A pontualidade e o compromisso continuam a ser ponto de honra para José Rodrigues. Só assim poderia abraçar desafios atrás de desafios. Um dos grandes, confessa, foi ser presidente da direção da Associação de Estudantes da Faculdade de Medicina, no ano em que a pandemia fez parar o mundo. Mas não o tempo. Os dias sucederam-se numa gestão de crise difícil, mas possível, graças ao trabalho em sinergia com a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL).
Cancelaram-se atividades. Adiaram-se abraços. Assumiram-se decisões. Mas os dias avançaram, porque a vida encontra sempre o seu caminho. O curso de filosofia ficou para trás, mas é apenas um «sonho adiado», garante José, agora com 25 anos, médico desde setembro de 2021.
Está de volta à Guarda, à família, ao conforto de uma boa cabidela na casa dos pais, aos "lugares comuns de memórias eternas", como escreveu nas redes sociais.
"Gostei muito de viver em Lisboa, especialmente nesta idade de descoberta e de crescimento". Ficaram lá muitos amigos, até os da infância na Guarda. Também eles rumaram até à capital para estudar. Dos 25 que se formaram, apenas três voltaram à sua terra natal.
Mas "foi bom regressar. A vida do dia-a-dia é mais tranquila e é muito gratificante apoiar as pessoas que fazem parte da minha comunidade", confessa, com a generosidade de quem valoriza o sentimento de pertença. Além disso, "Lisboa está apenas a 300 quilómetros de distância", simplifica, e "vivemos no século XXI, num país desenvolvido". Não tanto quanto gostaria.
A sua cidade, a mais alta de Portugal, sofre dos males de um país profundamente desigual. Acredita que "não há soluções milagrosas locais" para contrariar esta tendência, mas ainda assim aceitou o convite para integrar uma lista de candidatura ao Município da Guarda, que venceu nas últimas eleições autárquicas. Hoje, além de médico, é também deputado municipal.
A gestão dos recursos humanos e das estruturas da saúde são competência do Ministério da Saúde e do Estado Central, a quem cabe achar a cura para problemas bem reais e há muito diagnosticados, a fuga dos médicos para o privado e a falta de médicos no interior do país.
Para José, que vive na cadência do pulso da sua terra natal, a receita "não passa só por uma bonificação no salário". É preciso garantir que quem regressa tenha a oportunidade de desempenhar as tarefas para as quais estudou. É preciso criar empregos diferenciados e permitir que todos tenham aqui um "projeto de vida".
O seu ainda está em aberto. Por enquanto a sua cidade ainda o guarda dentro. Depois de despir a bata, vai jogando à bola com os amigos, saboreando o ritmo tranquilo do interior e desfazendo os quilómetros que o separam da capital, onde vai regularmente. Este ano que passou, assumiu funções de monitor de Introdução à Clínica, na FMUL. A partir de setembro, será docente nas aulas práticas.
Depois do regresso à Guarda, o regresso à casa onde se formou como médico. Que bom que foi saber de ti, José Rodrigues.
As primeiras entrevistas do Zé:
https://www.medicina.ulisboa.pt/newsfmul-artigo/quem-e-o-novo-presidente-da-aefml
https://www.medicina.ulisboa.pt/newsfmul-artigo/105/jose-rodrigues-o-elo-de-ligacao-entre-os-extremos
Margarida Leal
Equipa Editorial