Durante quase 3 anos o mundo viveu uma experiência da qual não havia memória. O responsável por essa “nova realidade” foi um vírus, desconhecido até então, que rapidamente se espalhou pelo mundo com consequências graves na saúde e na economia. A Covid-19, doença causada pelo SARS-CoV-2, passou a pandemia no dia 11 de março de 2020.
As escolas foram as primeiras a encerrar. Alunos em casa, um problema para os pais que continuaram a ter de ir trabalhar. A humanidade vivia mais uma “nova realidade” a do confinamento. Restrições para circular, declarações escritas para quem tinha de o fazer. Filas intermináveis para ir ao supermercado e a novidade do teletrabalho e da telescola que obrigou a família a partilhar um espaço, horas a fio, ao mesmo tempo que geriam as várias realidades e o contexto de incerteza. Foi uma espécie de “melting pot” que, em alguns casos, extravasou. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, (INE) por cada 100 casamentos realizados em 2020, 91.5 terminaram em divórcio. Dados relativos ao mês de maio, logo após o primeiro confinamento, davam conta de mais 3862 divórcios que no período homólogo do ano anterior.
Também houve consequências na violência doméstica com uma agudização dos casos preexistentes à Covid 19, que devido ao confinamento e ao stress causado pela situação, aumentaram a escalada de violência. No entanto, as situações só foram reportadas no pós-confinamento quando as vítimas puderam pedir ajuda.
Em junho de 2020, a secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, Rosa Monteiro, dizia em declarações à Lusa que os dados apontavam para “uma agudização dos casos de violência que preexistiam” em 70 por cento, garantindo não haver dados que reportassem a existência de novas situações diretamente ligadas à Covid-19.
Na saúde o impacto foi brutal. O número de horas feitas pelos profissionais de saúde bateu todos os recordes e mesmo assim, não deu resposta a todas as situações de forma atempada e atrasou toda a agenda preexistente. Alguns hospitais encerraram serviços por incapacidade e os hospitais centrais, como o de Santa Maria receberam doentes fora da sua área de atuação o que levou a situações nunca antes vividas. Para a história ficará a imagem das longas filas de ambulância que fez abertura de jornais em janeiro de 2021 e em que apenas 15 por cento das situações eram verdadeiras urgências. Os restantes casos, 85 por cento, acabariam por ser encaminhados para o Centro de Saúde de Sete Rios e de Odivelas após uma pré triagem feita pelo INEM e Proteção Civil.
A 16 de março de 2020, o Ministério da Saúde determinou a suspensão da atividade programada não urgente nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS), em resposta ao aumento de pressão sobre o sistema de saúde causado pela pandemia.
Um ano depois, a SIC noticiava que 127 mil cirurgias e cerca de 1 milhão de consultas estavam em atraso. Já a Organização Europeia do Cancro, (OEC) estimava que mais de um milhão de cancros tinha ficado por diagnosticar e um em cada dois doentes, não recebeu o tratamento necessário durante o surto da Covid-19.
Um comunicado da Entidade Reguladora da Saúde, ERS, referia que“em 2021 verificou-se uma retoma da atividade, com as primeiras consultas, consultas subsequentes e cirurgias programadas a registarem aumentos de 17%, 9% e 26%, em relação ao ano anterior” e acrescenta, “em termos de atividade realizada, no primeiro semestre de 2022 alcançou-se o valor mais elevado de consultas médicas, 6.517.292, realizadas em todos os semestres dos anos em análise, que foi transversal tanto às primeiras consultas como às consultas subsequentes, tendo-se verificado o mesmo para as cirurgias programadas e para as cirurgias de ambulatório, tornando-se evidente o esforço de recuperação” no SNS, sublinha o mesmo documento da ERS.
O Jornal Observador publicou um artigo em abril deste ano, onde revela que, de acordo com dados da ERS, o cancelamento da atividade programada no Serviço Nacional de Saúde (SNS) devido à pandemia levou a um aumento de mais 45 dias do tempo médio de espera para cirurgia. Este adiamento leva a que a média de tempo de espera efetivo para cirurgia subiu dos 114 para os 159 dias nos hospitais públicos. Nesse mesmo artigo é referido que o regulador da saúde adianta ainda que foram analisados cerca de 236 mil registos de “inscrições para cirurgia que foram alvo de adiamento” no período de março de 2020 a julho de 2022 e que a oftalmologia foi a especialidade que registou mais adiamentos, seguindo-se a cirurgia geral e a ortopedia.
No dia 30 de janeiro de 2020 fez-se ouvir o sinal máximo de alarme em torno do então “novo vírus”. No dia 11 de março foi considerado que o mundo vivia uma pandemia e Portugal registava 59 casos confirmados desde o dia 2 de março. Seria apenas o início de um período negro na história da humanidade.
