Como atingir os objetivos das recomendações de prevenção cardiovascular? É a pergunta para um milhão a que as professoras Alda Pereira da Silva, Diretora da Clínica Universitária de Medicina Geral e Familiar e Ana Abreu, Diretora do Instituto de Medicina Preventiva e Coordenadora da Unidade de Reabilitação Cardiovascular da FMUL/CHULN, entre outras funções, quiseram responder. No dia 15 de março, no edifício Egas Moniz, uma reunião que juntou especialistas de múltiplas áreas como a Epidemiologia, Medicina Geral e Familiar, Psiquiatria, Nutrição, Cardiologia e Bioestatística entre outras, para que juntos falassem das principais dificuldades que sentem, numa tentativa de serem encontradas respostas e soluções que possam ter uma aplicação na prática clínica e de saúde pública. Esta tentativa tem como objetivo reduzir a incidência da doença cardiovascular, mortalidade e incapacidade dela resultante, dando mais qualidade de vida aos doentes. De reforçar que a Doença Cardiovascular continua a ser a principal causa de morte em Portugal. É importante identificar os erros e começar a atuar o quanto antes junto dos mais novos, para que daqui a 15 anos os números de doença cardiovascular e as suas complicações tenham diminuído.
Comer melhor evitando alimentos processados, sal e gorduras, fazer exercício físico, e não fumar, são mensagens que precisam de chegar com eficácia aos destinatários e apostar na literacia dos doentes e da população em geral, é um ponto fundamental. Os custos associados às doenças têm um peso significativo no Orçamento do Estado, OE, e seria importante que a medicina fosse olhada como um investimento e não como um custo, podendo até reduzir preventivamente os gastos. Quando a aposta for a prevenção poderá verificar-se uma mudança de paradigma. É nesse sentido que aconteceu a reunião. Com a contribuição de todos os participantes, resultará um documento de opinião que poderá ajudar a alertar profissionais de saúde, decisores políticos, doentes e população para o risco cardiovascular e necessidade de prevenção o mais precocemente possível para redução da carga da doença cardiovascular, em saúde e em termos socio- económicos.
Falámos com a organização deste encontro.
Porque sentiram necessidade de reunir profissionais de várias áreas da saúde à volta da mesa?
Alda Pereira da Silva: Promover saúde é um trabalho complexo e que envolve vários aspetos e áreas diferenciadas de abordagem. Facilitando um diálogo entre profissionais de várias áreas, em que se expõem as diferentes perspetivas, foi um meio de serem partilhadas soluções práticas visando a prevenção da doença nomeadamente cardiovascular.
Ana Abreu: O Risco Cardiovascular e os objetivos de prevenção da Doença Cardiovascular estão bem identificados, contudo a implementação de medidas estratégicas de prevenção está muito aquém do pretendido. A ideia da reunião, baseou-se na necessidade de criar um painel multidisciplinar de discussão de estratégias de prevenção a nível de Cuidados primários e hospitalares.
A escolha do painel foi óbvia?
Alda Pereira da Silva: A escolha do painel esteve orientada para colegas especialistas em Medicina Geral e Familiar e ligados a Organizações ou Instituições responsáveis por Coordenação, Direção e aspetos formativos e educacionais, tornando possível a reflexão sobre aspetos estratégicos para atingir os objetivos das recomendações de prevenção cardiovascular. O painel contou ainda com a presença de um representante da Câmara Municipal de Lisboa orientado para a vertente preventiva primordial, do bem-estar, direito social e saúde comunitária.
Ana Abreu: Pretendemos envolver profissionais experientes de várias áreas que pudessem contribuir para a discussão daquelas estratégias
Na generalidade as pessoas mostraram-se disponíveis para dar a sua contribuição?
Alda Pereira da Silva: Sim, as pessoas convidadas mostraram-se muito recetivas em dar a sua colaboração num assunto de grande importância e tão atual.
Ana Abreu: Sim, não só disponíveis como muito empenhadas na discussão.
A que conclusões chegaram?
Alda Pereira da Silva: Foram muitas as conclusões a que se chegaram. As mesmas estão a ser compiladas e serão trabalhadas para possível publicação. De um modo geral indicam a importância da implementação das guidelines da ESC, assinalam que é possível mudar hábitos, mas também deverá ser facilitada a mudança através de criação e desenvolvimento de condições que promovam a saúde, desde aumentar a literacia à promoção do acesso aos cuidados médicos, sem descuidar a adequação do contexto ambiental.
Ana Abreu: As conclusões passam sempre pela identificação de obstáculos à prevenção e hipóteses de estratégias de os ultrapassar a nível nacional. Um dos pontos considerados mais importantes inclui a necessidade de promover Educação e Formação não só de profissionais como dos doentes e da população
Esta reunião vai ter efeitos práticos?
Alda Pereira da Silva: Seguramente que sim. Caberá agora às equipas promotoras a divulgação e implementação das guidelines da ESC debatidas na reunião, adequando-as às necessidades sentidas pelos médicos na abordagem do utente de risco cardiovascular.
Ana Abreu: Estamos a redigir um documento com os pontos essenciais que será publicado para alerta e consciencialização do problema e possíveis medidas de resolução
O que pode mudar futuramente com o contributo deste encontro?
Alda Pereira da Silva: Este encontro, ao procurar estratégias para atingir os objetivos das recomendações das guidelines da ESC, poderá melhorar a qualidade assistencial no âmbito da prevenção da doença e manutenção da saúde cardiovascular. O encontro com especialistas permitindo a abordagem de diversas vertentes incluindo a ambiental, discutidas na reunião, poder-se-ão completar no sentido de uma Medicina mais próxima e mais centrada na Pessoa que procura cuidados médicos.
Ana Abreu: Estabelecemos várias linhas de estratégias que poderemos em conjunto ou em várias frentes desenvolver. Resultaram também desta reunião várias pontes entre colegas de diferentes especialidades que poderão servir para potenciar medidas e ações dirigidas a esta temática de Implementar adequadamente e eficazmente a prevenção.
Dora Estevens Guerreiro
Equipa Editorial