Dia 1 do Open Day do Interno
O encontro era anunciado nas redes sociais sem pedido imediato de ajuda. O facto é que estão habituados a agarrar a motivação e não a largam facilmente, mesmo que não obtenham logo o estímulo imediato para prosseguirem.
Mariana Alves que o diga, a coordenar a atual comissão de internos, está neste momento a terminar o internato em Medicina Interna no Centro Hospitalar Lisboa Norte / Hospital Pulido Valente, tem um Doutoramento em Medicina, é Assistente em duas cadeiras da Faculdade de Medicina e tem 3 filhos. Da repleta agenda que a acompanha percebeu que era fundamental sensibilizar os futuros internos para a escolha de uma especialidade no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, mobilizou outros e assim tudo aconteceu.
A cada dois anos uma comissão organizadora é formada para desencadear uma representação mais institucional entre o Hospital e os internos. Este ano foram 14 elementos a levar avante o projeto. O culminar desta última presidência foi precisamente o Open Day CHULN onde se abriram as portas de cada especialidade ao olhar atento dos alunos de 6º ano de Medicina, assim como aos internos de formação geral. Outubro foi o mês escolhido para reunir 42 especialidades, 45 serviços, sendo que a especialidade de Medicina tem 3 serviços e juntando ainda um representante para falar do ano comum. Durante dois dias foram 44 os internos que foram abrindo a comunicação aos curiosos, contando um pouco do seu percurso e respondendo à curiosidade mais imediata de quem passava e parava com dúvidas.
Grupos de amigos de formação já feita, gerações pequeninas ainda de colo, ou já a falar sobre os projetos do que querem ser quando crescerem, reuniram-se vontades e um sentido de pertença comum de pessoas que, tendo ficado no campus, querem contagiar com a beleza que os próprios veem nas suas áreas. Entre sacos a simular sangue, potes de gomas, batas e fatos verdes, pósteres e abraços, ou colo emprestado, o encontro marcava, ainda fora do Grande Auditório, um espírito de união e reencontro.
Já dentro do Grande Auditório Mariana Alves dava o sinal de arranque, “somos super-heróis e sentimo-nos muito exaustos, mas há razões para continuarmos a investir naquilo que fazemos todos os dias”, dizia numa sessão de testemunhos primordialmente inspiracionais e que procuravam responder ao desafio de dar as razões reais para se escolher o Hospital, ou especificamente alguns dos seus serviços. Caso mais flagrante dessa necessidade de equipas, o da Urgência, onde o seu Diretor atual, o também Intensivista João Gouveia apelava sem rodeios à entrada de mais internos numa das áreas mais necessitadas do Hospital de Santa Maria: “Eu quero que façam Urgência. É exigente e hostil, mas é onde mais nos realizamos como médicos, é onde nos surgem os casos mais desafiantes, logo aqui que somos um dos maiores serviços do país”. Área que aguça as manchetes da imprensa, tem igual olhar preocupado dentro Hospital, desenvolvendo atualmente novas áreas de formação, algumas delas em parcerias com o Técnico; não é por acaso que se prevê que a Urgência possa tornar-se especialidade já a partir de 2024, de acordo com informação avançada pelo Diretor. “Esta é a maior porta de entrada do país e o nosso tempo de intervenção é curto quanto fundamental”.
“No pain, no gain”, espírito incutido pelo Diretor do Internato José António Lopes. “A formação de um interno depende da sua própria qualidade, de quem encontra para o encaminhar, mas também dos doentes que terá. Este é o campus de maior dimensão e nele está a experiência daquele que é também o maior centro académico médico do país”.
Diretor clínico do CHULN e presente nos dois dias de Open Day, Luís Pinheiro reforçava ainda dados importantes para demonstrar uma grandiosidade numérica: “temos 1000 especialistas, 600 internos e 800 mil consultas por ano, mas ainda nos faltam pessoas, precisamos de mais pessoas. Esta casa será tanto melhor quanto mais vocês derem à casa, temos que sentir que o sítio onde estamos é o melhor, senão não estaríamos cá”. E terminou lançando o desafio final: “Venham como internos e fiquem como profissionais!”.
Dia dois do Open Day do Interno
Francisca Sarmento está no 1º ano de Medicina Interna, faz parte da Comissão de Internos e foi falar no 2º dia do Open Day dedicado aos médicos que estão ainda na fase de escolherem a especialidade. O CHULN oferece muitas áreas da Medicina, de Investigação e é reconhecido pelos seus pares quer dentro quer fora de portas.
Esta médica partilhou com a plateia, quais as razões que a levaram a escolher o CHULN para fazer o seu internato. “Apesar de ser um hospital caótico, com urgências atoladas e diagnósticos tardios”, há o reverso da medalha e, neste caso, esse outro lado é atrativo. “O CHULN é composto por dois hospitais, ligados entre si por um shuttle que faz o transporte a cada hora. O Centro Hospitalar é reconhecido por ser de referência. Este ano já foi destacado em diversas áreas, nomeadamente, com o título de Centro Ibérico de excelência em reumatologia.” Mas há mais razões, “o número de pessoas que aqui entram diariamente, através das urgências, somos referência na produção de artigos publicados em revistas científicas e em trabalhos de investigação.” Destacou também as sessões do CAML onde se partilham diversos tratamentos e cirurgias, “dando a conhecer o nosso trabalho.”
