Investigação e Formação Avançada
Programa de Intercâmbio de Médicos IMM-INSERM
Entrevista a Sara Gonçalves, primeira médica seleccionada para o programa de intercâmbio de médicos IMM-INSERM
“Considero que a investigação científica constitui um pilar fundamental da Medicina actual”
Sara Gonçalves é médica e vai desenvolver, durante os próximos dois anos, um projecto de investigação no Instituto Nacional de Saúde e Investigação Médica francês (INSERM). É a primeira médica do Instituto de Medicina Molecular/Centro Académico de Medicina de Lisboa seleccionada para o programa "Poste d’accueil", um programa do INSERM para introduzir médicos na investigação. Este intercâmbio surge no âmbito do protocolo de colaboração entre o Instituto de Medicina Molecular (IMM) e o INSERM em investigação clínica, assinado em Julho de 2010. Protocolo esse que também inclui a organização conjunta de workshops internacionais em temas científico-tecnológicos de ponta e orientação de investigação para estudantes de Medicina. O programa "Poste d’accueil" terá nova edição em 2012, e os interessados devem desde já contactar a coordenadora da formação avançada do IMM, Inês Crisóstomo (icrisostomo@fm.ul.pt ).
Segue-se o testemunho de Sara Gonçalves, numa entrevista realizada por email.
Como é o seu percurso profissional e porque é que decidiu candidatar-se a este intercâmbio de investigação?
Concluí a Licenciatura em Medicina na Faculdade de Medicina de Lisboa em 2002 e o Internato Complementar de Nefrologia no Serviço de Nefrologia e Transplantação Renal do Hospital de Santa Maria em 2010. Durante o Internato tive a oportunidade de participar em vários projectos de investigação clínica, nomeadamente nas áreas da nefropatia diabética e da lesão renal aguda. Em 2009, realizei um estágio optativo de investigação básica aplicada à Nefrologia, no Laboratório de Nefrologia Experimental da Fundación Jiménez Diaz, em Madrid. Esta foi uma experiência extremamente enriquecedora, que me demonstrou a importância da comunicação entre a ciência e a prática médica. Estas experiências motivaram-me a procurar um programa de formação que me permitisse, no futuro, desenvolver uma carreira com uma forte vertente de investigação aliada à clínica. O programa de intercâmbio entre o Instituto de Medicina Molecular (IMM) e o Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale (INSERM) surgiu assim como a possibilidade de iniciar este percurso da melhor maneira: supervisionada por investigadores experientes, num centro de investigação em Nefrologia de renome internacional e ainda com a possibilidade de posteriormente continuar a actividade de investigação no Centro Académico de Medicina de Lisboa (CAML).
É a primeira médica a ser seleccionada para este programa de intercâmbio, como decorreu a fase de candidaturas?
Neste ponto devo referir que a Dra. Inês Crisóstomo me proporcionou um excelente apoio no processo de candidatura. Foi igualmente importante a aceitação da minha participação no programa pelo meu director de Serviço, Dr. António Gomes da Costa.
O primeiro passo foi identificar as unidades de investigação do INSERM que melhor se adequavam ao meu perfil e ao tipo de projecto que estava interessada em desenvolver. Posteriormente, contactei estas unidades para averiguar a sua disponibilidade de acolhimento e para delinearmos o projecto. O contacto deverá ser o mais atempado possível de modo a permitir um conhecimento amplo da equipa que nos recebe, a elaboração de um projecto de investigação consistente e a conexão com as estruturas de investigação do IMM.
As candidaturas são submetidas a uma primeira selecção e, se aceites, é necessária uma entrevista na sede do INSERM que consiste na apresentação do candidato e do projecto a desenvolver. Esta foi talvez a etapa revestida de maior ansiedade mas o resultado felizmente foi positivo.
Em que consiste o projecto que vai desenvolver nos próximos dois anos no INSERM, em França?
Este projecto tem como objectivos identificar os micro-RNAs que contribuem para o normal funcionamento dos podócitos e explorar novas vias genéticas que contribuam para a disfunção glomerular no contexto do envelhecimento e das doenças renais. Os micro-RNAs são RNAs não codificantes que regulam a expressão genética ao nível pós-transcrição. Estão envolvidos em múltiplos processos fisiopatológicos e, recentemente, foram também implicados em várias doenças renais. Contudo, o papel dos micro-RNAs ao nível dos podócitos, células fulcrais no processo de envelhecimento renal e no síndrome nefrótico, não se encontra ainda definido. Para identificarmos quais os micro-RNAs envolvidos vamos utilizar uma nova técnica de isolamento de podócitos que será aplicada a modelos animais de envelhecimento e de síndrome nefrótico. Os micro-RNAs identificados vão ser também avaliados como potencias biomarcadores urinários nos modelos animais e em humanos, sendo os resultados também validados em biópsias renais de idosos e de doentes com síndrome nefrótico.
