Licenciada em Belas Artes e com um curso clássico de pintura, fez um mestrado de Arte e Ciência na Universidade de Oxford, em Inglaterra. Apesar do gosto pela pintura, nunca pensou fazer disso profissão. A obrigação de ter de frequentar determinados círculos, para fazer carreira no mundo da arte, fez com que a ambição fosse outra, a educação! Mas o trajeto que acabou por fazer, levou-a não só a ser uma pintora, mas misturar dois mundos que à partida estariam em polos opostos: Arte e Ciência. A fusão entre as duas aconteceu durante o caminho que foi percorrendo, sem pressa e sem destino predefinido.
Ter estudado em Oxford ajudou nesse processo de construção da Bioartista porque permitiu-lhe ter acesso a laboratórios, a cientistas e a experiências. O facto de ter uma relação com um investigador, de se movimentar neste meio, ajudou-a a constatar uma forma diferente de fazer as coisas; “nas ciências biomédicas, a hierarquia é muito mais diluída. Foi fantástico perceber como é que se partilhavam ideias e discutiam conceitos extremamente complexos de uma forma tão aberta. Em arte, isso nem sempre é possível.” O fascínio que sentiu fez com que começasse a criar e, “quando dei por mim, estava a pintar esse universo. Desenhava as máquinas de laboratório, os vidros, as caixas. Até que percebi que podia estabelecer uma ponte entre a arte e a ciência, pois havia determinados conceitos que se relacionavam com a estética ou com a filosofia, mas que também se podiam encontrar num ambiente científico”. Quando deu por si, estava a pintar esse universo e acabou por encontrar aí um estilo muito próprio.
O seu primeiro trabalho no âmbito da bioarte foi no final do curso e deu-lhe o nome de “Nature”. Marta de Menezes explica, “a minha prática ainda não estava muito desenvolvida. Lembro-me de ter ficado completamente estupefacta com a possibilidade de poder mudar o padrão das asas de uma borboleta viva, enquanto ela ainda se encontrava no seu estágio pupa.” Quando estas borboletas manipuladas eclodem “não têm cicatrizes ou falhas no padrão e, em termos comportamentais também não apresentam diferenças”, explica. Esta experiência levou-a a questionar os critérios que servem de argumento para classificar se uma coisa é natural ou não e, consequentemente se tem direitos. “Os bebés que foram manipulados através da tecnologia CRISPR já não são vistos como “antinaturais”. O que se discute agora é os direitos que esses Seres Humanos têm ao serem o resultado de uma experiência científica.”
O “Immortality for two” e o “Anti-Marta” são projetos que nasceram em parceria com o marido, investigador do iMM e Professor da FMUL, Luís Graça. Ambos na área da imunologia, abordam a questão da identidade. “Na verdade, não fujo muito deste conceito. Seja numa palestra, seja numa conversa que tenha, acabo sempre por colocar questões que se relacionam com aquilo que nós somos” e continua, “a identidade é mesmo fundamental para mim. Enquanto Ser Humano, tenho a consciência de que só serei capaz de ser honesta com as pessoas que estão ao meu lado e com as quais tenho de trabalhar, se me conhecer a mim própria,” justifica.
Manipulação genética e utilização de organismos vivos
Os trabalhos de Marta há muito que ultrapassaram as tintas e os pincéis. Não se cingem a uma tela em branco. Nos seus trabalhos temos imagens em écrans, tecnologia da mais variada e a ciência! É nesse ‘melting pot’ que surge a bioarte. Mas o que é isso? A bioarte consiste na utilização de organismos vivos, sejam plantas ou fungos, manipulação genética e utilização de tecnologias muito específicas e desconhecidas da maioria, na construção de uma obra de arte.
Marta de Menezes criou com o marido o Blend, um projeto que mistura arte e ciência que dá origem a conversas, apresentações e exposições. Acontecem com regularidade e convidam artistas e cientistas a participarem - este mês o artista convidado foi Sérgio Eliseu. Aproveitámos o mote e quisemos conhecê-lo melhor.
Fonte: Plataforma independente de jornalismo Gerador