Porquê escolher o CHULN?
Francisca fez um apanhado das razões que levaram alguns colegas a escolherem o CHULN e passou-as num quadro. “Hospital Universitário com papel de ensino dinâmico ao longo do tempo, contacto com pessoas em vários graus de formação, “pessoas inspiradoras”, “valências disponíveis no serviço na especialidade que pretendia. Possibilidade de interação com outros serviços,” “atividade científica integrada por ser centro universitário com gabinete de apoio à investigação,” “diversidade de consultas e especialização. Centro de referência para patologias pouco comuns,” entre muitas outras.
Carlos Lopes da direção do Internato Médico referiu que “este centro hospitalar tem mais de 39 especialidades” e que “se somos a escolha de 500 internos é porque fazemos a diferença.” Destacou formação pré e pós-graduada “onde somos referência.” O CHULN “tem patologias raras que mais nenhum Centro Hospitalar tem e tem números que nunca mais acabam”, por todas essas evidências, concluiu que “este é sítio certo para se fazer investigação.”
Luís Pinheiro, Internista e Diretor Clínico do CHULN começou por dizer que nas funções que desempenha, apenas uma é transitória e é a do cargo que ocupa – Diretor Clínico. Referiu-se ao CHULN sobretudo como um espaço de liberdade. “Liberdade de pensamento de escolhas e de discussão.” Pode não ser perfeito e a pressão dos que aqui trabalham é muita e isso deve-se aos números de utentes que aqui são atendidos diariamente, mas isso também permite uma diversidade muito grande de casos com que os médicos têm oportunidade de contactar. “Este ano tivemos 50 ambulâncias aqui à porta”, os jornais mostraram isso e deram conta dessa dimensão caótica, mas “houve falência de muitos sítios e as ambulâncias estavam aqui à porta porque não tinham outro sítio para estar.” Referiu ainda que esta é a casa “onde nasci para a profissão” e as vagas de internato que não foram preenchidas “são oportunidades perdidas”, concluiu.
Qual é o real papel dos internos num hospital? E que importância pode assumir abrir as portas para falar de cada especialidade? No final do Open Day, falámos com Mariana Alves e fomos entender estas questões.
Mariana Alves: Em dezembro de 2021 questionei o internato médico relativamente aos planos da semana de acolhimento dos novos IFE, para poder conciliar com o acolhimento que já costumamos fazer na Medicina do Hospital Pulido Valente para os novos IFE (habitualmente depois do acolhimento do CHLN).
Fiquei a saber que não havia nada muito planeado e foi nessa sequência de respostas a saber que a comissão estava em final de mandato e nenhum dos seus membros tinha interesse em continuar como membro da comissão. Esta situação, adicionada à minha frustração perante as vagas de internato que ficaram por preencher no CHULN, levaram a que começasse a procurar pessoas para criar uma nova comissão... tentei incentivar muitas pessoas, tentei que alguém assumisse papel de presidente da comissão, uma vez que eu estava no final do internato e não me fazia sentido ser eu a assumir o cargo, mas levei muitas respostas negativas; tentei motivar as pessoas, dizendo que na verdade isto não lhes iria dar muito trabalho, seria uma tentativa de melhoria em relação ao passado. Expliquei que as expetativas no nosso trabalho não eram elevadas, como tal, tudo o que fizéssemos seria uma mais valia. Consegui reunir um grupo em que tivesse um representante de cada serviço de medicina (med 1, 2 e 3), especialidades médicas e cirúrgicas e principalmente o que queria era que o grupo tivesse pessoas do 1º ano, mais motivadas e que depois dessem seguimento à comissão nos próximos anos.
Que mais funções tem esta comissão organizadora de internos?
Mariana Alves: A comissão de internos não tem "obrigações", falta, aliás, algum reconhecimento formal dos hospitais em geral. Embora haja na ordem dos médicos alguma tentativa de reconhecimento/valorização das mesmas: Comissões de internos | Conselho Nacional do Médico Interno (CNMI)
De acordo com o regulamento do internato médico, indicam pontos como:
a)Representar os médicos internos da respetiva instituição junto dos órgãos do internato médico;
b) Contribuir para a melhoria das condições de frequência e de funcionamento dos processos formativos;
c) Promover, com o apoio da direção ou da coordenação do internato médico, a organização de cursos, debates, sessões clínicas e jornadas;
d) Acompanhar o processo formativo dos colegas, promovendo reuniões periódicas entre todos os médicos internos;
e) Comunicar à respetiva CRIM, com conhecimento à direção do internato hospitalar ou às coordenações, os factos relevantes que ocorram no decurso do processo formativo.
Na prática isto pode ser muito, ou pode não ser nada... será aquilo que cada um quiser fazer.
A nossa comissão decidiu apostar no acolhimento e qualidade de formação do internato no CHULN.
Dora Estevens
Joana Sousa
Equipa Editorial