Investigação e Formação Avançada
Curso doutoral “Doenças metabólicas e comportamento alimentar”
A experiência de um novo modelo pedagógico
A iniciativa da criação deste curso centrou-se em duas ideias básicas:
1. Elevar o nível académico de preparação numa área emergente em termos de saúde das populações.
2. Estruturar o ensino teórico e as suas derivações práticas duma forma interdisciplinar, transversal a áreas que habitualmente não se relacionam entre si.
Dada a evolução e a selecção genética do ser humano, verifica-se que aquilo que foi um benefício numa perspectiva evolucionista – o complexo poligénico do “bom aproveitamento” metabólico e o seu fenotipo, a insulinorresistência – foi-se transformando num factor de risco em época de abundância calórica e de sedentarismo.
A obesidade é um factor de risco de diabetes e as duas patologias tornam-se factores de risco directo de doença cardiovascular. E, na era do prolongamento da esperança de vida, surge assim, paradoxalmente, um aumento de risco de doença e morte precoces, quando comparadas com esse prolongamento possível dadas as novas condições humanas nos países desenvolvidos. E relativamente aos que estão “ em vias de desenvolvimento” o beco é sem saída, usando a expressão da Organização Mundial de Saúde – quando saírem da fome entram directamente na obesidade, diabetes e risco cardiovascular.
Esta nova conjuntura da patologia humana é sem dúvida apaixonante sob ponto de vista do seu estudo – genético, bioquímico e social. Por outro lado enquadra-se nas situações evitáveis ou que são, pelo menos em parte controláveis, porque dependem do comportamento humano – os hábitos alimentares e da actividade física.
Paralelamente à emergência deste predomínio das doenças do metabolismo, ocorrem as patologias do comportamento alimentar com elas correlacionáveis. No entanto, a par das verdadeiras doenças do comportamento alimentar – anorexia nervosa, bulimia nervosa, compulsão – restrição, perturbação compulsiva – existe a batalha quotidiana da luta contra a obesidade que consiste sempre no doseamento certo ou diferencial entre o que se ingere e o que se gasta, num mundo rodeado de apelo ao consumismo calórico e ao sedentarismo, ambos ancorados nas nossas raízes arcaicas. Trata-se aqui de questões culturais, sociais, económicas e políticas.
A interdisciplinaridade
Para tratar esta área pensou-se num novo modelo de aprendizagem teórica. Vivemos numa época em que de novo se impõe a interdisciplinaridade. É visível que os novos textos de filosofia ou de ciências sociais se servem, ou já não podem mesmo dispensar, os novos conceitos de bioquímica, física e biologia. De igual modo a biologia e particularmente a biologia humana não pode ser um compartimento fechado às outras ciências. A perspectiva evolucionista é hoje um novo instrumento para perceber a fisiologia e a patologia humana. Distinguir o “ biológico”, do “natural”, do “cultural” é puro trabalho académico mecanicista se não houver um esforço de integração e de aceitação do pensamento complexo, porque complexa é a realidade. E se o pensamento científico chega a alguns patamares de consolidação de conceitos (provavelmente transitórios), muitos outros ficam como perguntas abertas, a que as várias áreas científicas apenas podem responder de forma fraccionada.
Por isso pensámos que neste campo das doenças do metabolismo e do comportamento alimentar se podia ir do mais micro da percepção humana – a bioquímica, a genética – ao mais macro e mais colectivo – a sociologia.
Assim o entendeu a Comissão Científica do Curso, constituída por:
Prof. Doutor Brás Nogueira
Prof. Doutor Constantino Sakellarides
Prof. Doutor Daniel Sampaio
Prof. Doutor Henrique Bicha Castelo
Profª Doutora Isabel do Carmo
Prof. Doutor João Martins
Prof. Doutor Manuel Bicho
As áreas definidas foram:
1. Determinantes e consequências das doenças metabólicas
2. Alimentação humana
3. Epidemiologia e avaliação da obesidade
4. Bioquímica geral
5. Bioquímica aplicada
6. Genética
7. Diabetes e Síndroma metabólica
8. Doenças do Comportamento Alimentar
9. Risco cardiometabólico na prática clínica e modificações no estilo de vida
10. Anatomofisiologia e Cirurgia.
A diversidade destas áreas não segue pois o esquema tradicional de aprofundamento gradual duma só matéria, mas arrisca dar um panorama geral, embora a alto nível, de matérias diversas mas conectáveis.
