Em julho perseveramos na adaptação a uma normalidade que se escreve a cada dia, surgindo sempre nova e diferente. E num novo paradigma de relacionamento interpessoal, reaprendemos a confiar uns nos outros, enquanto o Mundo se abre e reaviva gradualmente, mas a ritmos diferentes.
Por cá, assistimos à abertura de fronteiras, ainda que apartados das melhores oportunidades para reerguer o turismo português em tempos difíceis de pandemia, enquanto muitos portugueses permitiram-se invadir espaços públicos, procurando desfrutar do verão, não obstante o infortúnio que se abateu sobre mais de uma dezena de freguesias, essas obrigadas a dar um passo atrás no desconfinamento, em virtude da situação epidemiológica preocupante na região de Lisboa e Vale do Tejo.
Também na vizinha Espanha, várias regiões adotaram medidas de reconfinamento e o Mundo, na sua generalidade, viu-se a braços com o ressurgimento de novos casos de infeção por Covid-19.
A crise económica e o acordo para o fundo de recuperação europeu esgotaram a imprensa nacional na cobertura da pandemia que, em julho, atingiu o recorde de casos diários de infeção em todo o mundo (mais de 230 mil num só dia, avançou a OMS), e tornou-se ainda mais evidente a necessidade de ajustar outros setores, como a Justiça, perante um cenário sem precedentes nas últimas décadas.
Em julho voltou-se à discussão sobre o uso da máscara, que passou a ser obrigatória na contrução civil (um dos setores que permaneceu em atividade desde o início da pandemia), e imposta também em espaços exteriores, numa medida decretada por várias regiões em Espanha.
Entre a incerteza do momento que vivemos e a comunicação, muitas vezes, incongruente e parca em fundamentos, é facto que em tempos excecionais, a Lei (que não teve mãos a medir no intitulado, mas nada espirituoso “Universo Espírito Santo”) é chamada a intervir. E em julho registou-se a primeira detenção por crime de desobediência e propagação de doença, resultante do incumprimento das medidas de contenção da Covid-19. Para além disso, este mês foi propício a intervenções das forças de autoridade para a dispersão dos vários ajuntamentos que foram notícia no país.
“Sabe-se lá/Quando a sorte é boa ou má/Sabe-se lá/Amanhã o que virá”. Palavras intemporais do fado português, e que encaixam no verão da calamidade, cantadas pela ilustre Amália Rodrigues, celebrada neste mês de Julho, em que se comemorou o centenário de uma das mais notáveis fadistas e embaixadoras da nossa cultura além fronteiras.
Em julho pediu-se Responsabilidade, sobretudo num mês marcado por novos surtos e o regresso a medidas mais restritivas um pouco por todo o globo, numa disparidade de comportamentos que o acesso à informação, por si só, não consegue alterar.
O que não sofreu alterações foi o nosso compromisso com toda a comunidade FMUL e, por isso, mantivemo-nos atentos e empenhados, orgulhosos das equipas e do trabalho que tem sido desenvolvido por todos até então. É exemplo disso a nossa Biblioteca, que destacámos logo no arranque de mais um mês de intensa atividade, partilhando o relato de Susana Henriques, Coordenadora das equipas da Biblioteca da FMUL, no qual compreendemos a sua paixão pela profissão e a importância das Bibliotecas no Ensino Superior.
Discutimos as prioridades atuais da oncologia nacional, num debate com o Professor Luís Costa sobre os efeitos da pandemia nessa especialidade médica, e fizemos um ponto de situação das consultas à distância com o Professor João Eurico da Fonseca, responsável pelo Serviço de Reumatologia do CHULN (Centro Hospital Universitário de Lisboa Norte).
Atentámos nos desafios que se colocam à Cirurgia Cardíaca na era atual com o Professor Fausto Pinto, e partilhámos o trabalho de uma equipa que se empenha na implementação de uma medicina de cada vez maior qualidade e inovação, na última edição da revista Coração e Vasos.
Demos mais um passo no tratamento da Doença de Parkinson, com a aprovação do medicamento que resultou da investigação conduzida pelo Professor Joaquim Ferreira, desta vez por parte das autoridades regulamentares do Japão.
Recordámos também, a “Criação do GAPIC” por ocasião do seu 31º aniversário, numa entrevista à Professora Leonor Parreira, que coordenou o Gabinete de Apoio à Investigação Científica da FMUL, entre 1997 e 2002.
