Dirigiu a Faculdade de Medicina ao longo de 7 anos.
No dia 20 de julho de 2022 despediu-se com um discurso de resumo da obra feita. E entregou a pasta ao novo diretor de quem fala com franca confiança e a quem deseja genuínos sucessos.
É habitual vê-lo de bata branca quando nos cruzamos com ele nos corredores. Voz presente, quem o conhece mal, diz que intimida por ter presença forte e assertiva.
Não tem tempo para perder e não gosta que lhe coloquem só problemas, sem lhe darem sinais de soluções. Não é que precise de ajuda para criar as soluções, mas porque precisa de reconhecer no outro a luta pelo trabalho e o rasgo de querer fazer mais, de ir mais longe.
Atualmente diretor do Departamento de Coração e Vasos do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, lidera ainda o Centro Cardiovascular da Universidade de Lisboa e é o Presidente da World Heart Federation, mas apresenta-se essencialmente como médico. “A minha profissão é ser médico acima de tudo”, reforça para quem possa não identificar de imediato o seu primeiro grande posto.
Comunicador nato é fácil pedir-lhe que improvise algo, há nele um perfil seguro de quem se preparou para quase tudo na vida. Até para perder. Mas já me entenderá melhor sobre esta última parte.
A primeira vez que o vi não tinha noção que numa Faculdade não é habitual qualquer pessoa propor reuniões ao diretor. Algo improvável quando se passou anos no privado e cujas hierarquias eram claramente mais neutras. Mas eu propus-lhe uma reunião, acabada de chegar à Faculdade. Ele não só aceitou, como me pediu para levar trabalho feito. A partir daí começou a confiável relação de trabalho. Sobre a hierarquia, não foi ele que a instalou, mas apesar de ter a porta aberta a quem o queira contactar, ou pedir ajuda, ele gosta do desafio de ser questionado e incluído a trabalhar em equipa. Mas engane-se quem pensa que gosta do desafio de terem que lhe provar algo. Não perde tempo para alimentar suspeições e não fomenta quem viva delas. É pragmático e gosta que a inteligência domine uma conversa. Não compra discussões, eventualmente abandona os ringues onde considere que o adversário não merece que ele gaste energia.
É preciso ser confiante que chegue para se assumir nesse papel, mas ele sabe que o pode fazer. Treinou bastante para chegar aí. O próprio o conta. Aluno brilhante na Faculdade que anos depois viria a liderá-la, tornou-se promissor cardiologista e depois especialista seguido por vários. Assumindo cada vez mais cargos de responsabilidade e dando a sua imagem para a associar a grandes instituições ou sociedades, é elemento familiar de comunicação e arrojo que baste, principalmente quando falamos de organizações públicas.
Filho de Santarém e dos pais que já não tem, a mãe partiu diante do seu olhar, poucas horas depois de me dar a sua entrevista final enquanto diretor da Faculdade.
Pai de 5 filhos e uma neta, o coração não lhe treme muitas vezes na vida. Não é homem de afetos fáceis, principalmente com quem trabalha. Mas sente a fundo as dores que o seu próprio coração lhe causa, mas leva fielmente a convicção que um homem não chora. Não por fora.
No dia 12 de julho, um dia depois da nossa entrevista, a mãe do Professor Fausto Pinto morreu, depois de duros dias em que se foi despedindo dos filhos que finalmente juntou ao seu redor.
Apesar de ter cancelado praticamente toda a agenda nacional e internacional, recebeu-me pontualmente no seu gabinete. Voz arrastada e os olhos baços havia qualquer coisa nele diferente, ausente. E ainda assim sempre sólido no seu raciocínio. Até que o próprio contou que a mãe estaria presa à vida por horas. Assim foi. O único rapaz, irmão do meio entre duas irmãs seria mais uma vez, no dia de se despedir da mãe, o líder forte ao leme das emoções, não vergando diante de ninguém, ou o barco não chegaria ao porto em paz.
Foi sempre assim enquanto convivemos. “Não tem mal que falem de si, é sinal que os marcou para poderem falar, mas não lhes demonstre que isso a magoa”, disse-me um dia, paternalista. Percebi que não era da boca para fora, ele era assim. Mas aprendi, ao observá-lo, que não se quebra diante dos que de nós dependem, para os continuarmos a inspirar; muito menos se quebra diante de quem nos quer mal, porque isso seria gosto dado de graça e a dignidade não o pode permitir.
