As sessões do Centro Académico de Medicina de Lisboa (CAML) decorreram às quintas-feiras na Aula Maga e o dia 22 de dezembro não foi exceção. Na última sessão do ano, foi analisado um caso clínico acompanhado no Serviço de Neurocirurgia do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN) e o tema escolhido foi “DBS (Deep Brain Stimulation) – Sucesso em Patologia Complexa”.
O Médico Pedro Duarte Batista, em representação do Grupo de Cirurgia para Doenças do Movimento do CHULN, apresentou o caso de um jovem adolescente que sofria do Síndrome de S. Gilles de la Tourette e de Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC). Esta mistura das duas doenças culminou num quadro complicado. O jovem tinha tiques motores e vocais, coprolalia e dificuldades académicas, ainda que ligeiras. Devido ao POC, começou a isolar-se a sofrer de ansiedade, tiques dolorosos e complexos ao nível do antebraço levando mesmo à fratura do braço direito. Para além do jovem, este sofrimento era alargado a toda a família e para piorar a situação, à medida que crescia, havia um agravamento da frequência e da intensidade das convulsões e a doença passou a ser refratária ao tratamento médico máximo, terapia comportamental e eletroconvulsivoterapia.
Acompanhado no serviço de Neurocirurgia do Hospital de Santa Maria, propuseram ao doente e à família a DBS. “Pensámos que seria uma hipótese”, diz o Nurocirurgião Pedro Duarte Batista, e assim foi. O jovem foi sujeito a vários exames nomeadamente uma TAC e Ressonância Magnética, exames obrigatórios para definir o alvo. “É necessário fazer corresponder as estruturas da TAC com as da Ressonância. É necessário fundir os exames para definir o alvo”. É preciso estabelecer as coordenadas das zonas a tratar e onde vão ficar implantados os elétrodos que serão depois programados para modular determinadas zonas do cérebro.
A colocação do quadro estereotáxico no paciente é um dos passos e igualmente importante é traçar o caminho para chegar até às zonas a tratar, de forma a minorar todos os riscos e permitir o sucesso do procedimento. “Estamos a falar de milímetros. Qualquer erro pode comprometer o tratamento ou criar complicações futuras ou uma hemorragia no momento.” Os médicos entram no bloco com 3 cenários de percurso possíveis. Não é garantido que não haja complicações, mas diminui as hipóteses. “Para se ter uma noção, o máximo de erro aceite é 1.5 mm”, disse o Médico e acrescentou, “o caso que aqui trazemos teve 0.5 mm de erro.”
Depois do procedimento ter sido concluído, a equipa trata de programar o aparelho que irá dar estímulos à parte que foi colocado no interior do cérebro do paciente, permitindo ao doente recuperar a qualidade de vida. Foi isso que aconteceu com o paciente em análise. Um ano após o procedimento, “tinha voltado à escola, praticava desporto e tinha namorada. Tinha uma vida social perfeitamente normal.” Tinha engordado muito, mas não se apurou qual a razão que provocou o aumento de peso. O jovem faz terapia comportamental, absolutamente vital para garantir o sucesso deste tratamento.
De salientar que este procedimento é feito graças a uma equipa multidisciplinar que passa pelo Laboratório de Linguagem, Neurocirurgia, Psiquiatria ou Neuropediatria, apenas a título de exemplo. Esta equipa, constituída por uma mão cheia de cirurgiões, já fez mais de 350 cirurgias, numa média de 30 por ano, que é o rácio mínimo para se considerar que a equipa tem experiência. As patologias tratadas são, Parkinson, Distonia, Tremor Essencial, POC, S. Gilles de la Tourette, Adição e Epilepsia. Em Portugal, apenas o hospital de Santa Maria e o São João conseguem alcançar este patamar.
Dora Estevens Guerreiro
Equipa Editorial