No Dia da Investigação 2022 tivemos a honra de contar com o professor Doutor João Incio da Biovance Capital que nos apresentou o tema “Different Dimensions to Healthcare – Alternative Career Paths” . Simpático e acessível, debateu sobre as possibilidades da carreira médica e sobre a realidade do mundo empreendedor.
Tendo em conta o interesse despertado achamos pertinente falar um pouco mais com ele e das suas opiniões sobre esta área que estão tão na ordem do dia.
Conte-nos um pouco sobre si e do seu percurso profissional.
João Incio: Médico de formação (FMUP), doutorado em Medicina Molecular (FMUP / Harvard Medical School), tendo nos últimos anos feito um percurso por outras dimensões do sector da saúde, desde a consultoria, à indústria de biotecnologia, start-ups em inteligência artificial e microbiota intestinal, e mais recentemente enquanto investidor e promotor de empresas de saúde que procuram terapias para doenças intratáveis.
Como surgiu estas áreas mais distintas no seu percurso e como percebeu a sua importância?
João Incio: Inicialmente, a paixão pela investigação surgiu depois de ter tido a oportunidade de participar em projetos de investigação nos EUA durante a formação em medicina, tendo-me depois levado para Boston onde desenvolvi a tese de doutoramento. Boston é hoje o centro nevrálgico de inovação em saúde, e a minha vivência de cerca de 6 anos nesta cidade levou-me a querer também eu embarcar nesta viagem de inovação em saúde, através do envolvimento em projetos que desenvolvem novas terapias ou usando tecnologia de ponta, como por exemplo a inteligência artificial. Quanto a esta última, a realidade é muito simples - está aqui para ficar. Não para substituir a presença humana nos cuidados de saúde, mas para a melhorar e ampliar.
Tendo em conta as diferentes oportunidades que os estudantes da área da saúde têm para traçarem os seus caminhos, na sua opinião, o que os faz não procurarem ou optarem por esses caminhos divergentes?
João Incio: Julgo que um misto de falta de histórico, isto é, exemplos de quem trilhou esse percurso alternativo, e de oportunidades. Mas também falta de divulgação das mesmas, e encorajamento para as abraçar.
Que impacto teria a abordagem de áreas como o empreendedorismo, inovação e investigação durante o curso pré-graduado? Que ferramentas e aptidões daria aos alunos?
João Incio: Absolutamente crítico a inclusão destas temáticas durante o curso - o estudante, e depois também enquanto médico clínico, pode continuar a exercer clínica, e em paralelo envolver-se em projetos de investigação ou empreendedorismo. Por exemplo, os fundadores da BioNTech, empresa por trás da vacina para a covid-19 da Pfizer, eram médicos. E também hoje a Moderna, entre muitas outras empresas de biotecnologia, é liderada por um médico. Portugal tem todos os ingredientes para se tornar num pólo de inovação na Europa no sector da saúde, tendo em conta o investimento significativo em formação de doutorandos nas ciências da vida, bem como a performance dos investigadores portugueses em termos de captação de bolsas europeias acima da média. Já o começa a ser nas tecnológicas (TalkDesk, Farfetch), com vários unicórnios, e agora também na saúde, como por exemplo a Sword Health.
Como incorporar essas áreas/valências no ensino médico?
João Incio: Formação, nomeadamente cadeiras dedicadas exclusivamente ao empreendedorismo na saúde durante o curso, bem como o incentivo a pós-graduações na mesma área. Seria ótimo também a possibilidade de os alunos desenvolverem projetos de empreendedorismo em "incubadoras" de inovação nas universidades, de forma a poderem aprender na vida real (a verdadeira escola de empreendedorismo!) como levar uma ideia para o mercado, transformando novidade em inovação. A inovação médica hoje parte sempre de um problema ainda por resolver para os doentes - e os alunos de medicina e médicos, com o seu conhecimento clínico, estão numa posição privilegiada para compreenderem e detetarem estas necessidades dos doentes, e contribuir para a expansão e subsequente aplicação do conhecimento médico.
Pela sua experiência e opinião, qual a diferença entre um estudante da área da saúde em Portugal e no Reino Unido, tendo em conta as valências e oportunidades de desenvolvimento?
João Incio: Existem mais oportunidades para carreiras alternativas, mais financiamento para as mesmas, por exemplo bolsas ou financiamento por Business Angels e capitais de risco em projetos de empreendedorismo, e programas dedicados exclusivamente a clínicos para enveredar por estas áreas (e.g. NHS empreendedor clínico). A forte presença de indústria farmacêutica e de dispositivos médicos no Reino Unido, bem como universidades com fortíssimos programas de empreendedorismo, também ajuda.
Alguns pontos que queira salientar como mais importantes e de encorajamento para os jovens que ingressam nestas áreas.
João Incio: Não hesitem em contactar quem tenha trilhado o mesmo percurso, e embarcar em estágios fora ou no país, se existirem, para poderem contactar de perto com estas carreiras.
Sónia Rito Teixeira
Gabinete de Apoio à Investigação Científica Tecnológica e Inovação (GAPIC)
Equipa Editorial