Por isso no dia em que se despediu da mãe não quebrou, levando o leme em nome de toda a família.
Poucos dias depois entregava outro leme ao Professor João Eurico Cabral da Fonseca, o novo diretor.
Foram sete anos de mandato. Três no primeiro e quatro no segundo, por alteração do tempo de vigência.
No dia 26 de maio lançou oficialmente a sua candidatura a Bastonário da Ordem dos Médicos, no jardim da Ordem e tendo a Professora Maria do Céu Machado como mandatária.
Em janeiro, com data por determinar, o país saberá quem será o novo representante dos médicos, no país que vê o seu Serviço Nacional de Saúde a desfragmentar-se como um iceberg a derreter contra o tempo.
Homem de missões, acredita em si. Acredita que tem novo navio a comandar. Sentido figurado é como ver a tocha a ser entregue nas mãos do próximo” estafeta” que chegará a nova meta de mais quatro anos académicos.
Se lhe perguntasse o que diria ao atual diretor que tomou posse a 20 de julho, o Professor e diretor anterior diria, "missão cumprida". Foi precisamente pelo fim que começámos.
Quais são as primeiras palavras que lhe ocorrem quando se falam destes 7 anos cumpridos?
Fausto Pinto: Foram 7 anos de muito trabalho. Foram várias as atividades desenvolvidas, quer nas infraestruturas, quer no começo de novos programas. Reabilitámos várias áreas, requalificámos espaços, consolidámos e desenvolvemos programas, reformulámos áreas, tivemos sempre o objetivo de estar perto da família da Faculdade. Criámos várias iniciativas dentro da Instituição para que todos se sentissem parte integrante; desde os gabinetes de apoio, ao estabelecimento de projetos de valorização profissional; criámos o Departamento de Educação Médica, para melhorar a educação; criámos novos gabinetes, incluindo o da Comunicação, para melhorar os aspetos ligados à imagem e à funcionalidade. Abrimos uma nova licenciatura em Ciências da Nutrição e garantimos grande oferta formativa do pós-graduado. Por fim integrámo-nos num forte centro académico (CAML). Se olhar para o que foi o meu programa, cumprimos. Formando por isso os médicos de amanhã e sendo uma Escola baseada em princípios e valores, com capacidade de desenvolver conhecimento. Tivemos ainda um desafio major que foi a pandemia e que nos colocou à prova, fazendo-nos mostrar a liderança e a capacidade de reação e de novas soluções. Fizemos o que tínhamos em mente e cumprimos o que tínhamos prometido quando fomos eleitos.
Foi recebendo manifestações desse apreço agora que está a poucos dias da sua saída?
Fausto Pinto: Tenho recebido sim, mas houve um inesperado e que foi uma surpresa feita pelos funcionários desta casa, quando me fizeram um filme de homenagem. Confesso que me emocionou. Mas significa que consegui deixar-lhes uma marca, diria que uma boa marca. Ver nos outros a vontade de mostrar o seu agradecimento, é um bom sentimento. A pouco e pouco as pessoas vão percebendo que se fechou este ciclo e vão dando nota do seu agradecimento. E nós fechamos com chave de ouro e fico bastante satisfeito por isso.
Qual é a grande chave de ouro para o fecho do seu mandato?
Fausto Pinto: Houve várias coisas, na verdade. Mas posso dizer que o Centro de Simulação Avançada foi um grande passo. Mas outros momentos inovadores foram criados, como o Centro de Medicina Aeroespacial; a criação do Centro de Bioimagem, como grande trunfo para quem faz investigação. Por fim fica o espírito de inovação e modernidade, algo que tocou as pessoas e fez com que se desenvolvessem novas frentes, com relevante impacto nas pessoas.
Traço comum que a várias pessoas foi possível ouvir quando o descreviam era a sua capacidade de querer instalar mudanças e um espírito de modernidade. Essa luta constante para que não se pensasse de forma limitada, esse olhar para o mundo global vem-lhe dos tempos em que viveu nos EUA?