E porque o conhecimento e a informação são essenciais para responder a uma situação tão desafiante e incerta como a que enfrentamos hoje, reiteramos a importância de se estreitar ainda mais a ligação entre a Ciência e a Política, numa cuidadosa análise ao surto de covid-19 na região de Lisboa e Vale do Tejo, atentando ainda no processo que ditou o regresso à nova normalidade em contexto de pandemia.
Alertámos também, para os riscos dos ajuntamentos e focámos atenções nos comportamentos defensivos, que devem ser uma preocupação de todos nesta fase em que, conforme denotamos, ainda há muito por descobrir sobre o novo coronavírus, apesar do esforço incessante na consolidação de todo o conhecimento adquirido até ao momento.
Por esse motivo, apelámos ao reforço das equipas de saúde pública e a uma comunicação mais coerente e eficaz por parte dos governantes, perspetivando os desafios que se lançam nos próximos tempos, em que a gripe sazonal e o SARS-Cov-2 vão conviver pela primeira vez no próximo outono e inverno, conforme sublinhou o Professor Ricardo Mexia.
E partimos novamente em defesa da etiqueta respiratória, do distanciamento físico e do uso generalizado de máscara, reforçando que são medidas imprescindíveis e urgentes no combate à pandemia, numa cuidadosa análise do Professor Ruy Ribeiro.
Muito considerada também na luta contra a pandemia está a imunidade de grupo, que se tornou objeto de estudo na comunidade científica e sobre a qual dissertaram os nossos Professores Ana Espada de Sousa e Luís Graça, partilhando as evidências dos estudos realizados até à data.
Estudámos o impacto da idade na produção de anticorpos protetores da covid-19 e exploramos a possibilidade da existência de fatores preditivos dos doentes com um quadro mais grave ou ligeiro da doença.
Assinalámos o Dia Mundial do Cérebro e o Dia Mundial das Hepatites, prosseguindo em direção a novas descobertas científicas, ultrapassando os limites circunscritos pela pandemia, com a investigação da prevalência da esteatose hepática em doentes com infeção por VIH.
Divulgámos os resultados da campanha de testagem da ULisboa, numa ação coordenada pela FMUL e que teve início em maio, demonstrando que 98,5% dos indivíduos analisados não entraram em contacto com o novo coronavírus.
Reconhecemos que não é tempo de baixar a guarda. É tempo de ter uma atitude pedagógica com a população, pois a incerteza caminha lado a lado com os reveses neste desafio constante que tomou o mundo de assalto.
Exigimos, portanto, reflexão, planificação e, principalmente, ação atempada e apelámos ainda a um maior investimento na Ciência, berço da descoberta e princípio da inovação e progresso da Humanidade.
Julho foi também, tempo de espreitar os bastidores e alguns protagonistas do Mentoring 2.0 e ouvir as primeiras reações à Prova Nacional de Acesso para a escolha da especialidade médica.
Dissecámos ainda, a experiência clínica com antirretrovíricos e atentámos nos projetos de investigação em destaque pela importância decisiva no tratamento da covid-19.
Falámos de Liberdade em tempo de pandemia, uma crise sanitária global que afetou uma percentagem ínfima de mulheres grávidas assintomáticas, segundo dados de um estudo do Serviço de Obstetrícia do CHULN.
De forma objetiva e responsável, renovámos o compromisso com o ensino da Medicina, que não carece de vagas para garantir a excelência de sempre, e intervimos na discussão pública sobre a realidade da formação médica em Portugal.
A OMS dá como certo que “não haverá retorno ao ‘velho normal’ no futuro próximo”, mas aponta um caminho para uma situação mais favorável no panorama da crise global que todos enfrentamos hoje. Esse caminho, independentemente da curva epidémica que cada país atravessa, passa por “tomar uma ação decisiva”. E nunca é tarde para agir.
“O preciso é ser-se forte/Ser-se forte e não ter medo”, canta-nos Amália Rodrigues, e assim avançamos, com a atenção voltada para o futuro, delineando estratégias e antecipando obstáculos, ao mesmo tempo que abrimos espaço a novas ideias e projetos, preparando o que de melhor ainda está para vir. Porque acima de tudo, e como sempre, a prioridade é o progresso, estabelecendo novas metas para consolidar o lugar cimeiro que a FMUL ocupa no Ensino Médico e na Ciência em Portugal.
Sofia Tavares
Equipa Editorial
