Esta semana recebemos a visita de uma equipa de reportagem no Laboratório de Farmacologia e Neurociências, local onde a Professora Maria José Diógenes e a sua equipa descobriram um novo composto químico que demonstrou em ratinhos, ter potencial terapêutico contra a doença de Alzheimer. A dois anos dos ensaios pré-clínicos a comunidade cientifica tem os olhos postos na FMUL.
Este estudo agora revelado e publicado na revista Molecular Therapy, deu os primeiros passos em 2015, quando a equipa se debruçou em identificar o que estava mal, o que não funcionava nos cérebros dos ratinhos que tinham mimetizado a doença de Alzheimer. “Precisávamos de muitas amostras para percebermos a evolução da doença e isso levou-nos a um banco que existe na Finlândia e que para além de ter vários estádios da doença, tem muitas amostras que nos permitiam a comparação”, explica a também presidente do Conselho Pedagógico, da FMUL.
À medida que iam avançando nas pesquisas perceberam que tinham de proteger os efeitos neuroprotetores da molécula BDFN, muito importante para o cérebro, e que é “crucial para os processos de memória e aprendizagem e cuja função está diminuída” nos doentes com Alzheimer porque “o local onde a esta molécula se liga para exercer a sua função, está destruído”. Cientistas de todo o mundo dedicaram-se durante anos a tentar aumentar o potencial da molécula, mas nunca se dedicaram ao recetor. A professora avança criando uma metáfora para que a perceção seja mais fácil, “não se dedicaram a estudar a fechadura, o recetor”. O que este composto faz é impedir a clivagem do recetor da molécula designada TrkB-FL”. Significa, portanto, que para que a BDNF consiga exercer a sua função em pleno é necessário ativar o recetor da molécula o TrkB-FL. É como se o BDNF fosse uma chave e o TrkB-FL a fechadura. “para que a chave abra a porta é necessário que a fechadura esteja intacta”, explica.
A quebra do recetor dá origem a dois fragmentos", sendo que "um deles tem a capacidade de por si só promover a alteração da memória e de alterar o funcionamento dos genes".
A equipa de Maria José Diógenes verificou que, quando administrado a roedores que reproduziam a doença de Alzheimer, o novo composto químico "recupera as ações" da molécula BDNF no cérebro, "por prevenir a clivagem do recetor TrkB-FL", mas também "impede a formação de um fragmento tóxico que tem potencial para propagar a doença". "Diminui os níveis de Tau hiperfosforilada, um péptido [composto de aminoácidos] que se acumula no cérebro dos doentes de Alzheimer e que se julga ser uma das causas da doença", e "impede a perda de espinhas dendríticas, estruturas que permitem que os neurónios comuniquem uns com os outros e essenciais para a formação de memória", ou seja, este novo composto químico atua em duas frentes.
Com este estudo que já vai em 9 anos, e que medido à luz da ciência é “pouco tempo” a equipa de investigadores trouxe o foco para a FMUL e a verdade é que a comunidade científica aguarda com expectativa o evoluir desta investigação. A dois anos de experiências pré-clínicas, a equipa ainda é moderada nos festejos porque no campo da ciência, pequenas alterações podem mudar o rumo de uma investigação e hipotecar anos e milhões investidos.
A equipa entrevistou e recolheu imagens para o programa “Falar Global”, emitido no CMTV.