Após o curso teórico avançado, cada um escolherá a matéria que vai aprofundar, usando no entanto os instrumentos que lhe foram disponibilizados pelas outras disciplinas. Esta perspectiva “renascentista” é um desafio que pode entusiasmar, se cada um perceber que aquilo que está a aprender não é o que se poderia arrumar com a classificação de “cultura geral”, mas a abertura de portas e janelas sem as quais o conhecimento humano, mesmo que especializado, não pode progredir.
Bibliografia
- Carmo I, dos Santos O, Camolas J, Vieira J, Carreira M, Reis, L, Myatt J,
Galvão –Teles A. Overweight and obesity in Portugal: national prevalence in 2003 – 2005. Obesity Rev2008; 9: 11-19.
- Carvalho H. Análise multivariada de dados qualitativos – utilização da análise, de correspondências múltiplas com o SPSS, Edições Silabo, Manchester, 2008.
- French SA, Story M, Jeffery RW, Environmental influences on eating and physical activity. Ann Rev Pub Health 2001; 22:309- 35.
- Garrow JS and Webster J. Quetelet's index (w/H2) as a measure of fatness. Int Journal of obesity 1985; 9: 147-153.
- Hodge AM and Zimmet P Z. The epidemiology of obesity. Bailliere's clinical Endocrinology and metabolism, 1994, 8(nº 3): 577 – 599.
- Lichtenstein AH et al. Diet and lifestyle – le recommendations revision 2006: a scientific statement from the American heart association Nutrition committee. Circulation, 2006; 114: 82 – 96.
- Lobstein T and Frehnt ML. Prevalence of overweight among children in Europe. Obesity Rev 2003; 4: 195 – 200.
- Marmot M. Health in an unequal World, Royal College of Physicians of London, 2006.
- Ogden C et al. Prevalence of overweight and obesity in the United States, 1999-2004 J AMA, 2006, 295 : 1549 – 1555.
- OMS. Obesity. Preventing and managing the global epidemic, Geneva, 1997.
- Padez C et al. Prevalence of Overweight and obesity in 7 – 9 year old Portuguese children: trends in body mass index from 1970 – 2002.
- Am. J Hum Biol 2004; 16 : 670 – 678.
- Resmicowk. Workshop entrevista motivacional, Faculdade de Motricidade
Humana, 2007.
- Silva M et al. A randomized controlled trial to evaluate self – determination
theory for exercise adherence and weight control: rationale and intervention
description. BMC Public health 2008; 8: 1 – 13.
- Teixeira P et al. A actividade física e o exercício no tratamento da Obesidade.
Endocr Metab e Nutr 2006; 15(nº 1): 1-15.
- Tremblay A and Doucet E. Obesity: a disease or a biological adaptation? Obes. Rev 2000; 1: 27 -35.
- Vilaverde-Cabral e col. Doença e Saúde em Portugal, ed ICS, 2006.
- World Cancer Research Fund, Am Institute for Cancer Research, Instituto Nacional de Cancer, Alimentos, Nutrição, Actividade Física e Prevenção de Câncer: uma perspectiva global, Rio de Janeiro, INCA, 2007.
- Zimmet P, Dowse G, Find C. the epidemiology and natural history of NIDM – lessons from the South Pacific. Diabetes/ Metabolism rev 1990; 6 (nº 2): 91 – 124.
Páginas da Internet recomendadas
Direcção Geral de Saúde – www.dgs.pt
National Institutes of Health – www.nih.gov
Center for Disease Control – www.cdc.gov
U.S. Department of Agriculture, Food Composition Tables – www.usda.gov
American Dietetic Association – www.adaf.org
Institute of Medicine, Dietary Reference Intakes – www.iom.edu
Food and Drug Administration – www.fda.gov
Isabel do Carmo
isabel.carmo@hsm.min-saude.pt
secretariadoheid@gmail.com
A iniciativa da criação deste curso centrou-se em duas ideias básicas:
1. Elevar o nível académico de preparação numa área emergente em termos de saúde das populações.
2. Estruturar o ensino teórico e as suas derivações práticas duma forma interdisciplinar, transversal a áreas que habitualmente não se relacionam entre si.
