A ideia foi apresentada ainda no ano letivo anterior. De modo a colmatar os dois anos de programa curricular que foram afetados pela pandemia, o Conselho Pedagógico, em parceria com o Departamento de Educação Médica (DEM) e a Associação de Estudantes (AEFML), desenharam um Plano de compensação pós-COVID em formação médica, e nutrição, para aulas práticas clínicas e laboratoriais.
Com o objetivo primordial de assegurar o contacto e a ligação dos alunos à atividade clínica, o programa apresentava-se também como pioneiro ao implementar uma maior presença destes nas Urgências hospitalares. Enquadrar estes grupos nas Urgências e integrá-los em equipas de medicina e cirurgia, deu a este Plano voluntário um cunho funcional, aproximando os docentes do hospital às atividades clínicas dos seus alunos. Numa dinâmica de períodos de urgência de 4h por cada dia, ao longo da semana, e durante dias inteiros aos fins-de-semana, abria-se assim a possibilidade “de uma ainda maior integração entre Hospital e Faculdade e incorporação dos alunos nas atividades clínicas assistenciais”, como nos salientou o Presidente do Conselho Pedagógico e mentor deste Plano, Joaquim Ferreira.
Não foi por isso de menor importância o papel do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN), através da intervenção muito direta de Anabela Oliveira, Diretora do Serviço de Urgência do CHULN e também Professora na Faculdade de Medicina.
Implementado no dia 1 de agosto de 2021 e tendo durado até dia 15 de setembro, muitos foram os que optaram por preterir as férias ao novo Plano.
Conhecemos o Tiago, a Gabriela e a Carole e fomos perceber como resultou este novo Plano de Compensação.
Gabriela Soares, 22 anos, de Viana do Castelo, está agora a começar o 5º ano de Medicina.
Escolhi este curso por acreditar que é aquele em que melhor serei capaz de cuidar o outro e, até então, a crença mantêm-se
“Nos últimos dois anos, toda a comunidade académica se deparou com uma realidade desafiante que se instalou sem antecipação. A mudança e necessidade de adaptação foram as únicas constantes.
Enquanto estudante, numa fase inicial, a transição do presencial para o virtual apresentou-se como um cenário simpático que possibilitava o cumprimento das responsabilidades académicas com o bónus de poder voltar a casa e ficar mais perto da família. À primeira vista, ao evitar deslocações e distrações, teríamos a oportunidade ideal para dar resposta às exigências teóricas do curso.
No entanto, o confronto com a redução da prática clínica desmoronou a utopia. Encaro o contacto com os doentes como a principal fonte de aprendizagem - a doença e o doente são indissociáveis; de nada nos servem as horas de estudo se não sabemos aplicar o conhecimento adquirido. Rapidamente o distanciamento social deixou de ser meramente físico. A falta de experiências condicionou perda de motivação e rigor no estudo, e a basilar relação médico-doente foi-se tornando apenas um conceito.
Os estágios de Verão não poderiam colmatar todas as lacunas que o ensino online trouxe, mas permitiram resgatar a índole prática e retemperar o gosto pela Medicina.
Creio que a adesão dos alunos ao plano de recuperação clínica foi bastante satisfatória, uma vez que este cobriu as áreas disciplinares com as quais gostaríamos de ter contactado mais ao longo do semestre, em ambientes de consulta, enfermaria e Serviço de Urgência. Estamos gratos pela iniciativa e disponibilidade dos médicos e professores que nos acolheram fora do período letivo.
Depois de uma dupla época de exames, o tempo de descanso era muito almejado e a sua cada vez maior proximidade mantinha o ânimo no estudo. Os estágios de Verão viriam prolongar este período de espera, mas sem eles sinto que o primeiro ano clínico não teria sido concluído. Com uma boa gestão de tempo, não temos de sacrificar o lazer pela formação ou vice-versa.”

Carole Cruz vai agora iniciar o 6º ano e vive no Estoril.
Após a grande falta de prática que tivemos, a grande maioria dos alunos preferiu abdicar do seu tempo de descanso com o objetivo de tentar ter a melhor formação possível.
"Com a pandemia grande parte dos anos clínicos foram afetados. Por muito esforço que tenha havido por parte da direção e dos docentes, o contacto com os doentes e a vivência na enfermaria não se consegue substituir com aulas de zoom. Ter tido metade do 4º ano e quase todo o 5º ano por zoom faz com que os alunos se sintam menos preparados para enfrentar o dia-a-dia nos hospitais.
