Espaço Aberto
Sacos e Mochilas: “pesos” de hoje e “fardos” de amanhã (PARTE III)
Não há dúvida de que o culto do uso individual do livro, no qual o aluno escreve, desenha, pinta e anota, constitui uma estratégia de ensino bem diferente da que se aconselhava e seguia há largos anos atrás, em que tudo se gravava em cadernos, poupando-se, o mais possível, a integridade do dito livro.
Esta metodologia actual implica, é certo, uma ligação mais envolvente com o próprio livro, mas em nada facilita a solução do problema em causa, se o mesmo tiver que ser, eventualmente, transportado todos os dias na sacola ou na mochila. A menos que os docentes tenham o cuidado de educar e orientar os seus alunos no sentido de apenas levarem consigo, no dia-a-dia, as obras ou livros essenciais para o trabalho programático previsto.
O livro, cada livro, assim utilizado, servindo, simultaneamente, de leitura e de caderno de apontamentos, se não se proceder a uma triagem diária do que fica em casa e do que tem que se levar, passa a ser algumas vezes um peso morto sem utilidade, já que nem sempre é necessário, a somar ao peso de outros tantos, ocasionalmente imprescindíveis ou também desnecessários carregados no saco ou na mochila.
Umas simples fotocópias, a cor ou a preto e branco, resolviam o problema mas implicavam algumas verbas-extra aplicadas na reformulação dos métodos de educação e formação escolar. E aliviavam-se as costas do alunos. Mas essa é a questão essencial. É problema que não parece implicar, até agora, “risco sanitário sistémico” e, como tal, poderá não justificar quaisquer medidas ou investimentos. Aliás, ou por falta de informação epidemiológica adequada ou por passividade das autoridades de saúde, a verdade é que o problema não parece incomodar ninguém, a não ser aqueles a quem o peso da mochila vai fazendo mossa.
Este tipo de patologia já se vai diagnosticando vezes demais nos nossos jovens e tudo quanto possa ser feito agora para diminuir o seu impacto reduzirá, no futuro, a onerosidade dos custos com a saúde. Estas artralgias, em especial, dorsalgias e raquialgias, desencadeadas pelo peso excessivo de sacos e mochilas escolares, face à sua dimensão, nem sempre bem aferida nas suas reais causas e complicações, se ainda não constituem, parece, preocupação muito evidente para os agentes responsáveis pelos domínios da educação e da saúde pública, pelo menos que se tornem um sinal de alerta para a comunicação social e sociedade civil, as quais têm servido sempre de porta-estandarte nas grandes marchas de mudança política do nosso País.
Se tal sistema fosse implementado, o da predominante utilização de fotocópias e meios informáticos, limitando gastos de papel, cada aluno poderia doar os seus próprios livros à biblioteca escolar no final de cada ano lectivo para distribuição e uso das gerações mais novas de estudantes, enquanto os programas curriculares não sofressem alterações, dando corpo ao recente projecto escolar do “Dar de Volta”. Seria uma iniciativa útil e solidária.
A outra alternativa, já acima referida, seria o uso de sacola ou mala-mochila com rodas. Cremos, mesmo, que esta solução, apesar de menos fashion aos olhos da juventude, constitui a hipótese de transporte com menos riscos para o utilizador.
Em todo o caso, este meio de transporte de material escolar implica também alguns cuidados e regras a ter na sua utilização:
1. Convém não exagerar o esforço de tracção, decidindo que, apenas porque a mala se movimenta sobre rodas, pode transportar tudo “quanto der na gana.” Há que proceder a uma constante triagem diária daquilo que se precisa. O que não é necessário fica em casa.
2. A pega do saco-mochila com rodas deve ser regulável, para se ajustar, o melhor possível, ao comprimento do braço do utilizador, evitando assim uma distância demasiado curta ou grande demais entre a mochila de rodas e quem a tracciona. Este correcto ajustamento não só diminui o esforço da criança, como previne posturas desequilibradas e curvaturas da coluna incorrectas.
