Inaugurado em 1950 o Centro de Estudos Egas Moniz (CEEM) celebra atualmente 72 anos com cara lavada, depois de obras que revitalizaram todo o espaço do piso 6.
Na altura criado pelos Professores Egas Moniz e Pedro Almeida Lima, a visão mais modernizada que traziam de contactos feitos além-fronteiras, permitia criar em Portugal um modelo semelhante para novos estudos. Começado inicialmente num anexo do Hospital Júlio de Matos, o CEEM seria transferido para o Hospital de Santa Maria aquando a abertura do Edifício. Centro de visão moderna, albergava vários laboratórios sempre ligados às neurociências. Neste mesmo espaço viria a aparecer o laboratório de linguagem criado pelos Professores António Damásio e depois Alexandre Castro Caldas.
A cultura de investigação nas neurociências que agora é continuada pela Professora Isabel Pavão Martins, à frente da Neurologia, revela bem que não é um acaso a área das neurociências clínicas ser a que mais tem publicado artigos científicos, seguida de imediato pela área das neurociências básicas.
O pedido para que se iniciassem as obras do CEEM partiu do anterior Diretor de Neurologia, o já jubilado Professor José Ferro, também ele presente, assim como Alexandre Castro Caldas.
Este é o resultado de “obras que, mais do que conforto, são sobretudo para reorganizar espaços e relançar o CEEM como um centro de investigação da Faculdade para novos talentos e para que os alunos possam ter um espaço para realizarem trabalhos”, explicava a Profª. Isabel Pavão Martins.
Coafiliados com o Centro estão dois grupos do Instituto de Medicina Molecular (iMM) ligados às neurociências médicas, o grupo dos Professores Joaquim Ferreira e de Mamede de Carvalho. O CEEM promete ainda lançar estudos pós-graduados, assim como outros cursos organizados para breve.
“Esta é a oportunidade de ver o Centro renascer e a criar novos talentos”, reforçava a Professora, fundamentada de seguida pelo próprio Diretor da Faculdade de Medicina, Fausto Pinto, que já em jeito de despedida de mandato reforçou ser esta a “área considerada uma das joias da coroa” da Instituição.
Preservar o museu, mas também a biblioteca e não deixar adormecer o trabalho dos antecessores, foi a mensagem transversal, mensagem de resumo da Profª Isabel Pavão Martins sobre este que “era um projeto que poderia ter morrido pouco tempo depois de o Egas Moniz se ter reformado”.
Habitual defensor da investigação como é Fausto Pinto, na reservada sala museu resguardada à meia-luz e com apenas uma dezena de presenças, referiu ser “fácil dirigir elementos quando se tem uma equipa com a qualidade como a da Neurologia e a Neurocirurgia”. “Este Centro mostra aquilo que tem sido o exemplo da Escola das neurociências e que levou um dos nossos médicos ao único Nobel Português”, refletiu Fausto Pinto sobre o contributo do Centro para uma Medicina mais moderna. Por fim reforçou que “esta é uma Escola que não se ergueu de geração espontânea”, tendo em si uma herança a de suportar o caminho onde já chegou.
Apresentada a sala museu, a visita seguiu pelas restantes instalações do piso 6, permitindo observar salas inteiramente aptas a receber novos investigadores, sempre integrando os novos cérebros do saber com o passado. Passado esse evidente em cada mobília antiga e materiais médicos, cuidadosamente expostos, usados no passado. Seca a tinta das paredes e repostas as antigas cadeiras de madeira à entrada no museu, foi já possível reencontrar o saudoso relógio pregado no topo da parede, assim como recuperar o gasto retrato do pai Lobo Antunes, rodeado por toda a sua equipa das neurociências e onde constavam já o filho João (Lobo Antunes), a jovem promissora Isabel (Pavão Martins) e o acutilante e discreto José (Manuel Ferro).
A visita terminaria no amplo gabinete, atualmente a cargo da Professora Isabel Pavão Martins, sucessora de José Ferro. Com uma disposição diferente e nova janela aberta, na outrora parede de esquina branca e fechada, do edifício de Santa Maria, mantém no entanto, os sofás de sempre, a campainha no chão que Lobo Antunes usava para chamar a sua assistente, e a mesma perspetiva para o exterior. Agora com mais um elemento até então desconhecido, os periquitos verdes que visitam o piso 6 e daí saem para todos os cantos do Hospital.
Nesta simbólica data do dia 22 do ano 22 estiveram ainda presentes os atuais Diretores de Serviço da Neurologia, assim como da Neurocirurgia de Santa Maria, João Sá e José Miguens, respetivamente, assim como o próximo Diretor da Faculdade de Medicina, o Professor João Eurico.
Na história do CEEM contam-se outros nomes de mérito que aqui deixaram a sua herança transportada nas paredes renovadas, os Professores António Flores, Pedro Almeida Lima, João Pedro Miller Guerra, João Alfredo Lobo Antunes, Alexandre Castro Caldas e José Manuel Ferro.
Joana Sousa
Equipa Editorial