem como título “Núcleo Accumbens Humano – Da Anatomia à Imagiologia e à Clínica”. Este trabalho levou à criação de um modelo matemático tridimensional, baseado no estudo anatómico do núcleo, definindo um alvo preciso para utilização na estimulação cerebral profunda. O estudo anatómico foi complementado com uma análise histológica e imunohistoquímica, estabelecendo a localização preferencial dos receptores dopaminérgicos e permitiu determinar uma região de extensão do núcleo, não identificada anteriormente, cuja existência tinha sido sugerida por estudos clínicos de estimulação cerebral.
Atualmente, e concluindo este ciclo de investigação, está a ser realizada a caracterização estrutural do accumbens in vivo, pelo estudo por Ressonância Magnética de alto campo (3Tesla), com recurso a técnicas avançadas de Tensores de Difusão e Tractografia.
Este percurso de investigação não corresponde ao padrão habitual de ultra-especialização e análise. É um trabalho de síntese, que pretende unir as chamadas ciências básicas, como a Anatomia e a Histologia, às modernas técnicas de Neuroimagem e à prática clínica. Resulta da colaboração e incentivo do Prof. Doutor António Gonçalves Ferreira, diretor deste Instituto e tutor da tese, do Prof. Doutor Jorge Guedes Campos, diretor do Serviço de Imagiologia Neurológica e co-tutor do trabalho, da participação dos departamentos de Neurocirurgia e Psiquiatria, bem como da colaboração dos múltiplos alunos que participaram nos projetos do GAPIC. Representa uma forma diferente de fazer investigação e penso que demonstra que uma atividade clínica intensa, com menor disponibilidade para o trabalho de laboratório, não é incompatível com uma contribuição científica válida.