Dada a evolução e a selecção genética do ser humano, verifica-se que aquilo que foi um benefício numa perspectiva evolucionista – o complexo poligénico do “bom aproveitamento” metabólico e o seu fenotipo, a insulinorresistência – foi-se transformando num factor de risco em época de abundância calórica e de sedentarismo.
A obesidade é um factor de risco de diabetes e as duas patologias tornam-se factores de risco directo de doença cardiovascular. E, na era do prolongamento da esperança de vida, surge assim, paradoxalmente, um aumento de risco de doença e morte precoces, quando comparadas com esse prolongamento possível dadas as novas condições humanas nos países desenvolvidos. E relativamente aos que estão “ em vias de desenvolvimento” o beco é sem saída, usando a expressão da Organização Mundial de Saúde – quando saírem da fome entram directamente na obesidade, diabetes e risco cardiovascular.
Esta nova conjuntura da patologia humana é sem dúvida apaixonante sob ponto de vista do seu estudo – genético, bioquímico e social. Por outro lado enquadra-se nas situações evitáveis ou que são, pelo menos em parte controláveis, porque dependem do comportamento humano – os hábitos alimentares e da actividade física.
Paralelamente à emergência deste predomínio das doenças do metabolismo, ocorrem as patologias do comportamento alimentar com elas correlacionáveis. No entanto, a par das verdadeiras doenças do comportamento alimentar – anorexia nervosa, bulimia nervosa, compulsão – restrição, perturbação compulsiva – existe a batalha quotidiana da luta contra a obesidade que consiste sempre no doseamento certo ou diferencial entre o que se ingere e o que se gasta, num mundo rodeado de apelo ao consumismo calórico e ao sedentarismo, ambos ancorados nas nossas raízes arcaicas. Trata-se aqui de questões culturais, sociais, económicas e políticas.
A interdisciplinaridade
Para tratar esta área pensou-se num novo modelo de aprendizagem teórica. Vivemos numa época em que de novo se impõe a interdisciplinaridade. É visível que os novos textos de filosofia ou de ciências sociais se servem, ou já não podem mesmo dispensar, os novos conceitos de bioquímica, física e biologia. De igual modo a biologia e particularmente a biologia humana não pode ser um compartimento fechado às outras ciências. A perspectiva evolucionista é hoje um novo instrumento para perceber a fisiologia e a patologia humana. Distinguir o “ biológico”, do “natural”, do “cultural” é puro trabalho académico mecanicista se não houver um esforço de integração e de aceitação do pensamento complexo, porque complexa é a realidade. E se o pensamento científico chega a alguns patamares de consolidação de conceitos (provavelmente transitórios), muitos outros ficam como perguntas abertas, a que as várias áreas científicas apenas podem responder de forma fraccionada.
Por isso pensámos que neste campo das doenças do metabolismo e do comportamento alimentar se podia ir do mais micro da percepção humana – a bioquímica, a genética – ao mais macro e mais colectivo – a sociologia.
Assim o entendeu a Comissão Científica do Curso, constituída por:
Prof. Doutor Brás Nogueira
Prof. Doutor Constantino Sakellarides
Prof. Doutor Daniel Sampaio
Prof. Doutor Henrique Bicha Castelo
Profª Doutora Isabel do Carmo
Prof. Doutor João Martins
Prof. Doutor Manuel Bicho
As áreas definidas foram:
1. Determinantes e consequências das doenças metabólicas
2. Alimentação humana
3. Epidemiologia e avaliação da obesidade
4. Bioquímica geral
5. Bioquímica aplicada
6. Genética
7. Diabetes e Síndroma metabólica
8. Doenças do Comportamento Alimentar
9. Risco cardiometabólico na prática clínica e modificações no estilo de vida
10. Anatomofisiologia e Cirurgia.
A diversidade destas áreas não segue pois o esquema tradicional de aprofundamento gradual duma só matéria, mas arrisca dar um panorama geral, embora a alto nível, de matérias diversas mas conectáveis.