O desconhecimento do vírus e das suas formas de disseminação, cadeias de transmissão e período de incubação, determinaram que os países encontrassem medidas eficazes e uma resposta concertada com vista ao controle da propagação da doença. A limitação na circulação e no acesso a viagens foram das primeiras. Os períodos de confinamento mais ou menos alargados, consoante as determinações dos Estados, foram outra das respostas.
Em Portugal, o Governo foi levantando as restrições impostas na sequência da pandemia de Covid-19. Assim, desde o final de agosto que o uso de máscara deixou de ser obrigatório nos transportes públicos e nas farmácias, mas apesar do levantamento do estado de alerta, que terminou a 1 de outubro de 2022, a única medida que se manteve, e que terminou no início de abril deste ano, foi o uso obrigatório de máscara nas unidades de saúde, lares de idosos ou de acolhimento de pessoas vulneráveis nas unidades da rede de cuidados continuados.
O período negro da pandemia
As morgues estavam cheias e os familiares não tiveram oportunidade de se despedir de quem morreu do vírus desconhecido. A influência desta doença foi de tal ordem no índice de mortalidade, que afetou a idade da reforma antecipando uns meses. Graças Freitas, diretora-geral da Saúde, foi uma das beneficiadas e anunciou que assim que houver substituto, entrega a pasta. Numa entrevista dada à newsletter, recordou como foi a convivência com a pandemia. Em declarações recentes enalteceu o papel dos profissionais, “as equipas de saúde pública trabalharam ininterruptamente com o objetivo de quebrar cadeias de transmissão. Muitos outros profissionais asseguraram, também, de forma contínua, cuidados de elevada qualidade no sector público, privado e social”, sublinhou ainda a Directora-geral da Saúde, no site da DGS.
Mais recentemente e a propósito do fim da pandemia “pagámos todos um preço, sobretudo em sofrimento e em morte, e não o podemos esquecer. A pandemia teve um impacto nas nossas vidas, no nosso tecido social e no nosso tecido económico. Estamos a fazer o nosso processo de regeneração”, disse numa declaração publicada no site da DGS.
"Como povo cumprimos a nossa missão. A Direção-Geral da Saúde contribuiu com toda a sua capacidade, conhecimento e empatia para mitigar os efeitos da pandemia e para garantir mais e melhor saúde para todos."
Questionado sobre os efeitos da pandemia no SNS, o Ministro da Saúde, Manuel Pizarro, salientou que houve factos positivos: “Temos hoje um Serviço Nacional de Saúde que é mais potente do que tínhamos anteriormente. Tínhamos menos de 600 camas de cuidados intensivos, temos hoje cerca do dobro dessa capacidade e também é graças a isso que estamos a fazer muito mais cirurgias”, disse.
A respeito da declaração do fim do período de emergência nacional “hoje é um dia da vitória da ciência contra o obscurantismo, da perseverança contra as hesitações, da solidariedade, porque foi graças a isso que nós conseguimos ultrapassar esta pandemia”, afirmou Manuel Pizarro, na Maia, distrito do Porto, à margem da assinatura da passagem de competências do Estado para aquela autarquia na área da Saúde.
Covid 19| Até que enfim, o fim!
Quase dois anos depois da declaração da Organização Mundial de Saúde (OMS), que dava origem a uma pandemia, heis que chegou a notícia de que esse período chegou ao fim. O anúncio foi feito no dia 5 de maio.
O vírus que matou sete milhões de pessoas em todo o mundo e 27 mil em Portugal, deixou de ser considerada uma emergência sanitária global. As vacinas e a infeções ocorridas na população contribuíram para o enfraquecimento do vírus e para dar alguma imunidade à população. Embora o vírus continue a circular, Tedros Adhanom Ghebreyesus, fez saber que “a pandemia está a recuar, com o aumento da imunidade da população através da vacinação e da infeção”, a mortalidade está a diminuir e há, consequentemente uma “diminuição da pressão sobre os sistemas de saúde”, justificou o responsável, referindo que “essa tendência permitiu que a maioria dos países voltasse à vida como a conhecíamos antes”. Por tudo isto, após a recomendação da 15ª reunião do comité de emergência, comunicou “é com grande esperança que declaro o fim da Covid-19 como emergência de saúde global.”
Desde o dia em que o vírus foi detetado na cidade chinesa de Wuhan 7 milhões de pessoas morreram em todo o mundo, mas tal como foi dito na conferência, estes números não espelham a realidade. É consensual que 20 milhões seja o número aproximado de pessoas que vieram a falecer em consequência direta da Covid-19.
Durante 3 anos as máscaras, distanciamento social. Os testes rápidos, o isolamento e o gel desinfetante das mãos fizeram parte do dia a dia das pessoas. Finalmente é tempo de arrumar “a nova realidade” na gaveta e seguir em frente.
