Quando penso em Natal lembro-me da família reunida à volta da mesa e a casa cheia de pessoas com crianças a correr da cozinha para a sala, e vice-versa. Tenho 9 irmãos, somando as cunhadas e os cunhados, mais os meus sobrinhos o resultado é bastante grande. Só tive um ano em que fomos menos de 10 à volta da mesa na ceia de Natal.
Os preparativos começam sempre no início de dezembro com a montagem do pinheiro, a casa fica a cheirar a pinheiro natural e a musgo, porque temos a tradição de ir ao monte buscar o musgo para fazer o presépio. Em criança era um dos momentos mais felizes de todo o ano. Desde o início do mês natalício que em casa já se fala de quem vem passar o Natal à casa dos pais, para se começar a fazer contas de quantos somos e como vamos colocar as mesas e, até este ano, a família foi crescendo porque nascia sempre uma criança.
Nunca dei importância às prendas, porque aquilo que realmente é importante e aquilo que sempre me foi transmitido é o facto de estarmos todos juntos, felizes e bem de saúde.
A minha casa sempre foi um entra e sai de pessoas, no dia 24, não só familiares que vêm desejar umas boas festas, mas também, os vizinhos que pedem à Dona Maria, a minha mãe assim tratada, para cozinhar a tradicional broa caseira. O pão da minha mãe é bastante conhecido na aldeia, então no dia 24, desde cedo que a campainha não para de tocar para fazer as entregas. Num só dia são dezenas de pessoas que passam na porta 100 para levar o pão fresco para a sua ceia de Natal.
Uma das coisas que recordo e que ainda hoje o faço com uma grande paixão são os concertos de Natal. Adoro fazer concertos de Natal, as melodias são lindíssimas e o espírito que transmito e o que se sente na sala de concerto enche-me o coração com uma enorme felicidade. Há muitos aplausos e ver as pessoas felizes é a melhor recompensa que posso ter.
Há uma outra memória que continua muito presente, nesta época também é o momento em que se celebram as festas da aldeia, no dia 26 de dezembro é dia do padroeiro da terra, então são 3 dias de festa que começam no dia 24, com a missa do galo e terminam na noite de dia 26 com um grupo de música. Sempre frequentei esta festa, reunia-me com os meus amigos e andávamos todos juntos assistir às várias atividades que estavam planeadas no programa da festa. O que mais fazíamos, na altura, era andar nos carrinhos de choque.
Atualmente, a casa continua a estar cheia, há o cheiro do pinheiro natural, há o pão caseiro da Dona Maria, há aquela alegria que o Natal traz devido à música e às ruas decoradas, mas acho que em criança as vivências dos momentos são únicas e diferentes do agora, que já somos adultos. Andamos tão ocupados com outras responsabilidades pessoais e profissionais que estes momentos, em criança que são dias inexplicáveis, agora acabam sempre por ficar em segundo plano. E digo isto porque dou por mim a pensar em certos momentos: “ainda nem parece Natal”, devido a este frenesim de atividades que a vida nos obriga a estar.
Estas são as minhas memórias do Natal e que vou sempre recordar com muita saudade e que se repitam por muitos anos ao lado daqueles que mais gosto.
Feliz Natal!
Este texto foi escrito por um colaborador da FMUL que optou por não se identificar.
