Investigação e Formação Avançada
Se a clínica e o contacto com os doentes são o encanto da medicina, porquê fazer investigação?
Projeto GAPIC/Gulbenkian: Dissecting the signaling mechanisms of IL-7-mediated autophagy regulation in T-cell acute lymphoblastic leukemia
Desde sempre tive em mim o bichinho de um dia experimentar aquilo que seria “fazer investigação”.
Na minha perspetiva, e penso que corresponde à perspetiva de grande parte dos alunos que vivem a Medicina como uma paixão, a clínica, a discussão diagnóstica e o contacto com o doente são os verdadeiros encantos do exercer da profissão. Estudar Medicina e acompanhar doentes, é um exercício brilhante de integração de conhecimentos, experiências prévias, e das novidades mais recentes que a ciência dispõe.
Ser médico, entre outras coisas, é no fundo ter a oportunidade de, dispondo da máxima informação científica sobre os progressos da Medicina, poder aplicá-la. Então porquê investigação?! Porquê o bichinho?!
Eu penso que a experiência de investigação é algo de muito enriquecedor na nossa formação e pode ser uma experiência fantástica para um aluno. Faz-nos abordar os problemas de uma forma diferente, pensar sobre eles sob um ponto de vista diferente, direcionar e dirigir o pensamento num outro sentido, despertar o espírito crítico que é essencial à prática da nossa futura profissão. Fazer investigação é levantar os problemas, investigá-los e pensar em formas de agir sobre eles e modelá-los. No fundo, é a beleza de poder compreender a essência da biologia humana de uma outra forma.
Se a prática clínica constitui para mim a arte e o conhecimento de saber aplicar ciência, fazer investigação é, para mim, a oportunidade de fazer ciência. Por isso, fazia-me sentido enquanto aluna experienciar este outro lado da Medicina, sentindo desta forma um complemento à minha formação e experiência pessoal. Tornou-se então evidente para mim que gostaria de realizar o meu Trabalho Final de Mestrado em investigação laboratorial, tendo acabado por escolher imuno-oncologia, uma área que sempre me fascinou e me despertou muito interesse por ser tão promissora. Assim, acabei por ser acolhida na Unidade de Biologia do Cancro, no IMM. E digo “acolhida” porque, por experiência prévia, acho que sentirmo-nos acolhidos num laboratório é essencial para nos adaptarmos, gostarmos e nos sentirmos parte integrante das rotinas do lab e da própria equipa e isto acaba por ter repercussões na seriedade com que agarramos o trabalho. Foi também com grande alegria que submetemos o projeto ao programa GAPIC (Gabinete de Apoio à Investigação Científica Tecnológica e Investigação)/Gulbenkian que aprovou e apoiou o projeto.
Integrei então um projeto na UBCA com o Daniel Ribeiro, investigador e estudante de doutoramento, cujo âmbito é o de dissecar e conhecer quais os mecanismos de sinalização pelos quais a IL-7 medeia a regulação da autofagia em leucemias linfoblásticas agudas de células T.
Porquê este trabalho?
A leucemia linfoblástica aguda (LLA) é a neoplasia maligna mais comum em idade pediátrica. O fenótipo de células T (LLA-T,) ainda que menos frequente, é aquele que se associa com maior risco e pior prognóstico, pelo que terapêuticas dirigidas a vias de sinalização de células-alvo envolvidas no processo tumoral, são particularmente promissoras.
A IL-7 é uma interleucina que induz a proliferação, diferenciação e sobrevivência das células T normais e que está também presente no microambiente das LLA-T tendo o potencial de modular a expansão da leucemia. E o nosso laboratório já demonstrou in vivo que a IL-7 pode acelerar o desenvolvimento de LLA-T em humanos. Demonstrou também que PI3K é um efetor major da indução da viabilidade e proliferação de LLA-T pela IL-7, via ativação da via de sinalização PI3K/Akt/mTOR, sendo que a serina-treonina-quinase mTOR é um importante regulador negativo da autofagia.
