Espaço Ciência
Consumo alimentar de crianças portuguesas em idade escolar
Consumo alimentar de crianças portuguesas em idade escolar: desenvolvimento e ensaio de um novo instrumento de avaliação
Projecto de Investigação orientado pelo Professor Doutor José Pereira Miguel (Instituto de Medicina Preventiva, Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa) e co-orientado pela Professora Doutora Ana Rito (Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge)
Introdução:
A alimentação e a nutrição representam dois determinantes primários de algumas doenças crónicas (Nestle, 2007; Shetty, 2009), nomeadamente a obesidade infantil que se destaca como um dos mais sérios desafios de saúde pública do século XXI (James, 2006). A prevenção e o tratamento da obesidade infantil tornam-se prioritários, já que é mais difícil reverter a obesidade na idade adulta, assim como, tratar as co-morbilidades associadas (Branca, Nikogosian, & Lobstein, 2007). Contudo, o desenho de intervenções que visam a prevenção e o tratamento desta patologia assenta na escassez de métodos de avaliação válidos e fiáveis que avaliem a efectividade das intervenções, nomeadamente no que diz respeito ao consumo alimentar das crianças, de forma a identificar défices nutricionais e enfatizar a necessidade de uma alimentação diversificada e equilibrada na prevenção desta doença (Shetty, 2009).
Não existe até à data nenhum gold standard para avaliar o consumo alimentar nas crianças. Apesar de as Balanças Alimentares Portuguesas fornecerem estimativas do consumo, a partir das disponibilidades dos alimentos e dos Inquéritos Nacionais de Saúde fornecerem informação sobre o consumo alimentar individual de alguns alimentos, estas informações são insuficientes para se conhecer a real tendência do consumo e dos padrões alimentares da população portuguesa (Lopes et al., 2006), designadamente da população infantil. A avaliação do consumo alimentar assume-se, assim, como prioritária na monitorização do estado nutricional infantil, sendo crucial na condução de estudos epidemiológicos que procurem encontrar relações entre a alimentação e o estado de saúde das crianças. É necessário desenvolver instrumentos válidos e fiáveis para avaliar o consumo alimentar das crianças portuguesas em idade escolar, adequados e específicos para estas idades, sexo e diferentes grupos étnicos.
Objectivos:
Construir, validar e ensaiar um novo instrumento para avaliação do consumo alimentar de crianças portuguesas em idade escolar.
Métodos:
Encontra-se em construção um questionário online de auto-preenchimento dirigido a crianças portuguesas dos 7 aos 10 anos de idade. A amostra não inclui crianças com idades inferiores a 7 anos, na medida em que, em idades mais jovens, as crianças não conseguem conceptualizar a noção real de tempo e por isso a avaliação do seu consumo alimentar tem que ser recordada através das suas famílias (Livingstone, Robson, & Wallace, 2004).
Para além disso, não engloba crianças com idades superiores a 10 anos, pois acima desta faixa etária as necessidades energéticas e nutricionais aumentam consideravelmente e, consequentemente, o tamanho das porções alimentares também aumenta, sendo necessário utilizar porções alimentares com tamanhos diferentes para estimar o consumo alimentar a partir desta faixa etária (Wrieden et al., 2008).
A literatura sugere que a partir dos 7-8 anos de idade, as crianças demonstram competências para participarem na resposta a questionários sem assistência dos pais, relativamente aos alimentos ingeridos por um período de tempo não superior às últimas 24 horas (Livingstone, Robson, & Wallace, 2004). Assim, optou-se por desenvolver uma adaptação do questionário às últimas 24 horas, administrado através de um suporte informático online, uma vez que a utilização do computador tem demonstrado garantir mais motivação das crianças para o seu preenchimento (Moore et al., 2008).
O projecto de investigação tem as seguintes fases de desenvolvimento: I) Construção de um instrumento de avaliação do consumo alimentar de crianças portuguesas dos 7-10 anos de idade; II) Estudo da validade de conteúdo, fiabilidade e validade de constructo de um instrumento de avaliação do consumo alimentar de crianças portuguesas dos 7-10 anos de idade e III) Ensaio piloto de avaliação do consumo alimentar de crianças portuguesas dos 7-10 anos de idade, através do instrumento desenvolvido previamente.
Resultados esperados:
Desenvolvimento de uma ferramenta válida, fiável, simples e ao mesmo tempo atractiva para as crianças portuguesas em idade escolar, que permita recolher informação detalhada sobre a qualidade e quantidade dos alimentos ingeridos, assim como estimar a ingestão energética e nutricional destas crianças.