Por que razão é importante para si, médica, fazer investigação científica?
Considero que a investigação científica constitui um pilar fundamental da Medicina actual. A investigação instiga um espírito crítico e observador, fundamentais na prática médica. Por outro lado, a ênfase colocada na fisiopatologia das doenças permite uma melhor compreensão das mesmas e do racional das respectivas terapêuticas, constituindo uma indubitável mais-valia na abordagem das patologias encontradas. Recentemente, tem sido dada grande ênfase à possibilidade de translação entre a Ciência Básica e a prática clínica, pretendendo-se manter um fluxo bidireccional entre os dois campos. Deste modo, os problemas que surgem na prática médica constituem o início da investigação básica subsequente, e, de modo inverso, o conhecimento fisiopatológico obtido transborda para a clínica como novos biomarcadores ou alvos terapêuticos. Deste modo, considero que a clínica serve, simultaneamente, como ponto de partida e de chegada, e a Ciência Básica como um fulcral intermediário que permite explorar novos caminhos.
Como vê a importância deste intercâmbio para a sua carreira?
Penso que este intercâmbio constitui uma oportunidade única para dar os primeiros passos no sentido de perseguir uma carreira com um forte componente de investigação de translação na área da Nefrologia. A possibilidade de posteriormente poder continuar a actividade de investigação em colaboração com o grupo de micro-RNAs da Unidade de Biologia Celular do IMM é sem dúvida outra mais-valia, que permite assim a continuidade do caminho iniciado. Pretendo ainda candidatar-me ao programa doutoral do CAML, integrando as linhas de investigação que derivarem deste projecto. Espero que apesar de todos os desafios práticos que possam advir do facto de ter uma formação de base eminentemente clínica e não de laboratório, sobressaiam também as vantagens de poder dar um contributo do saber da prática médica e que dessa interacção se desenvolva um crescimento sólido.
Ana Catarina Rebelo
Gabinete de Comunicação IMM
anarebelo@fm.ul.pt
“Considero que a investigação científica constitui um pilar fundamental da Medicina actual”
Sara Gonçalves é médica e vai desenvolver, durante os próximos dois anos, um projecto de investigação no Instituto Nacional de Saúde e Investigação Médica francês (INSERM). É a primeira médica do Instituto de Medicina Molecular/Centro Académico de Medicina de Lisboa seleccionada para o programa "Poste d’accueil", um programa do INSERM para introduzir médicos na investigação. Este intercâmbio surge no âmbito do protocolo de colaboração entre o Instituto de Medicina Molecular (IMM) e o INSERM em investigação clínica, assinado em Julho de 2010. Protocolo esse que também inclui a organização conjunta de workshops internacionais em temas científico-tecnológicos de ponta e orientação de investigação para estudantes de Medicina. O programa "Poste d’accueil" terá nova edição em 2012, e os interessados devem desde já contactar a coordenadora da formação avançada do IMM, Inês Crisóstomo (icrisostomo@fm.ul.pt ).
Segue-se o testemunho de Sara Gonçalves, numa entrevista realizada por email.
Como é o seu percurso profissional e porque é que decidiu candidatar-se a este intercâmbio de investigação?
Concluí a Licenciatura em Medicina na Faculdade de Medicina de Lisboa em 2002 e o Internato Complementar de Nefrologia no Serviço de Nefrologia e Transplantação Renal do Hospital de Santa Maria em 2010. Durante o Internato tive a oportunidade de participar em vários projectos de investigação clínica, nomeadamente nas áreas da nefropatia diabética e da lesão renal aguda. Em 2009, realizei um estágio optativo de investigação básica aplicada à Nefrologia, no Laboratório de Nefrologia Experimental da Fundación Jiménez Diaz, em Madrid. Esta foi uma experiência extremamente enriquecedora, que me demonstrou a importância da comunicação entre a ciência e a prática médica. Estas experiências motivaram-me a procurar um programa de formação que me permitisse, no futuro, desenvolver uma carreira com uma forte vertente de investigação aliada à clínica. O programa de intercâmbio entre o Instituto de Medicina Molecular (IMM) e o Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale (INSERM) surgiu assim como a possibilidade de iniciar este percurso da melhor maneira: supervisionada por investigadores experientes, num centro de investigação em Nefrologia de renome internacional e ainda com a possibilidade de posteriormente continuar a actividade de investigação no Centro Académico de Medicina de Lisboa (CAML).