A autofagia é um processo intracelular que promove a degradação de compartimentos citoplasmáticos, que ocorre em níveis basais em células normais e que é activado pela privação de nutrientes como um mecanismo compensatório. Por outro lado, as células de proliferação rápida como as células tumorais, podem ativar a autofagia como mecanismo de sobrevivência, ou seja, como mecanismo pró-oncogénico. No entanto, quando persistente, deixa de ser protetora para as células tumorais e leva à morte celular, adquirindo um papel supressor tumoral. Um trabalho anterior do nosso laboratório, desenvolvido no âmbito do projecto GAPIC-09-2012, gerou dados preliminares que sugerem que a IL-7 pode inibir a autofagia em células TAIL7, uma linha celular LLA-T muito semelhante a células primárias de doentes. Demonstrámos também que a IL-7 regula negativamente lipidação/clivagem do LC3, uma característica da indução autofagia, com impacto funcional na viabilidade e activação de células-T malignas.
Assim, o atual projeto pretende elucidar, de uma forma mais aprofundada, os mecanismos moleculares e suas consequências funcionais, pelos quais a IL-7 modula a autofagia em células LLA-T, para conduzir à identificação de novos alvos possíveis no futuro de intervenção terapêutica.
Trabalhar na UBCA, com um grupo espetacular de pessoas sempre disponíveis para me ajudar (e especificamente neste projeto), tem sido uma mais-valia muito grande. Tenho adquirido e desenvolvido várias competências que decerto me serão muito uteis na minha vida futura. É interessante como por vezes os resultados que obtemos não são os que esperávamos, mas nem por isso menos interessantes. Pensar e discutir sobre esses resultados torna-se o maior desafio e um grande estímulo para trabalhos futuros ou caminhos futuros dentro do mesmo trabalho. Embora saiba que o meu papel no lab é francamente pequeno na dimensão do trabalho que desenvolvem, tem um elevado papel na minha experiência académica, pelo que não poderia estar mais grata pela minha escolha. Aproveito assim a oportunidade para agradecer ao meu tutor Prof. João Barata ter-me aceite na UBCA, a todo o grupo e, em especial ao Daniel Ribeiro, pela disponibilidade que sempre têm comigo, e agradecer ao programa GAPIC/Gulbenkian por terem aceitado, apoiado e financiado o projeto.
Maria Inês Felizardo Lopes,
5º Ano do Mestrado Integrado em Medicina FMUL;
Trabalho Final de Mestrado na Unidade de Biologia do Cancro, Instituto de Medicina Molecular.
Tutor do Projeto: Professor Doutor João Taborda Barata, UBCA, IMM.
Desde sempre tive em mim o bichinho de um dia experimentar aquilo que seria “fazer investigação”.
Na minha perspetiva, e penso que corresponde à perspetiva de grande parte dos alunos que vivem a Medicina como uma paixão, a clínica, a discussão diagnóstica e o contacto com o doente são os verdadeiros encantos do exercer da profissão. Estudar Medicina e acompanhar doentes, é um exercício brilhante de integração de conhecimentos, experiências prévias, e das novidades mais recentes que a ciência dispõe.
Ser médico, entre outras coisas, é no fundo ter a oportunidade de, dispondo da máxima informação científica sobre os progressos da Medicina, poder aplicá-la. Então porquê investigação?! Porquê o bichinho?!
Eu penso que a experiência de investigação é algo de muito enriquecedor na nossa formação e pode ser uma experiência fantástica para um aluno. Faz-nos abordar os problemas de uma forma diferente, pensar sobre eles sob um ponto de vista diferente, direcionar e dirigir o pensamento num outro sentido, despertar o espírito crítico que é essencial à prática da nossa futura profissão. Fazer investigação é levantar os problemas, investigá-los e pensar em formas de agir sobre eles e modelá-los. No fundo, é a beleza de poder compreender a essência da biologia humana de uma outra forma.
Se a prática clínica constitui para mim a arte e o conhecimento de saber aplicar ciência, fazer investigação é, para mim, a oportunidade de fazer ciência. Por isso, fazia-me sentido enquanto aluna experienciar este outro lado da Medicina, sentindo desta forma um complemento à minha formação e experiência pessoal. Tornou-se então evidente para mim que gostaria de realizar o meu Trabalho Final de Mestrado em investigação laboratorial, tendo acabado por escolher imuno-oncologia, uma área que sempre me fascinou e me despertou muito interesse por ser tão promissora. Assim, acabei por ser acolhida na Unidade de Biologia do Cancro, no IMM. E digo “acolhida” porque, por experiência prévia, acho que sentirmo-nos acolhidos num laboratório é essencial para nos adaptarmos, gostarmos e nos sentirmos parte integrante das rotinas do lab e da própria equipa e isto acaba por ter repercussões na seriedade com que agarramos o trabalho. Foi também com grande alegria que submetemos o projeto ao programa GAPIC (Gabinete de Apoio à Investigação Científica Tecnológica e Investigação)/Gulbenkian que aprovou e apoiou o projeto.