Conclusão:
O desenvolvimento deste novo instrumento de avaliação permitirá a monitorização do consumo alimentar das crianças portuguesas em idade escolar, de forma sistemática, permitindo o planeamento de políticas alimentares, o desenvolvimento de medidas no âmbito da educação alimentar e servirá como base descritiva fundamental para o planeamento futuro de investigação analítica.
Maria Ana Carvalho
Doutoranda do Curso Doenças Metabólicas e Comportamento Alimentar da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa
mariaanacarvalho@gmail.com
____________________
Bibliografia:
Branca, F., Nikogosian, H., & Lobstein, T (Eds.). (2007). The challenge of obesity in the WHO European Region and the strategies for response. Copenhagen: World Health Organization Regional Office for Europe.
James, W.P. (2006). The challenge of childhood obesity. International Journal of Pediatric Obesity, 1(1), 7-10.
Livingstone, M. B. E., Robson, P. J., Wallace, J. M. W. (2004). Issues in dietary intake assessment of children and adolescents. British Journal of Nutrition, 92 (Suppl 2), S213-S222.
Lopes, C., Oliveira, A., Santos, A. C., Ramos, E., Gaio, A. R., Severo, M., Barros, H. (2006). Consumo alimentar no Porto. Porto: Carla Lopes.
Moore, H.J., Ells, L.J., McLure, S.A., Crooks, S., Cumbor, D., Summerbell, C. D., Batterham, A. M. (2008). The development and evaluation of a novel computer program to assess previous-day dietary and physical activity behaviours in school children: Tha Synchronised Nutrition and Activity ProgramTM (SNAPTM). British Journal of Nutrition, 99, 1266-1274.
Nestle, M. (2007). Nutrition in Public Health and Preventive Medicine. In Wallace, R. B & Kohatsu, N., Public Health & Preventive Medicine (15th ed., pp. 1195-1203). Iowa City: McGraw-Hill.
Shetty, P. S. (2009). Food and nutrition. In Detels, R., Beaglehole, R., Lansang, M. A., Gulliford, M., Oxford Textbook of Public Health (5th ed., pp.177-196). USA: Oxford University Press.
Wrieden, W. L., Longbottom, P. J., Adamson, A. J., Ogston, S. A, Payne, A., Haleem, M. A., Barton, K. L. (2008). Estimation of typical food portion sizes for children of different ages in Great Britain. British Journal of Nutrition, 99, 1344-1353.
Projecto de Investigação orientado pelo Professor Doutor José Pereira Miguel (Instituto de Medicina Preventiva, Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa) e co-orientado pela Professora Doutora Ana Rito (Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge)
Introdução:
A alimentação e a nutrição representam dois determinantes primários de algumas doenças crónicas (Nestle, 2007; Shetty, 2009), nomeadamente a obesidade infantil que se destaca como um dos mais sérios desafios de saúde pública do século XXI (James, 2006). A prevenção e o tratamento da obesidade infantil tornam-se prioritários, já que é mais difícil reverter a obesidade na idade adulta, assim como, tratar as co-morbilidades associadas (Branca, Nikogosian, & Lobstein, 2007). Contudo, o desenho de intervenções que visam a prevenção e o tratamento desta patologia assenta na escassez de métodos de avaliação válidos e fiáveis que avaliem a efectividade das intervenções, nomeadamente no que diz respeito ao consumo alimentar das crianças, de forma a identificar défices nutricionais e enfatizar a necessidade de uma alimentação diversificada e equilibrada na prevenção desta doença (Shetty, 2009).
Não existe até à data nenhum gold standard para avaliar o consumo alimentar nas crianças. Apesar de as Balanças Alimentares Portuguesas fornecerem estimativas do consumo, a partir das disponibilidades dos alimentos e dos Inquéritos Nacionais de Saúde fornecerem informação sobre o consumo alimentar individual de alguns alimentos, estas informações são insuficientes para se conhecer a real tendência do consumo e dos padrões alimentares da população portuguesa (Lopes et al., 2006), designadamente da população infantil. A avaliação do consumo alimentar assume-se, assim, como prioritária na monitorização do estado nutricional infantil, sendo crucial na condução de estudos epidemiológicos que procurem encontrar relações entre a alimentação e o estado de saúde das crianças. É necessário desenvolver instrumentos válidos e fiáveis para avaliar o consumo alimentar das crianças portuguesas em idade escolar, adequados e específicos para estas idades, sexo e diferentes grupos étnicos.
Objectivos:
Construir, validar e ensaiar um novo instrumento para avaliação do consumo alimentar de crianças portuguesas em idade escolar.
