Quatro estudantes de FMUL, venceram a “Clinical Competition” e ganharam a frequência de um estágio no maior Centro de Simulação da Ásia. Chamam-se Afonso Cruz, Afonso Vinhas, Duarte Costa e Eduardo Félix, estudam Medicina e estão todos no 5º ano. Viveram recentemente uma aventura no império do meio que lhes trouxe conhecimentos e mais valias no campo da medicina.
Esta viagem que durou uma semana, de 31 de agosto a 10 de setembro, começou há uns meses atrás quando os quatro amigos, formaram uma equipa e decidiram participar na “Clinical Competition”, uma prova de conhecimentos médicos no âmbito do AIMS que é muito desafiante para os alunos do curso de medicina, e que se divide em três fases; A primeira, foca-se na avaliação e discussão de casos. Ao Duarte coube o papel de líder. “É importante numa situação de emergência em que somos várias pessoas a fazer avaliação, que haja um reúna toda a informação e assuma o papel de decisor. Duarte acabou por assumir “esse papel de forma natural”, avança Afonso Cruz, seguido da explicação de Eduardo “percebemos que assim funcionávamos bem enquanto equipa”. Fazendo jus ao papel assumido, Duarte toma a dianteira na conversa que tivemos e avança com a segunda fase; “é promovida pelo Hospital da Luz e consiste num curso de Simulação de Emergência Médica”. Decorreu durante dois meses, com várias sessões de treino que consistiam com aulas teóricas e aulas práticas. No final, as equipas em competição foram avaliadas por um júri constituído por dois elementos do AIMS e de vários médicos do Hospital da Luz que acompanharam a formação que decorreu durante o mês de novembro e dezembro. A equipa dos 4 alunos, todos do 5º ano, conquistou o primeiro lugar e com ele uma viagem a Macau, para frequentarem um estágio no maior Centro de Simulação da Ásia. Dava-se aqui início a um ciclo que abriu as portas a um vasto conhecimento teórico, mas sobretudo prático, de uma série de procedimentos cirúrgicos e médicos que os quatro acreditam fazer a diferença sua vida enquanto médicos, mas para já, enquanto estudantes. Por exemplo, “agora, no primeiro semestre, vamos ter ginecologia e obstetrícia e já tivemos oportunidade de praticar alguns procedimentos que nos permitem ter um ganho” diz Duarte e os colegas confirmam.
Assim que chegaram foram recebidos por elementos da Fundação Oriente, um dos patrocinadores deste estágio e Billy Chan, diretor do Centro de Educação e Simulação Médica da MUST - Macau University of Science and Technology - responsável pelo primeiro curso de Medicina em Macau e que teve a primeira turma em 2019, estando agora a formar os primeiro médicos, uma vez que o curso tem a duração de 5 anos.
Macau é “surreal”
É impossível ficar indiferente à grandiosidade dos edifícios e sentir uma espécie de atmosfera mágica e vibrante criada pelas luzes e pela constante azáfama que se vive no território, muito graças aos casinos. “A palavra que mais usámos durante esta viagem foi “surreal” e não estava à espera que fosse tão evoluído”, diz Afonso Vinhas.
E para começar em grande, entraram em Macau pela maior ponte marítima do mundo, que se situa na China e liga Macau, Hong Kong e Zhuhai. A partir daqui tudo parecia possível.
Os estudantes conscientes de que tinham conquistado uma oportunidade única, sentiam um misto de curiosidade em adquirir conhecimento da sua área de estudo, mas não só. Como explica Duarte Costa, “aproveitámos para sentir a cultura embora a barreira da língua fosse um obstáculo. As pessoas falam mal inglês e nada de português”. Visitaram o jardim onde está a gruta de Camões e diz a história que aí terá acabado de escrever os Lusíadas. É um importante ponto de encontro para fazer desporto e praticar atividades de lazer. “Havia muita gente a jogar um jogo e tentámos falar com eles, mas apesar da simpatia, a comunicação é difícil”.