Fausto Pinto: Foi reforçado nos EUA, mas a minha vida sempre foi vivida de forma muito aberta, foi sempre assim. A possibilidade de contactar com outros, sempre me enriqueceu, principalmente depois de me formar, mas mesmo antes. Ao longo destes anos fui beneficiando de diversas funções internacionais, o que me deu uma visão muito alargada. A experiência é muito importante, mas mais ainda é a forma como vivemos essa experiência. A minha forma de estar no mundo é usufruir ao máximo todas as experiências que se atravessam ao longo da minha vida. As oportunidades surgiram-me na altura certa e eu aproveita-as, procurando gerar novas formas de pensamento, de ação. Esta foi sempre uma mais-valia que me permitiu tomar decisões talvez mais amplas. Ser exposto a uma variedade de experiências e vivências, permitiu-me criar a minha própria maneira de ser e de estar. Mas há aspetos que se vão trabalhando e treinando, não é tudo inato. Mas o resultado final impõe-se arriscado, mas apetrechado de decisões.
Há medo na vida de um líder quando se tomam grandes decisões?
Fausto Pinto: Medo não. O medo pode aliás tolher. O que para mim tem mais peso é a responsabilidade. Ao tomar uma decisão podemos afetar muitas pessoas e por isso há que ter em conta que não se podem tomar essas decisões de ânimo leve. Mas há que tomar as decisões e como tal sem medo. Claro que haverá sempre decisões envoltas de algum mistério no que toca ao seu desfecho, sobretudo quando estas são mais arriscadas, temos de saber medir o impacto, mas depois avançar sem mais recuos.
Estas decisões terão sempre por base um suporte de informações que fundamenta a decisão com uma base robusta, claro que isso não impede que se tomem decisões rápidas sem tempo de as analisar, mas as decisões estruturais são alicerçadas em várias informações.
E tomam-se decisões sejam quais forem as críticas? Como lida com a crítica e a gere ao longo do processo?
Fausto Pinto: A decisão deve sempre ser suportada, há que ter convicção do que se está a decidir. A crítica virá sempre, a questão é se estamos confortáveis para enfrentar essas críticas. Sabe que quando estamos num certo nível de responsabilidade, sabemos que não vamos agradar todos. Voltamos à questão da liderança, apesar das críticas, as pessoas terão de aceitar as decisões gerais. E depois de decidir, não podemos em seguida recuar, ou voltar a hesitar sobre o mesmo assunto. Agora, entendamos que há igualmente que fazer o exercício de ouvir a crítica. Ela é, aliás, bastante positiva e construtiva na maior parte das vezes. Há por vezes situações de críticas que pretendem ser destrutivas, mas os líderes têm de saber viver com isso e aprender a criar o devido distanciamento para que não se sintam afetados.
Aprende-se a gerir o confronto com a crítica?
Fausto Pinto: Aprende-se. Temos de assumir a capacidade de ouvir coisas justas e outras totalmente injustas, mas temos de saber ouvir. E note que podemos sempre entender que, ao recolher novas perspetivas, podemos até refazer alguns argumentos. Afinar decisões não lhes retira a capacidade inicial. Agora, nunca esquecer o teor da crítica, de onde ela vem e se é, ou não, meramente destrutiva. Temos de saber avaliar com discernimento. Sabe que, embora não ligue muito a isso, o que não entendo é a crítica apenas como modo de ataque e não para melhorar algo. Lido com situações dessas e muitas vezes são pessoas que julgam sem conhecimento de base e inclusivamente com algum tipo de desinformação e maldade, apenas para tentar magoar.
Houve alguma decisão estrutural que tenha tomado ao longo destes 7 anos e que depois avaliasse que podia ter feito de um modo diferente?
Fausto Pinto: Grande parte das vezes as decisões tomadas foram em articulação com os outros elementos que constituíam a Direção. Mas a esta curta distância posso dizer que não há nada estrutural que mudasse, ou que se pudesse recuar não a teria tomado. Claro que nos detalhes poder-se-ia ter alterado algo, por alguma coisa íamos monitorizando as ações, precisamente para se poder afinar alguma questão. Olhe por exemplo, a Reforma dos Anos Clínicos fomos afinando e melhorando ao longo de reuniões e pareceres, mas não me arrependo nada da Reforma, era a decisão necessária. Mas nada mudaria de forma substancial.