Métodos:
Encontra-se em construção um questionário online de auto-preenchimento dirigido a crianças portuguesas dos 7 aos 10 anos de idade. A amostra não inclui crianças com idades inferiores a 7 anos, na medida em que, em idades mais jovens, as crianças não conseguem conceptualizar a noção real de tempo e por isso a avaliação do seu consumo alimentar tem que ser recordada através das suas famílias (Livingstone, Robson, & Wallace, 2004).
Para além disso, não engloba crianças com idades superiores a 10 anos, pois acima desta faixa etária as necessidades energéticas e nutricionais aumentam consideravelmente e, consequentemente, o tamanho das porções alimentares também aumenta, sendo necessário utilizar porções alimentares com tamanhos diferentes para estimar o consumo alimentar a partir desta faixa etária (Wrieden et al., 2008).
A literatura sugere que a partir dos 7-8 anos de idade, as crianças demonstram competências para participarem na resposta a questionários sem assistência dos pais, relativamente aos alimentos ingeridos por um período de tempo não superior às últimas 24 horas (Livingstone, Robson, & Wallace, 2004). Assim, optou-se por desenvolver uma adaptação do questionário às últimas 24 horas, administrado através de um suporte informático online, uma vez que a utilização do computador tem demonstrado garantir mais motivação das crianças para o seu preenchimento (Moore et al., 2008).
O projecto de investigação tem as seguintes fases de desenvolvimento: I) Construção de um instrumento de avaliação do consumo alimentar de crianças portuguesas dos 7-10 anos de idade; II) Estudo da validade de conteúdo, fiabilidade e validade de constructo de um instrumento de avaliação do consumo alimentar de crianças portuguesas dos 7-10 anos de idade e III) Ensaio piloto de avaliação do consumo alimentar de crianças portuguesas dos 7-10 anos de idade, através do instrumento desenvolvido previamente.
Resultados esperados:
Desenvolvimento de uma ferramenta válida, fiável, simples e ao mesmo tempo atractiva para as crianças portuguesas em idade escolar, que permita recolher informação detalhada sobre a qualidade e quantidade dos alimentos ingeridos, assim como estimar a ingestão energética e nutricional destas crianças.
Conclusão:
O desenvolvimento deste novo instrumento de avaliação permitirá a monitorização do consumo alimentar das crianças portuguesas em idade escolar, de forma sistemática, permitindo o planeamento de políticas alimentares, o desenvolvimento de medidas no âmbito da educação alimentar e servirá como base descritiva fundamental para o planeamento futuro de investigação analítica.
Maria Ana Carvalho
Doutoranda do Curso Doenças Metabólicas e Comportamento Alimentar da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa
mariaanacarvalho@gmail.com
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Bibliografia:
Branca, F., Nikogosian, H., & Lobstein, T (Eds.). (2007). The challenge of obesity in the WHO European Region and the strategies for response. Copenhagen: World Health Organization Regional Office for Europe.
James, W.P. (2006). The challenge of childhood obesity. International Journal of Pediatric Obesity, 1(1), 7-10.
Livingstone, M. B. E., Robson, P. J., Wallace, J. M. W. (2004). Issues in dietary intake assessment of children and adolescents. British Journal of Nutrition, 92 (Suppl 2), S213-S222.
Lopes, C., Oliveira, A., Santos, A. C., Ramos, E., Gaio, A. R., Severo, M., Barros, H. (2006). Consumo alimentar no Porto. Porto: Carla Lopes.
Moore, H.J., Ells, L.J., McLure, S.A., Crooks, S., Cumbor, D., Summerbell, C. D., Batterham, A. M. (2008). The development and evaluation of a novel computer program to assess previous-day dietary and physical activity behaviours in school children: Tha Synchronised Nutrition and Activity ProgramTM (SNAPTM). British Journal of Nutrition, 99, 1266-1274.
Nestle, M. (2007). Nutrition in Public Health and Preventive Medicine. In Wallace, R. B & Kohatsu, N., Public Health & Preventive Medicine (15th ed., pp. 1195-1203). Iowa City: McGraw-Hill.
Shetty, P. S. (2009). Food and nutrition. In Detels, R., Beaglehole, R., Lansang, M. A., Gulliford, M., Oxford Textbook of Public Health (5th ed., pp.177-196). USA: Oxford University Press.
Wrieden, W. L., Longbottom, P. J., Adamson, A. J., Ogston, S. A, Payne, A., Haleem, M. A., Barton, K. L. (2008). Estimation of typical food portion sizes for children of different ages in Great Britain. British Journal of Nutrition, 99, 1344-1353.