

Como pode um Mestrado em Reabilitação Cardiovascular juntar num só lugar tantos profissionais com diferentes experiências e práticas e culturas várias?
A pergunta que colocámos no fim de um encontro de um dos Seminários em Reabilitação Cardiovascular foi precisamente o mote para o começo desta reportagem. O Seminário realizado no mês de junho e que desafiou atuais mestrandos e antigos alunos atualmente já formados, pretende recordar que o conhecimento é tanto mais eficaz quanto mais universalidade e interdisciplinaridade se acrescentar à formação. Neste encontro em particular a ideia era ainda mais focada, nas palavras da coordenadora do Mestrado e a Diretora do Laboratório de Reabilitação Cardiovascular da Universidade de Lisboa, a Professora Ana Abreu, “ajudar os alunos a construir uma tese de mestrado adequada, apresentando, passo a passo, as metodologias de trabalho é o que queremos transmitir e partilhar nestes blocos de 15 minutos e que junta para isso 3 alunos em diferentes fases das suas teses. Todos vêm apresentar propostas, da ideia, à preparação da apresentação e ao culminar dessa mesma apresentação”. Encontro informal e entre um brunch familiar e acolhedor, o objetivo é ajudar todos na construção de uma boa dissertação de mestrado. Formação que retrata bem um trabalho multidisciplinar, o Mestrado em Reabilitação Cardiovascular é o espelho de um trabalho que só é possível entre equipas com diferentes ângulos de abordagem e de profissões muito diferentes, mas que em colaboração conjunta se focam na melhoria ou prevenção do doente cardíaco.
Omamuyovwi Egbe é Nigeriano e está no 1º ano do Mestrado em Reabilitação Cardiovascular, veio para Portugal para fugir à Guerra na Ucrânia, país onde trabalhava como Cardiologista. Assumiu a responsabilidade de vir cuidar do seu primo mais jovem e estudante de Medicina. Com o tempo Omamuyovwi Egbe percebeu que, já que ia ficar no país por uns tempos, deveria expandir o conhecimento na sua área de eleição, o coração. Há um ano a residir em Portugal e com mais um ano pela frente para fazer a sua tese, não está certo se o seu próprio coração o fará permanecer cá, ou regressar à Ucrânia. Para já viverá intensamente a nova oportunidade do Mestrado, aproveitando a fuga à Guerra.
Hugo Rodrigues é enfermeiro no Hospital de Santa Marta, a sua área é a Cardiologia, fazendo parte de uma equipa que já faz Reabilitação Cardíaca. Atualmente a fazer o 1º ano já sabe, no entanto, que tema vai abordar na dissertação. O upgrade do conhecimento existe sempre, pois apesar de esta ser a sua grande experiência, “é a troca de conceitos e a atualização do conhecimento com atualização científico” que o fazem ter a noção que há decisões no terreno que podem rapidamente ficar obsoletas se não forem renovadas com novas aprendizagens. Neste encontro a perspetiva é abordar como iniciar uma tese, algo que já tem vindo a ser o seu trabalho.


Isabel Tavares é médica de Medicina Geral e Familiar. De origem Cabo Verdiana, da ilha de São Vicente, veio em novembro de férias a Portugal e a familiaridade foi tanta que decidiu ficar e fazer o Mestrado em Reabilitação Cardiovascular. A escolha não foi à sorte, depois de avaliar todos os detalhes do programa de formação e por indicação do seu próprio Cardiologista, pensou que não lhe bastavam os 10 anos de experiência a trabalhar com doenças crónicas, era preciso levar consigo a técnica e a fundamentação científica. Aprendizagem demasiado relevante num país que fala ainda pouco em reabilitar doentes, depois de terminado o Mestrado, Isabel exportará as técnicas da reabilitação para os seus doentes que podem assim aprender algo sobre a sua própria prevenção.
Mariana de Fátima é Fisioterapeuta, também há 10 anos, e apesar de ter alguma família no país veio com o pai apenas de férias, sem qualquer ideia de morar em terras lusitanas. Do interior do Rio de Janeiro, de Petrópolis e atravessado o Atlântico, a ideia foi sendo moldada, “por que não ficar mais uns tempos e fazer uma formação para reforçar a técnica já aplicada?”. O habitual da sua rotina era trabalhar quer em consultório, quer em ambiente hospitalar, a prática com doentes cardíacos já a tinha, mas era preciso consolidar a base científica. Desde setembro em Portugal, sabe que por agora é mesmo cá que vai ficar.
Médica de Saúde Pública e a especializar-se em Geriatria, é amplamente experiente e aluna de outra edição deste Mestrado, Maria José Rebelo, marcou presença neste encontro com o propósito de transmitir a importância desta formação. “Os médicos e todas as equipas da Saúde precisam de ter atualizações permanentes. A Faculdade de Medicina é um excelente exemplo de uma Instituição que está a cumprir os requisitos atuais e necessários para reciclar o conhecimento. Trago experiência do CRECUL que cumpre um objetivo fundamental, é um polo de desenvolvimento social, insere-se na sociedade e responde às suas necessidades mais profundas. Ao CRECUL chegam várias pessoas que precisam de reabilitação cardiovascular e que até aqui não sabiam que o podiam fazer. Socialmente há um conceito generalizado que diz que quem sofre um acidente cardiovascular grave fica com a sua vida muito limitada e neste espaço verifica-se o contrário, as pessoas reabilitam-se e voltam a ter, inclusivamente, mais capacidades do que tinham antes da doença. Admiro, por isso, profundamente as equipas e grupos que trabalham para estas melhorias do país e, sabendo nós que as doenças cardiovasculares são a principal causadora de morte, de incapacidade e doença, neste ponto, estão a contribuir para o desenvolvimento do país. Nesta medida está de parabéns a Faculdade de Medicina e a Professora Ana Abreu, assim como a sua equipa que tanto contribui para a saúde e vida de tantos doentes”.
A segunda fase de candidaturas para o Mestrado decorre de 14 de julho a 31 de agosto, para mais informações, basta este clique!
Reabilitação Cardiovascular | Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (ulisboa.pt)
Joana Sousa
Equipa Editorial
