Uma última aula oficial não chega para contar a história inteira de alguém.
O caso não seria desta vez a exceção, pois a hora que falou, não bastou ao Prof. Miguel Oliveira da Silva para contar os seus pontos académicos e clínicos mais relevantes. Ficavam, no entanto, breves apontamentos de uma reflexão que viria a ser ouvida por uma sala que o viu tantas vezes intervir.
Professor Catedrático de Ética Médica da Faculdade, formou-se em Ginecologia, focando grande parte da sua experiência na Obstetrícia, ambas, atividades médicas que exerceu no Hospital de Santa Maria.
Os cuidados pré-natais, assim como o planeamento familiar seriam matérias que não deixariam qualquer dúvida sobre algumas opiniões estruturais que sempre assumiu e que as manteve até ao fim, não querendo, no entanto, ser provocatório com a vasta plateia que anuiu a vê-lo no dia 9 de novembro, na Aula de Jubilação.
Primeiro Presidente eleito do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (2009-2015), coordenou projetos sobre Saúde Sexual e Reprodutiva na União Europeia (2003-2010) e foi ainda vice-Presidente eleito do departamento de Bioética do Conselho da Europa (2018-2019). Publicou diversos livros sobre a sua área médica, refletindo sobre os temas éticos e com contraponto à religião, o que explica a pluralidade da sua audiência na despedida, onde nem o seu amigo pessoal o ainda ministro da Saúde, Manuel Pizarro, quis faltar.
Sobre a cumplicidade da ética com a saúde reprodutiva, a legislação e a consciência individual; sobre os números relativos a 2021 que nos dizem que em Lisboa, em 3 dos hospitais privados houve mais partos que nas 2 maiores maternidades do SNS; sobre a democracia sanitária e o debate social no que toca ao acesso à informação e à defesa dos direitos humanos; foi sobre alguns dos traços amplos e gerais que o Professor deixou caminhos e apontou posições, deixando antever que haverá ainda larga escala desenhar.
Dia de celebração e em jeito de fim de aula, a Aula Magna devolveu agradecendo, com forte aplauso, o trabalho do Professor que sempre disse comunicar e trabalhar em prol dos seus estudantes, futuro da Medicina onde continuará a dar cartas.
