Estudo VITACOV: a genética que permite identificar indivíduos de risco para quadros mais severos de COVID-19 por deficiência de vitamina D
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mesa com peixe, salmão, ovos e queijo

Investigadores Portugueses identificaram características genéticas associadas aos níveis de vitamina D no sangue e que estes níveis estão fortemente associados à gravidade da doença COVID-19. Este estudo mostrou, pela primeira vez, que a população portuguesa tem características genéticas que contribuem para um défice de vitamina D.

Os resultados obtidos reforçam a necessidade da definição de estratégias personalizadas de abordagem clínica, muito em particular particular no contexto de risco de infeções virais.

Este estudo clínico foi registado na base de dados internacional https://clinicaltrials.gov/ com o número NCT04370808 e foi publicado em Outubro na revista Scientific Reports do grupo Nature (https://doi.org/10.1038/s41598-021-99952-z).

 

Coordenado pelo Centro Cardiovascular da Universidade de Lisboa (coordenador: Prof. Doutor Fausto Pinto), e em parceria com a empresa HeartGenetics, Genetics and Biotechnology SA (coordenadora: Prof.ª Doutora Ana Teresa Freitas), com a Nova Medical School (coordenadora: Prof.ª Doutora Conceição Calhau), com a Faculdade de Medicina do Porto (coordenador: Prof. Doutor João Tiago Guimarães), e com a plataforma BioData.pt (coordenadora: Dr.ª Ana Portugal Melo), o projeto VITACOV teve financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia, ao abrigo do programa “Research 4 Covid-19 Apoio especial a projetos de implementação rápida para soluções inovadoras de resposta à pandemia de COVID-19”.

Este estudo clínico avaliou, entre agosto de 2020 e janeiro de 2021, 517 doentes admitidos com o diagnóstico de COVID-19, nos Hospitais de Santa Maria em Lisboa e do São João no Porto.

Os resultados obtidos mostram que os doentes com níveis de vitamina D muito baixos apresentaram quadros mais graves da doença COVID-19, com elevada mortalidade. No entanto, os resultados mais inovadores do estudo são na área da genética, uma vez que foi possível identificar uma associação entre características genéticas e os baixos níveis sanguíneos da vitamina D. Esta descoberta é ainda mais relevante para a população Portuguesa uma vez que foi possível demonstrar que a nossa população tem uma prevalência de alterações do genoma que conferem uma menor capacidade de produção de vitamina D a partir da exposição à luz solar. Estas características genéticas estão presentes em cerca de 20% da população Portuguesa, representando uma prevalência quatro vezes superior à média Europeia. Aqui residirá em parte uma explicação para o facto de termos uma prevalência superior de deficiência em vitamina D por comparação com países do norte da Europa.

A vitamina D tem um papel importante na manutenção geral da saúde, é uma hormona o que explica a sua ligação a múltiplas ações sendo uma delas a modulação do sistema imunitário. A deficiência de vitamina D tem também sido associada a algumas condições clínicas, como a hipertensão arterial, maior risco cardiovascular, diabetes, doenças autoimunes, cancro, entre outras.

Estes novos dados mostram que a caracterização genética e a monotorização dos níveis sanguíneos de vitamina D podem desempenhar um papel importante na identificação de sub-grupos de pessoas mais vulneráveis a doenças virais, como a infeção ao vírus SARS-CoV-2 . Levanta ainda a questão do potencial impacto da adoção de medidas ao nível populacional, que deverá ser fruto de estudos mais aprofundados, nomeadamente de caráter interventivo.