O carrinho de cargas estava preenchido de quadros até ao seu limite. Portátil equilibrado a mostrar a planta do espaço da Medicina 2C, hoje o corredor de entrada não tinha o mesmo ar sossegado e silencioso. A Francisca e o Pedro faziam o check dos 28 quadros a distribuir pelas diversas salas e corredores, à medida que os olhares curiosos espreitavam para as muitas molduras que protegiam as obras executadas pelos 12 artistas voluntários, espalhados pelo país e além oceanos.
Pincéis, copos de tinta e bisnagas esperavam pela vez de enfeitar as paredes com frases preciosas de reflexão que podiam dar cor a um qualquer pensamento nosso. Esboço rabiscado na parede, primeiro a carvão, enfermeiras e auxiliares ajudavam nos materiais de última hora, em troca da alegria dada por se levar Arte ao Hospital.
A ideia já vinha de trás quando o Pedro Fava nos contou sobre um sonho guardado na gaveta, de levar a arte às paredes de Santa Maria, o Hospital onde ele e a Francisca Borges passam todos os dias, por estarem a estudar na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. A ele juntava-se a Francisca que reforçava a persistência para não desmoronar diante das primeiras dificuldades. As portas de Santa Maria abririam rápido, depois de apresentada a ideia ao Assessor de Comunicação do Hospital, Pedro Marques. Depois da primeira sala pintada, formava-se a lista de espera do próximo Serviço do Hospital a decorar.
Aguarelas, fotografias, frases pintadas com poemas e desenhos, molduras de diferentes cores e formas e telas, várias seriam as expressões de arte a chegar ao Hospital através desta dupla incansável. Artistas por profissão, ou meros apaixonados pela literatura, ou imagem, vários eram os voluntários que se juntavam a dizer “presente, eu também quero ajudar nesse processo de curar pela arte”.
Depois dos Serviços de Cirurgia Pediátrica, Radiologia e Imagiologia chegava a vez da Medicina Interna.
Quartos quase todos preenchidos, a equipa entrava discreta para confirmar as paredes livres, acabando por ser quase sempre interpelada pelos doentes internados. Rapidamente surgia uma lufada de ar fresco para os doentes internados, afinal também eles queriam participar e dar ideia do local ideal a instalar as peças, imaginando que com elas lhes era possível viajar mentalmente para lugares mais distantes.
“Aqui nesta parede por cima de mim fica mesmo bem”, sorria José, um dos doentes internados. Sentada na cama à frente, e com mais liberdade de movimento, Ana Maria prometia ir passear pelos corredores, “como se estivesse a observar tudo numa galeria de arte”.
Entre mudanças de turno das equipas, chegada de doentes intervencionados e as visitas de familiares, as paredes iam ganhando relevo e cor, à medida que a rotina aconteceria como mais um dia normal.
Últimos retoques, com a equipa de manutenção do Hospital e as pinceladas de um convidado especial de uma empresa de fora, a tarde terminava com um Serviço agradecido, juntamente com os doentes mais sorridentes por terem sido lembrados.
Afinal a Arte, representada através da Francisca e do Pedro, tem fins medicinais, ela cura, pelo menos os sentidos de todos.
Obrigada por mais um grande gesto da vossa bondade, Pedro e Francisca, vocês representam o verdadeiro espírito do CAML – o Centro Académico de Medicina de Lisboa.
Obrigada ainda à Associação de Estudantes da nossa Faculdade que financiou as molduras para que esta exposição se tornasse possível.
Joana Sousa
Equipa Editorial
