Quem disse que os médicos… perdão, corrijo: que uma médica não pode ser boa gestora?Nos anos finais do meu curso de Mestrado Integrado em Medicina tive a grata oportunidade de contactar com a área da gestão, quer através da disciplina optativa de Administração e Gestão Hospitalar da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, quer através dos cargos executivos que desempenhei em várias associações nacionais e internacionais.
Foi, pois, com natural interesse e curiosidade, que sempre acompanhei e me mantive informada acerca das mais diversas iniciativas de enriquecimento pessoal e curricular destinadas a jovens. Entre essas iniciativas destaco neste artigo o concurso “CEO por um dia”, promovido pelo jornal Expresso e pela consultora Ray Human Capital. Este concurso visava selecionar jovens em fase de conclusão de licenciatura para vivenciarem um dia com o CEO de uma grande empresa portuguesa – o diretor executivo, do inglês “chief executive officer”. O gosto pela gestão e o facto de na edição anterior também ter sido selecionado um aluno da FMUL (Ricardo Andrade) foram dois fatores decisivos que contribuíram para me candidatar à edição deste ano.
Depois de várias provas e entrevistas presenciais, e a escassos dias da minha temida Prova Nacional de Seriação, recebi finalmente o veredito final: tinha sido uma das 7 seleccionadas para passar um dia com um dos CEO! Pouco depois viria ainda a saber que havia sido a única pessoa selecionada com formação de base não relacionada com a gestão, e que iria passar um dia com a Dra. Leonor Beleza, CEO da Fundação Champalimaud.
Acerca do próprio dia, posso dizer que as minhas melhores expectativas foram integral e extraordinariamente superadas. Durante a minha receção na Fundação Champalimaud, a Dra. Leonor Beleza e os seus colaboradores mostraram-me todos os espaços, explicando-me a par e passo como foi possível colocar tamanha “máquina” em pleno funcionamento em tempo record. Impressionou-me a abordagem tecnológica e verdadeiramente futurista na prestação de cuidados ao doente oncológico, cuidadosamente acompanhado e acarinhado em todos os seus momentos no interior da Fundação.
Todo este dia foi um vislumbre de um mundo do qual quero fazer parte. Bem sei que é relativamente fácil adotar semelhantes medidas quando o financiamento não é a preocupação cimeira – contrariamente, por exemplo, ao caso do SNS – contudo, não posso deixar de pensar que assisti a inúmeras medidas em que poderei inspirar-me para o futuro da prática clínica em Portugal, para cuja modernização e crescente eficiência pretendo contribuir enquanto profissional.
Algumas semanas depois de ter vivido esta experiência e refletido devidamente sobre ela, cheguei à conclusão de que ela foi deveras importante para confirmar o que há muito suspeitava: a minha carreira passará indubitavelmente pela Gestão, preferencialmente ao serviço da Medicina. A par desta certeza, cresceu em mim o forte desejo de oferecer aos meus colegas que ainda frequentam o curso de Medicina mais oportunidades de contacto com esta área: encontro-me a ultimar preparos para submeter a candidatura de uma nova disciplina do tronco optativo, centrada na Gestão e cujo objetivo principal é proporcionar aos alunos ferramentas básicas de gestão que possam aplicar na sua vida pessoal e profissional.
Como não poderia deixar de ser, quero expressar os maiores agradecimentos a toda a equipa da Ray Human Capital, em especial à sua CEO, Ana Loya, por me proporcionar esta oportunidade. Da mesma forma, deixo também um sentido agradecimento à Dra. Leonor Beleza, pelo dia enriquecedor na Fundação Champalimaud e pela sabedoria que tão gentilmente partilhou comigo.
(fotografias: Nuno Botelho/Expresso)
Sofia Ribeiro,
Médica Interna do Ano Comum
Centro Hospitalar de Lisboa Central
sigmaserena@gmail.com