3. Porque se trata de um esforço tendino-muscular e esquelético, há que equilibrar, de um modo razoável, o esforço ergonómico desenvolvido durante os momentos de tracção do referido saco-mochila. Aconselha-se, pois, que se puxe esta carga sem dobrar o “braço”, ou então dobrando-o apenas ligeiramente, de modo a evitar tendinites ou outras lesões musculares. Por outro lado, a mochila sobre rodas pode e deve ser puxada com ambas as mãos: no trajecto de ida com uma, no retorno (vinda) com outra. Deste modo, procura-se compensar e garantir a rotação da coluna, assegurar um desenvolvimento e uma tonificação muscular de ambos os membros superiores e uma saudável utilização das articulações e de todas as estruturas que participam nesse esforço diário.
4. O uso de saco-mochila com rodas implica também uma permanente preocupação com a lubrificação do sistema, permitindo que o mesmo deslize facilmente e não tenha que ser arrastado. Este cuidado visa, como é óbvio, a melhoria e diminuição do esforço de tracção.
Limitando a carga diária arrastada sobre rodas, sobre o dorso ou os ombros e reduzindo os gastos familiares anuais com a compra de livros, ainda que se tenha de investir, obrigatoriamente, na logística escolar, criando as necessárias condições para o trabalho e a aprendizagem do aluno durante o tempo de aulas, contribuir-se-ia, simultaneamente, para dois objectivos fundamentais: a saúde dos jovens e a economia das famílias, sobretudo daquelas que vivem em condições financeiras bastante difíceis, e essa vai sendo uma triste e alargada realidade em nossos dias.
Beneficiava-se, não só, a “saúde corporal” dos nossos jovens, como a sua “saúde económica” e a das respectivas famílias.
Estamos convictos de que a concretização de um projecto desta natureza traria, inevitavelmente, a médio e a longo prazo, benefícios e compensações nos domínios da saúde, da educação, da economia e da política.
O bem-estar físico e mental de cada cidadão deve constituir um dos mais elevados objectivos da política interna defendida e praticada pelo Estado.
Só apostando numa Juventude educada, forte, saudável e solidária, poderemos ganhar as “grandes batalhas” do futuro.
Prof. Doutor João Frada
Médico e Professor Universitário Apos. da Faculdade de Medicina de Lisboa
joaojcfrada@gmail.com
Esta metodologia actual implica, é certo, uma ligação mais envolvente com o próprio livro, mas em nada facilita a solução do problema em causa, se o mesmo tiver que ser, eventualmente, transportado todos os dias na sacola ou na mochila. A menos que os docentes tenham o cuidado de educar e orientar os seus alunos no sentido de apenas levarem consigo, no dia-a-dia, as obras ou livros essenciais para o trabalho programático previsto.
O livro, cada livro, assim utilizado, servindo, simultaneamente, de leitura e de caderno de apontamentos, se não se proceder a uma triagem diária do que fica em casa e do que tem que se levar, passa a ser algumas vezes um peso morto sem utilidade, já que nem sempre é necessário, a somar ao peso de outros tantos, ocasionalmente imprescindíveis ou também desnecessários carregados no saco ou na mochila.
Umas simples fotocópias, a cor ou a preto e branco, resolviam o problema mas implicavam algumas verbas-extra aplicadas na reformulação dos métodos de educação e formação escolar. E aliviavam-se as costas do alunos. Mas essa é a questão essencial. É problema que não parece implicar, até agora, “risco sanitário sistémico” e, como tal, poderá não justificar quaisquer medidas ou investimentos. Aliás, ou por falta de informação epidemiológica adequada ou por passividade das autoridades de saúde, a verdade é que o problema não parece incomodar ninguém, a não ser aqueles a quem o peso da mochila vai fazendo mossa.
Este tipo de patologia já se vai diagnosticando vezes demais nos nossos jovens e tudo quanto possa ser feito agora para diminuir o seu impacto reduzirá, no futuro, a onerosidade dos custos com a saúde. Estas artralgias, em especial, dorsalgias e raquialgias, desencadeadas pelo peso excessivo de sacos e mochilas escolares, face à sua dimensão, nem sempre bem aferida nas suas reais causas e complicações, se ainda não constituem, parece, preocupação muito evidente para os agentes responsáveis pelos domínios da educação e da saúde pública, pelo menos que se tornem um sinal de alerta para a comunicação social e sociedade civil, as quais têm servido sempre de porta-estandarte nas grandes marchas de mudança política do nosso País.
