“Investigação em tempo de pandemia: a encruzilhada do futuro”
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Num artigo de opinião que disseca os desafios que se colocam à investigação científica em plena pandemia, o Professor Miguel Castanho, investigador principal no iMM, entende que "a monopolização do debate público em torno do desenvolvimento de vacinas (e, sobretudo, a sua politização) tem tolhido a discussão sobre como a Investigação Científica pode, efetivamente, ser usada como arma contra o vírus e a pandemia".

“Repentinamente, espera-se da Investigação Científica resposta pronta, eficaz e visível, em contraste com a sua natureza meticulosa, de confirmações recorrentes e seguras, e, portanto, lenta nos padrões mediáticos da comunicação da atualidade. Especialmente no caso de investigação em Saúde, compreende-se que assim seja: “Com a Saúde não se brinca” e “Depressa e bem não há quem”, como dizem as expressões populares, sem que a Investigação Científica tenha salvo-conduto nestas regras”, sublinha na publicação da Exame Informática.

De forma assertiva, Miguel Castanho levanta questões e aponta os caminhos trilhados pela Ciência, com vista à ação eficaz no controlo da pandemia. “Num país como Portugal, o que poderíamos, afinal, esperar como medidas baseadas em conhecimento científico? No imediato, estudar os pontos críticos de transmissão (Transportes públicos? Estabelecimentos de ensino? Famílias? Locais de trabalho? Festas e diversões? Restaurantes?…), selecionar critérios de decisão baseados em factos (Número de infetados? Número de internados? Taxa de transmissão?…), obter a confiança da população através de uma comunicação clara dos critérios adotados e medidas de contingência preconizadas (em que circunstâncias se justifica uma nova quarentena caso se dê uma segunda vaga?, por exemplo). A par, levar a cabo um investimento sério nas várias áreas do saber e da criatividade (ciências biológicas, sociais e humanas, arquitetura, artes) para conceção de soluções e adaptações, a todos os níveis, ao novo (a)normal, que se pode tornar duradouro […]”.

O Professor defende ainda, que é fundamental “reorganizar as cidades, sobretudo nas áreas metropolitanas, evitando dormitórios sobrelotados e mobilidade intensa entre centro e periferias, para tornar a economia menos dependente de um setor tão volátil como o turismo e, ainda, para reindustrializar Portugal com a participação da Ciência/Inovação e de outros setores criativos diferenciadores”.

Todavia, escreve Miguel Castanho, “a catalisação e coordenação dos esforços de Investigação Científica para fazer frente aos desafios levantados pela pandemia têm sido escassos e débeis”, denota, apontando as lacunas que considera evidentes, num artigo para ler na íntegra aqui.