A proposta destes estágios não solucionou totalmente a falta de prática que tivemos mas fez com que os alunos pudessem tentar compensar as horas práticas perdidas. No geral, considero que houve uma boa organização dos estágios e um grande esforço por parte dos docentes e discentes do Conselho Pedagógico para que houvesse o máximo de médicos e especialidades disponíveis para a escolha dos alunos. Nos estágios que eu realizei, senti que os médicos estiveram disponíveis, integraram-nos nas equipas e no seu dia-a-dia. No entanto, por serem estágios de curta duração e pelos médicos não nos conhecerem nem saberem o nosso nível de conhecimento, acabou por se tornar um estágio meramente observacional e não tão prático como desejável.
Estes estágios foram organizados para serem durante as nossas férias de verão. Férias que ocorreram após um ano especialmente exigente visto termos tido duas épocas de exames seguidas, devido à reestruturação do ano letivo. No entanto, após a grande falta de prática que tivemos, a grande maioria dos alunos preferiu abdicar do seu tempo de descanso com o objetivo de tentar ter a melhor formação possível".
Chama-se Tiago Constantino, tem 34 anos e vai começar a frequentar o 5ºano de Medicina.
Após uma tentativa infortuna de entrar em Medicina quando tinha 18 anos, decidi entrar em Radiologia. Mas o meu intuito foi sempre a Medicina.
“Infelizmente, após o início da pandemia, inúmeras restrições foram impostas, e é claro, o ensino em Medicina foi severamente afetado. O contacto humano e clínico foi algo que se perdeu, no entanto, outros aspetos foram também afetados.
A saúde mental quer dos discentes, quer dos docentes foi fortemente afetada. E apesar da introdução, bem conseguida, de plataformas de ensino, tais como o Zoom, não foi possível colmatar a reduzida interação entre os docentes e discentes. A magia das aulas, não está apenas na transmissão de informação através de diapositivos, mas sim através da troca de ideias, ideais e dos constantes desafios impostos por cada um.
Os estágios de verão vieram colmatar, em parte, a pouca prática clínica que os alunos tiveram oportunidade de ter durante o ano letivo. Não foi a solução ideal, no entanto, penso claramente que houve um esforço incansável dos docentes, dos médicos e da AEFMl em encontrar o melhor dos “dois mundos”, permitindo assim, a todos os alunos, de forma voluntária, a oportunidade de adquirirem conhecimento e prática em inúmeras especialidades médicas. Estes estágios permitiram aos alunos terem contacto com as melhores práticas clínicas e com a melhor evidência científica disponível até ao momento. Incutiu-nos, igualmente, o espirito de trabalho equipa, mostrando que todos os intervenientes, ou seja, os profissionais de saúde são de uma extrema importância para o bem-estar e saúde de todos os doentes.
Realizei o meu estágio em otorrinolaringologia (ORL) com o Professor Doutor Paulo Borges Dinis. A sua entrega e profissionalismo são apaixonantes, sendo por isso uma referência para qualquer profissional.
Relativamente à organização do estágio, este estava muito bem estruturado, de tal modo que tive oportunidade de presenciar e vivenciar inúmeros procedimentos intraoperatórios e em contexto ambulatório.
Deixo aqui o meu profundo agradecimento ao Professor Doutor Paulo Borges Dinis e ao Professor Doutor Óscar Dias pelo momento que me proporcionaram bem como a todos os restantes profissionais de saúde do serviço de ORL do Hospital de Santa Maria.
Os estágios permitiram um enriquecimento pessoal e profissional, no qual agradeço, profundamente, a todos os envolvidos na elaboração.
Quando o foco do aluno é aprender e a capacitar-se de novas ferramentas que permitam a aquisição de conhecimentos teóricos e práticos, eu não considero que exista abdicação de tempo pessoal de descanso ou de férias. Todos os alunos de Medicina, em particular da Faculdade de Medicina de Lisboa, sentem que o dever de um futuro profissional de saúde é devoção e de comprometimento com a profissão e com os doentes.”
Recorde os pontos fundamentais do Plano de Compensação em Formação Médica / Nutrição para as aulas práticas clínicas com doentes e aulas práticas laboratoriais.
PowerPoint Presentation (ulisboa.pt)