Após o curso teórico avançado, cada um escolherá a matéria que vai aprofundar, usando no entanto os instrumentos que lhe foram disponibilizados pelas outras disciplinas. Esta perspectiva “renascentista” é um desafio que pode entusiasmar, se cada um perceber que aquilo que está a aprender não é o que se poderia arrumar com a classificação de “cultura geral”, mas a abertura de portas e janelas sem as quais o conhecimento humano, mesmo que especializado, não pode progredir.
Bibliografia
- Carmo I, dos Santos O, Camolas J, Vieira J, Carreira M, Reis, L, Myatt J,
Galvão –Teles A. Overweight and obesity in Portugal: national prevalence in 2003 – 2005. Obesity Rev2008; 9: 11-19.
- Carvalho H. Análise multivariada de dados qualitativos – utilização da análise, de correspondências múltiplas com o SPSS, Edições Silabo, Manchester, 2008.
- French SA, Story M, Jeffery RW, Environmental influences on eating and physical activity. Ann Rev Pub Health 2001; 22:309- 35.
- Garrow JS and Webster J. Quetelet's index (w/H2) as a measure of fatness. Int Journal of obesity 1985; 9: 147-153.
- Hodge AM and Zimmet P Z. The epidemiology of obesity. Bailliere's clinical Endocrinology and metabolism, 1994, 8(nº 3): 577 – 599.
- Lichtenstein AH et al. Diet and lifestyle – le recommendations revision 2006: a scientific statement from the American heart association Nutrition committee. Circulation, 2006; 114: 82 – 96.
- Lobstein T and Frehnt ML. Prevalence of overweight among children in Europe. Obesity Rev 2003; 4: 195 – 200.
- Marmot M. Health in an unequal World, Royal College of Physicians of London, 2006.
- Ogden C et al. Prevalence of overweight and obesity in the United States, 1999-2004 J AMA, 2006, 295 : 1549 – 1555.
- OMS. Obesity. Preventing and managing the global epidemic, Geneva, 1997.
- Padez C et al. Prevalence of Overweight and obesity in 7 – 9 year old Portuguese children: trends in body mass index from 1970 – 2002.
- Am. J Hum Biol 2004; 16 : 670 – 678.
- Resmicowk. Workshop entrevista motivacional, Faculdade de Motricidade
Humana, 2007.
- Silva M et al. A randomized controlled trial to evaluate self – determination
theory for exercise adherence and weight control: rationale and intervention
description. BMC Public health 2008; 8: 1 – 13.
- Teixeira P et al. A actividade física e o exercício no tratamento da Obesidade.
Endocr Metab e Nutr 2006; 15(nº 1): 1-15.
- Tremblay A and Doucet E. Obesity: a disease or a biological adaptation? Obes. Rev 2000; 1: 27 -35.
- Vilaverde-Cabral e col. Doença e Saúde em Portugal, ed ICS, 2006.
- World Cancer Research Fund, Am Institute for Cancer Research, Instituto Nacional de Cancer, Alimentos, Nutrição, Actividade Física e Prevenção de Câncer: uma perspectiva global, Rio de Janeiro, INCA, 2007.
- Zimmet P, Dowse G, Find C. the epidemiology and natural history of NIDM – lessons from the South Pacific. Diabetes/ Metabolism rev 1990; 6 (nº 2): 91 – 124.
Páginas da Internet recomendadas
Direcção Geral de Saúde – www.dgs.pt
National Institutes of Health – www.nih.gov
Center for Disease Control – www.cdc.gov
U.S. Department of Agriculture, Food Composition Tables – www.usda.gov
American Dietetic Association – www.adaf.org
Institute of Medicine, Dietary Reference Intakes – www.iom.edu
Food and Drug Administration – www.fda.gov
Isabel do Carmo
isabel.carmo@hsm.min-saude.pt
secretariadoheid@gmail.com
