24 de fevereiro de 2022 é uma data que ficará para sempre na história de todos.
Era ainda de madrugada em Portugal e o presidente russo, Vladimir Putin, anunciava o início de uma "operação militar especial" em Donbass, na Ucrânia. De Kiev a resposta não tardaria com uma convicção que viria a ser a imagem de marca do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, a liberdade e a independência seriam valores a defender se para isso fosse preciso até morrer.
Enquanto as sirenes de Kiev tocavam vezes sem fim a pedir que todos se escondessem nos abrigos, o mundo temia a queda da Ucrânia, visivelmente mais fraca em armamento militar e em resposta humana.
Dados de um relatório militar da BBC dizem-nos que, se a Rússia tinha 3 vezes mais tanques que a Ucrânia, em veículos blindados esse poderio subia para 7 vezes mais. A força humana ditava o mesmo destino, a Rússia apresentava 3 vezes mais elementos do exército que a força ucraniana. Mas era nas palavras e nas ações de Zelensky que se ganhava tempo, motivação das tropas e terreno, revertendo o domínio russo e enfraquecendo a sua imagem política e militar. A força da NATO tomava uma posição prudente, mas enviava defesa e força militar para suportar a garra da Ucrânia. Inglaterra, Alemanha e EUA foram os primeiros países a dar armamento e material bélico. A Europa seguia as manifestações públicas de suporte e os envios de Chefes de Estado e novo reforço militar. Formalmente a Europa tomava medidas para estrangular a economia russa. De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, até ao inicio de fevereiro deste ano, há mais de 8 mil civis mortos ucranianos e mais de 13 mil civis feridos. Esses são os dados oficiais, talvez não os reais. Nas palavras do Secretário Geral das Nações Unidas, António Guterres, estes valores "são apenas a ponta do icebergue".
Um ano depois do primeiro dia de guerra, a agência para os refugiados da ONU registou cerca de 7,7 milhões refugiados da Ucrânia para vários países da Europa, incluindo a Rússia. Mas há mais, estima-se que são mais de 17 700 mil aqueles que precisam de ajuda humanitária. Longe de se ver o fim da guerra hoje sabemos que a Ucrânia se tornou num país de heróis. Era neste dia que o diretor da Faculdade recebia os alunos de Medicina vindos da Ucrânia. 24 de fevereiro de 2023. Um ano depois.
E assim chegaram 25 pessoas unidas pela vontade de um dia serem médicos, saindo da Ucrânia mal começou a guerra, decidiram pesquisar que países estavam a receber alunos estrangeiros. Chegariam assim a Portugal, à FMUL juntando vários mundos e culturas. num só lugar: Ucrânia, Marrocos, Guiné, Nigéria, Paquistão, ou Bangladesh. Numa só tarde misturavam-se experiências e relatos diferentes, idiomas efusivos entre o inglês, francês e português, e até com sotaque carioca. Relatos reais dos primeiros dias de invasão de um país que passava a ver fileiras de tanques a entrar junto às fronteiras. Com as famílias divididas entre a Ucrânia e os restantes países da Europa, os mais emotivos mostram ainda hesitação entre voltar no meio da guerra, ou esperar e vê-la de fora, sabendo que parte das suas famílias continua lá.
Entre conversas várias conhecemos o Mehdi Himedi de 19 anos, oriundo de Marrocos. Apesar da pressão de boa parte da família serem engenheiros, e de saber que entraria em Marrocos, ou em França para Engenharia, Mehdi preferiu viajar até à Ucrânia e ingressar em Medicina, o único país que ainda aceitava inscrições quando decidiu o que queria fazer. E porquê a Medicina? Com tia médica diz que a verdadeira causa foi a vontade de ajudar os outros. Quase há um ano a viver em Portugal admite que ainda assim perceber e falar português não é desafio fácil, questão agravada por estar a estudar numa Faculdade em que o ensino é todo lecionado em português. Mehdi até foi fazendo umas aulas para tratar o português por tu, mas neste momento e devido aos horários académicos, não é possível conciliar.



Cidadã do mundo, Georgia que tem dupla nacionalidade, portuguesa e brasileira, mas não estava em nenhum destes países quando a guerra começou. Depois de alguns anos a viver no Rio de Janeiro, outros na Alemanha, decidiu partir para mais uma aventura e viajar com uma amiga para estudar Medicina na Rússia. Vivia numa zona fronteiriça com a Ucrânia e todos os dias observava fileiras infindáveis de tanques e camiões militares a entrar na Ucrânia, até que poucos dias depois Putin anunciava sobre a "operação especial" que se iniciava agora. A mãe não lhe deu outro hipótese e exigiu que abandonasse de imediato a zona de guerra. E Georgia saiu, contrariada, tendo voltado à sua casa de estudante seis meses depois para recolher os restantes pertences que levara.
Estas foram apenas duas das vidas que se cruzaram em poucos minutos com a nossa curiosidade. Outras em breve teremos para contar.
Aos nossos amigos e estudantes internacionais desejamos sucessos e aplaudimos a bravura de não desistirem de lutar pelas carreiras que sonham.
E para todos eles e em nome deste ano: SLAVA UKRAINI !

Joana Sousa
Equipa Editorial