Aprenderam muitas histórias sobre a chegada dos Portugueses ao território bem como das relações que ainda hoje se mantêm a unir duas culturas tão distintas. Afonso Cruz achou interessante a manutenção da calçada portuguesa na Praça do Leal Senado bem como ainda existirem muitas placas em português, embora Macau já tenha sido entregue há 25 anos à China. “Apesar de estarmos no outro lado do mundo senti-me de certa forma em casa.”
As questões culturais, a gastronomia e os hábitos foram também alvos de atenção até porque condicionam a prática clínica. Alguns procedimentos, básicos, são bastante diferentes e carecem de atenção especial, como explicou Eduardo, “a auscultação, por exemplo é feita sem tirar a t-shirt, e a apalpação feita com muito cuidado. Há ali a questão do toque que para nós é muito mais fácil e aceite”. Já Duarte acredita que seria benéfico para um médico português que ali fosse exercer, ter primeiro uma formação, para perceber as diferenças culturais que existem e não criar algum constrangimento.
Os dias começavam bem cedo com aulas teóricas onde estudaram essencialmente a componente da ética e da comunicação e casos clínicos. Laparoscopia, Ecocardiograma, Broncoscopia, Suporte Avançado de Vida e Obstetrícia e ginecologia, foram as áreas sobre os quais tiveram oportunidade de testar vários robôs no Centro de Simulação. O facto de terem a forma do corpo humano torna a experiência mais real, nisso todos concordam. Quando se trata de uma mesa tátil com simulação a experiência não é tão imersiva. Agarrar num braço, mesmo que não seja real, é mais parecido com a realidade e torna tudo mais intenso ou como bem explicou Eduardo “é verdadeiro o suficiente para se sentir a emoção e a adrenalina, mas falso o suficiente para poder errar.”
Este estágio permitiu adquirir conhecimentos de forma geral, mas a grande mais valia foi sem dúvida a parte prática numa medicina cada vez mais desenvolvida e que permite procedimentos cada vez menos invasivos. Os centros de simulação permitem aos alunos treino e formação em procedimentos técnicos bem como a tomada de decisões clínicas em ambiente simulado esta prática vai permitir-lhes ter uma capacidade de raciocínio e destreza mental maior e mais eficaz quando viverem uma situação real e provavelmente para os que escolhem as áreas cirúrgicas, o que não é o caso do Afonso Vinhas. “Se tivesse de escolher hoje era cardiologia, mas é interessante aprender novas técnicas, mesmo que não sejam as da área que se escolhe”, e aprenderam coisas como, “como pegar numa artéria, meter um agrafo” que parece simples, “mas que deu tarimba para o futuro.”
A repetição uma e outra vez é sem dúvida uma ferramenta, uma capacidade ou qualidade que faz a diferença quando estão em cenários reais. Por isso os quatro alunos sentem que ganharam sobretudo, “confiança” para desempenharem melhor o seu papel, que por enquanto ainda é de alunos, mas que caminha para a formação em medicina. Uns serão intensivistas, outros oftalmologistas ou cardiologistas, mas este treino será sempre uma mais valia e um elemento diferenciador entre os demais que não tiveram a ousadia de concorrer à “Clinical Competition” e a capacidade de ganhar este estágio que a FMUL, em parceria com a Fundação Oriente e a Faculdade de Macau - a MUST- permitiram ter.
Assistiram também à semana de acolhimento aos caloiros, “e conhecemos o plano curricular diz Afonso Vinhas destacando “o centro de simulação” como aspeto positivo, mas a dificuldade de fazer estágios, por ser uma região pequena com poucos hospitais e sem uma amostragem que permita contactar com muitas doenças, é o aspeto mais negativo que os estudantes de medicina se deparam, “tendo de fazer estágios no verão e no território continental da China.”
Foi uma semana inesquecível e uma viagem inédita vivida pelos quatro no império do meio que ainda aproveitaram para dar um pulinho Zhuhai na China.