É a primeira médica a ser seleccionada para este programa de intercâmbio, como decorreu a fase de candidaturas?
Neste ponto devo referir que a Dra. Inês Crisóstomo me proporcionou um excelente apoio no processo de candidatura. Foi igualmente importante a aceitação da minha participação no programa pelo meu director de Serviço, Dr. António Gomes da Costa.
O primeiro passo foi identificar as unidades de investigação do INSERM que melhor se adequavam ao meu perfil e ao tipo de projecto que estava interessada em desenvolver. Posteriormente, contactei estas unidades para averiguar a sua disponibilidade de acolhimento e para delinearmos o projecto. O contacto deverá ser o mais atempado possível de modo a permitir um conhecimento amplo da equipa que nos recebe, a elaboração de um projecto de investigação consistente e a conexão com as estruturas de investigação do IMM.
As candidaturas são submetidas a uma primeira selecção e, se aceites, é necessária uma entrevista na sede do INSERM que consiste na apresentação do candidato e do projecto a desenvolver. Esta foi talvez a etapa revestida de maior ansiedade mas o resultado felizmente foi positivo.
Em que consiste o projecto que vai desenvolver nos próximos dois anos no INSERM, em França?
Este projecto tem como objectivos identificar os micro-RNAs que contribuem para o normal funcionamento dos podócitos e explorar novas vias genéticas que contribuam para a disfunção glomerular no contexto do envelhecimento e das doenças renais. Os micro-RNAs são RNAs não codificantes que regulam a expressão genética ao nível pós-transcrição. Estão envolvidos em múltiplos processos fisiopatológicos e, recentemente, foram também implicados em várias doenças renais. Contudo, o papel dos micro-RNAs ao nível dos podócitos, células fulcrais no processo de envelhecimento renal e no síndrome nefrótico, não se encontra ainda definido. Para identificarmos quais os micro-RNAs envolvidos vamos utilizar uma nova técnica de isolamento de podócitos que será aplicada a modelos animais de envelhecimento e de síndrome nefrótico. Os micro-RNAs identificados vão ser também avaliados como potencias biomarcadores urinários nos modelos animais e em humanos, sendo os resultados também validados em biópsias renais de idosos e de doentes com síndrome nefrótico.
Por que razão é importante para si, médica, fazer investigação científica?
Considero que a investigação científica constitui um pilar fundamental da Medicina actual. A investigação instiga um espírito crítico e observador, fundamentais na prática médica. Por outro lado, a ênfase colocada na fisiopatologia das doenças permite uma melhor compreensão das mesmas e do racional das respectivas terapêuticas, constituindo uma indubitável mais-valia na abordagem das patologias encontradas. Recentemente, tem sido dada grande ênfase à possibilidade de translação entre a Ciência Básica e a prática clínica, pretendendo-se manter um fluxo bidireccional entre os dois campos. Deste modo, os problemas que surgem na prática médica constituem o início da investigação básica subsequente, e, de modo inverso, o conhecimento fisiopatológico obtido transborda para a clínica como novos biomarcadores ou alvos terapêuticos. Deste modo, considero que a clínica serve, simultaneamente, como ponto de partida e de chegada, e a Ciência Básica como um fulcral intermediário que permite explorar novos caminhos.
Como vê a importância deste intercâmbio para a sua carreira?
Penso que este intercâmbio constitui uma oportunidade única para dar os primeiros passos no sentido de perseguir uma carreira com um forte componente de investigação de translação na área da Nefrologia. A possibilidade de posteriormente poder continuar a actividade de investigação em colaboração com o grupo de micro-RNAs da Unidade de Biologia Celular do IMM é sem dúvida outra mais-valia, que permite assim a continuidade do caminho iniciado. Pretendo ainda candidatar-me ao programa doutoral do CAML, integrando as linhas de investigação que derivarem deste projecto. Espero que apesar de todos os desafios práticos que possam advir do facto de ter uma formação de base eminentemente clínica e não de laboratório, sobressaiam também as vantagens de poder dar um contributo do saber da prática médica e que dessa interacção se desenvolva um crescimento sólido.
Ana Catarina Rebelo
Gabinete de Comunicação IMM
anarebelo@fm.ul.pt