Hoje é dia Mundial de Sjögren

23 de Julho de 2021, 09:30

Ténis e Síndrome de Sjögren: a propósito do dia mundial da Síndrome de Sjögren.

Mulher de raça negra

Venus Williams pertence à elite do ténis mundial. Quarenta e nove troféus vencidos e sete títulos de Grand Slam. Anos a fio no top 3 do ténis mundial com uma carreira iniciada em 1996. Mas em 2004 começou a sentir algo de errado que condicionava a sua performance física a alto nível. Um cansaço sem explicação, dores articulares e musculares e uma enorme dificuldade em atingir o pico da forma física. Aparentemente não havia nada de errado com os seus exames e os médicos não percebiam o que se passava. Em 2006 foi-lhe muito difícil manter a performance e caiu no ranking até ao lugar 48. Voltou a conseguir melhorar a performance, mas o problema não desaparecia e antes pelo contrário complicava-se, surgindo agora secura da boca e dos olhos. Em 2011 é-lhe finalmente diagnosticado uma Síndrome de Sjögren e esse é o ano mais difícil para ela, caindo para um inédito lugar 103 do ranking de ténis. Mas com medicação, dieta e adaptação do treino volta a competir, usufruindo do prazer do desporto que mais gosta, subindo no ranking, mantendo-se durante períodos longos nos 10 primeiros lugares e disputando finais de Grand Slam. Mostrou uma persistência notável e provou que é possível compatibilizar uma atividade física intensa com uma doença reumática inflamatória. Interessou-se por veicular a sua situação médica em público, estimulando outros doentes a lutar e manter as suas vidas o mais normais possíveis.

Ainda agora não sabemos com precisão a causa da Síndrome de Sjögren. É uma doença caracterizada por uma perturbação do sistema imunitário que gera uma inflamação crónica, com maior incidência nas glândulas salivares e lacrimais, com um componente de inflamação articular e sistémico variável de doente para doente.

São manifestações nucleares para o diagnóstico a secura ocular (xeroftalmia), a secura da boca (“Xerostomia”), evidência objetiva de secura ocular, através do teste de Schirmer <5 mm (5min) e do score Rosa Bengala >4 (queratoconjuntivite), a evidência objetiva de envolvimento das glândulas salivares (através da biópsia das glândulas salivares minor com sialadenite linfocítica focal (>1 agregado de >50linfócitos/4mm2), sendo que a ecografia das glândulas salivares com alterações da estrutura do parênquima pode também ser contributiva para o diagnóstico) e a presença dos autoanticorpos anti-SSA/Ro. Mas o doente apresenta outros possíveis sintomas frequentes como artralgias/artrite, mialgias, cansaço fácil, sensação febril, manifestações de neuropatia (ardor, formigueiros nas extremidades), erupções cutâneas (púrpura, lúpus cutâneo subagudo), lesão renal inflamatória, envolvimento inflamatório pulmonar, pancreatite e vasculite. Há manifestações laboratoriais comuns como a existência de anticorpos anti-nucleares (ANA), do anticorpo anti-SSA, do factor reumatóide, elevação da velocidade de sedimentação, elevação da fração gama na eletroforese das proteínas e diminuição da contagem dos leucócitos e linfócitos.

A terapêutica assenta na utilização de substitutos das lágrimas e saliva, no aumento da produção lacrimal e salivar com pilocarpina, uso de anti-inflamatórios não esteróides e/ou de doses baixas de corticóides quando necessário. Dependendo das manifestações clínicas podem ser adicionados imunomoduladores como a hidroxicloroquina e o metotrexato. Imunossupressores como a ciclofosfamida e doses altas de corticóides são usados para manifestações graves (como por exemplo alguns tipos de lesão inflamatória do pulmão e rim, formas graves de neuropatia inflamatória e de vasculite sistémica).

Como em todas as doenças reumáticas inflamatórias, e como vimos com a Venus Williams, o equilíbrio entre a terapêutica correta, a dieta e o exercício físico é crucial para atingir a melhor qualidade de vida possível.

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