Integrei então um projeto na UBCA com o Daniel Ribeiro, investigador e estudante de doutoramento, cujo âmbito é o de dissecar e conhecer quais os mecanismos de sinalização pelos quais a IL-7 medeia a regulação da autofagia em leucemias linfoblásticas agudas de células T.
Porquê este trabalho?
A leucemia linfoblástica aguda (LLA) é a neoplasia maligna mais comum em idade pediátrica. O fenótipo de células T (LLA-T,) ainda que menos frequente, é aquele que se associa com maior risco e pior prognóstico, pelo que terapêuticas dirigidas a vias de sinalização de células-alvo envolvidas no processo tumoral, são particularmente promissoras.
A IL-7 é uma interleucina que induz a proliferação, diferenciação e sobrevivência das células T normais e que está também presente no microambiente das LLA-T tendo o potencial de modular a expansão da leucemia. E o nosso laboratório já demonstrou in vivo que a IL-7 pode acelerar o desenvolvimento de LLA-T em humanos. Demonstrou também que PI3K é um efetor major da indução da viabilidade e proliferação de LLA-T pela IL-7, via ativação da via de sinalização PI3K/Akt/mTOR, sendo que a serina-treonina-quinase mTOR é um importante regulador negativo da autofagia.
A autofagia é um processo intracelular que promove a degradação de compartimentos citoplasmáticos, que ocorre em níveis basais em células normais e que é activado pela privação de nutrientes como um mecanismo compensatório. Por outro lado, as células de proliferação rápida como as células tumorais, podem ativar a autofagia como mecanismo de sobrevivência, ou seja, como mecanismo pró-oncogénico. No entanto, quando persistente, deixa de ser protetora para as células tumorais e leva à morte celular, adquirindo um papel supressor tumoral. Um trabalho anterior do nosso laboratório, desenvolvido no âmbito do projecto GAPIC-09-2012, gerou dados preliminares que sugerem que a IL-7 pode inibir a autofagia em células TAIL7, uma linha celular LLA-T muito semelhante a células primárias de doentes. Demonstrámos também que a IL-7 regula negativamente lipidação/clivagem do LC3, uma característica da indução autofagia, com impacto funcional na viabilidade e activação de células-T malignas.
Assim, o atual projeto pretende elucidar, de uma forma mais aprofundada, os mecanismos moleculares e suas consequências funcionais, pelos quais a IL-7 modula a autofagia em células LLA-T, para conduzir à identificação de novos alvos possíveis no futuro de intervenção terapêutica.
Trabalhar na UBCA, com um grupo espetacular de pessoas sempre disponíveis para me ajudar (e especificamente neste projeto), tem sido uma mais-valia muito grande. Tenho adquirido e desenvolvido várias competências que decerto me serão muito uteis na minha vida futura. É interessante como por vezes os resultados que obtemos não são os que esperávamos, mas nem por isso menos interessantes. Pensar e discutir sobre esses resultados torna-se o maior desafio e um grande estímulo para trabalhos futuros ou caminhos futuros dentro do mesmo trabalho. Embora saiba que o meu papel no lab é francamente pequeno na dimensão do trabalho que desenvolvem, tem um elevado papel na minha experiência académica, pelo que não poderia estar mais grata pela minha escolha. Aproveito assim a oportunidade para agradecer ao meu tutor Prof. João Barata ter-me aceite na UBCA, a todo o grupo e, em especial ao Daniel Ribeiro, pela disponibilidade que sempre têm comigo, e agradecer ao programa GAPIC/Gulbenkian por terem aceitado, apoiado e financiado o projeto.
Maria Inês Felizardo Lopes,
5º Ano do Mestrado Integrado em Medicina FMUL;
Trabalho Final de Mestrado na Unidade de Biologia do Cancro, Instituto de Medicina Molecular.
Tutor do Projeto: Professor Doutor João Taborda Barata, UBCA, IMM.
