Quais são as principais actividades que desenvolve no Instituto de Anatomia?
As minhas principais funções específicas estão directamente ligadas ao funcionamento do Teatro Anatómico, desde a recepção dos cadáveres, à sua preparação e rentabilização. Neste momento, está em processo de conclusão o novo laboratório de plastinização do qual sou o responsável, sob a orientação do Professor Doutor Gonçalves Ferreira. No entanto, como muitos outros trabalhadores, sou totalmente polivalente, desempenhando outras tarefas no Instituto de Anatomia.
Em que medida a sua actividade contribui para a formação de novos médicos?
A nível da preparação de peças humanas, por exemplo, é extremamente importante que estejam bem preparadas, visto que os alunos estudam com base nessas peças. Assim, quanto melhor for a preparação das peças, melhor será a forma como os alunos estudam e, como consequência, ficarão mais bem formados.
Qual o percurso de um cadáver desde a sua chegada ao Instituto até à sua saída?
No momento em que o cadáver é recebido, é necessário fazer uma primeira avaliação para ver qual é a finalidade/utilidade do mesmo. Em seguida, é lavado e preparado para ser acondicionado numa câmara de congelação ou refrigeração. Cada cadáver é único, com diferentes utilidades, preparações e destinos, consoante as necessidades do Instituto de Anatomia. Em geral, o cadáver segue para aulas de dissecação, cursos pós-graduados ou para a preparação de peças/modelos anatómicos. Todas estas actividades são realizadas no Teatro Anatómico e esta utilização é sempre rentabilizada ao máximo, para que haja uma maior valorização de cada cadáver. Este pode nem chegar a sair do Instituto de Anatomia, pois até os ossos podem ter aproveitamento para o ensino da osteologia.
Qual o tempo médio que um cadáver permanece no Instituto?
Esta questão não é muito fácil responder de forma precisa, pois, como referi anteriormente, cada cadáver é único. Ou seja, os cadáveres têm durabilidades completamente diferentes e, em alguns casos, podem nunca chegar a sair do Instituto de Anatomia.
Pode dizer-nos em que consiste a técnica de plastinização? E quais são as suas diferentes fases?
A técnica de plastinização consiste, essencialmente, na substituição da água presente nos tecidos por um tipo de silicone ou poliéster.
Este processo é realizado através de três passos distintos: a desidratação, a impregnação e a polimerização ou cura.
A desidratação é feita a frio (-20°C) para haver uma menor retracção das estruturas tecidulares, uma vez que é efectuada por meio de acetona. Após a desidratação, segue-se a impregnação, que também é realizada a frio, mas num recipiente com características especiais, porque é necessário fazer uma enorme pressão de vácuo. Ao fazermos o vácuo vamos retirar a acetona presente nos tecidos e, como há uma pressão negativa elevada, vai haver uma entrada forçada do silicone para os espaços que a acetona deixou livre. A técnica de plastinização é finalizada com a polimerização ou cura, que é feita através de um vapor criado por um líquido específico.
Toda a técnica de plastinização desenvolve-se num laboratório adequado e preparado para o efeito, por haver a manipulação de líquidos extremamente inflamáveis.
Na prática, os corpos são doados em vida, por vontade da própria pessoa. Contudo, a plastinação pode levantar alguns problemas de carácter moral, ético e religioso. Como é que, na sua opinião, a comunidade científica gere esta questão?
Em todos os trabalhos que se podem desenvolver a partir de um cadáver existe, acima de tudo, um enorme respeito e todos os intervenientes são alertados nesse sentido.
Relativamente à plastinização, esta não levanta mais problemas, pelo facto de também existirem preparações anatómicas conservadas em formol, a plastinização apenas é um meio de preservação diferente. Na minha opinião, é muito mais elucidativo e permite aos alunos terem contacto directo com a preparação e, a partir dessa preparação das peças anatómicas, terem um melhor ensino. É preciso referir que tanto as preparações anatómicas conservadas em formol, como as plastinizadas são para uso exclusivo do Instituto de Anatomia, apenas com fins científicos e educativos.
Dr. Pedro Henriques
Técnico de Anatomia
Instituto de Anatomia da FMUL