Se tal sistema fosse implementado, o da predominante utilização de fotocópias e meios informáticos, limitando gastos de papel, cada aluno poderia doar os seus próprios livros à biblioteca escolar no final de cada ano lectivo para distribuição e uso das gerações mais novas de estudantes, enquanto os programas curriculares não sofressem alterações, dando corpo ao recente projecto escolar do “Dar de Volta”. Seria uma iniciativa útil e solidária.
A outra alternativa, já acima referida, seria o uso de sacola ou mala-mochila com rodas. Cremos, mesmo, que esta solução, apesar de menos fashion aos olhos da juventude, constitui a hipótese de transporte com menos riscos para o utilizador.
Em todo o caso, este meio de transporte de material escolar implica também alguns cuidados e regras a ter na sua utilização:
1. Convém não exagerar o esforço de tracção, decidindo que, apenas porque a mala se movimenta sobre rodas, pode transportar tudo “quanto der na gana.” Há que proceder a uma constante triagem diária daquilo que se precisa. O que não é necessário fica em casa.
2. A pega do saco-mochila com rodas deve ser regulável, para se ajustar, o melhor possível, ao comprimento do braço do utilizador, evitando assim uma distância demasiado curta ou grande demais entre a mochila de rodas e quem a tracciona. Este correcto ajustamento não só diminui o esforço da criança, como previne posturas desequilibradas e curvaturas da coluna incorrectas.
3. Porque se trata de um esforço tendino-muscular e esquelético, há que equilibrar, de um modo razoável, o esforço ergonómico desenvolvido durante os momentos de tracção do referido saco-mochila. Aconselha-se, pois, que se puxe esta carga sem dobrar o “braço”, ou então dobrando-o apenas ligeiramente, de modo a evitar tendinites ou outras lesões musculares. Por outro lado, a mochila sobre rodas pode e deve ser puxada com ambas as mãos: no trajecto de ida com uma, no retorno (vinda) com outra. Deste modo, procura-se compensar e garantir a rotação da coluna, assegurar um desenvolvimento e uma tonificação muscular de ambos os membros superiores e uma saudável utilização das articulações e de todas as estruturas que participam nesse esforço diário.
4. O uso de saco-mochila com rodas implica também uma permanente preocupação com a lubrificação do sistema, permitindo que o mesmo deslize facilmente e não tenha que ser arrastado. Este cuidado visa, como é óbvio, a melhoria e diminuição do esforço de tracção.
Limitando a carga diária arrastada sobre rodas, sobre o dorso ou os ombros e reduzindo os gastos familiares anuais com a compra de livros, ainda que se tenha de investir, obrigatoriamente, na logística escolar, criando as necessárias condições para o trabalho e a aprendizagem do aluno durante o tempo de aulas, contribuir-se-ia, simultaneamente, para dois objectivos fundamentais: a saúde dos jovens e a economia das famílias, sobretudo daquelas que vivem em condições financeiras bastante difíceis, e essa vai sendo uma triste e alargada realidade em nossos dias.
Beneficiava-se, não só, a “saúde corporal” dos nossos jovens, como a sua “saúde económica” e a das respectivas famílias.
Estamos convictos de que a concretização de um projecto desta natureza traria, inevitavelmente, a médio e a longo prazo, benefícios e compensações nos domínios da saúde, da educação, da economia e da política.
O bem-estar físico e mental de cada cidadão deve constituir um dos mais elevados objectivos da política interna defendida e praticada pelo Estado.
Só apostando numa Juventude educada, forte, saudável e solidária, poderemos ganhar as “grandes batalhas” do futuro.
Prof. Doutor João Frada
Médico e Professor Universitário Apos. da Faculdade de Medicina de Lisboa
joaojcfrada@gmail.com