As grandes decisões foram sempre solitárias, ou sempre partilhadas por toda a equipa de direção?
Fausto Pinto: Em regra geral, foram sempre partilhadas, tive sempre um apoio extraordinário por parte dos meus Subdiretores e do meu Diretor-executivo, dos Presidentes dos Órgãos Científico e Pedagógico, assim como dos restantes Dirigentes, e dos Presidentes da Associação de Estudantes (AEFML). Nesse sentido fui bastante beneficiado pela forma leal, solidária e cúmplice de se tomarem as melhores decisões para esta Escola. Sempre que se está com um espírito de missão e construtivo, e não com outros planos, para a Instituição acaba por se sentir uma partilha comum desse mesmo espírito. Isso é muito bom, esse objetivo comum. Eu pude rodear-me das pessoas que potenciaram a minha capacidade.
Destes anos na Direção e se pudesse escolher dois momentos marcantes, um pela positiva e outro como o menos positivo, que momentos apontaria?
Fausto Pinto: Houve vários momentos marcantes. Mas talvez destacasse duas situações que por contextos diferentes foram possivelmente as mais marcantes. O novo edifício Reynaldo dos Santos, porque exigiu de nós muito esforço e onde foram vencidas várias barreiras; o outro momento, e por outras razões, foi diante da pandemia que conseguimos fechar a Escola inteira e em 24 horas por novamente todo o sistema formativo a funcionar. Um destes momentos foi a vitória da perseverança. O outro foi pela extraordinária capacidade de reação diante de uma grande crise.
E há algum momento que não goste assim tanto de lembrar?
Fausto Pinto: (Fica hesitante) Fica sempre algum amargo de boca quando nos deparamos com a crítica puramente destrutiva, ou com a ingratidão e isso aconteceu em situações pontuais. A incompreensão gerou alguma maldade…houve uma situação muito pouco agradável, mas que foi rapidamente ultrapassada sobre uma tentativa de se mudar o nome do novo edifício. Na altura houve alguma pressão mediática, claro que após o devido esclarecimento todos perceberam, mas nessa altura não nego que tenha havido algum tipo de atitudes menos agradáveis. Também ao longo da pandemia, algumas posições que fomos tomando houve sempre um pequeno conjunto de negacionistas que muito se manifestaram nas redes sociais e que se baseavam em alguma crítica maldosa. E não nego que houve uma ou outra pessoa que me surpreendeu e isso magoou-me um pouco.
Quando se tem mais poder e se vê rodeado de pessoas que se apresentam como seus amigos, sabe sempre distinguir quem esses amigos são de verdade?
Fausto Pinto: Por alguma coisa se diz que é quando perdemos o poder que percebemos quem está connosco e quem nos abandona. O poder é relativo. E a relação institucional também é diferente da amizade. Tenho noção que soube ver lealdade institucional e essa pode nada ter que ver com a amizade. Diria que as amizades essas já vêm desde há muito tempo e por isso, ao longo do tempo, ter esse reforço, é bom. Em regra geral, o que se sente é um gesto leal institucional, claro que com alguns podemos criar laços de amizade, mas geralmente são mais apoio. Também sei, e isso também compete a um líder, ver que há pessoas que tentam aproveitar momentos com um determinado sentido de oportunidade e aí não se vê nem lealdade verdadeira, nem amizade. E essas pessoas nunca terão qualquer tipo de papel. Na vida vamos aprendendo a conhecer as pessoas, torna-se muito percetível.
Sabe que a minha visão é muito institucional, para mim conta muito quem está com a mesma perspetiva de fazer o melhor pela Instituição que representa.
Foi fácil ser diretor desta casa, ou teve grandes revelações ao longo da sua gestão?
Fausto Pinto: Sabe que eu acho que só percebemos verdadeiramente o que nos espera quando já estamos dentro das coisas, vamos com uma expectativa, mas acho que não passa disso. Depois é a sobrevivência que nos ajuda a descodificar a expectativa e a incorporar as coisas. Dirigir uma Faculdade como esta é e foi um privilégio, sabe? Um desafio muito interessante. Teve momentos de tensão claro, mas foi um enorme sentido de nobreza que toda a equipa que esteve comigo encarou o momento. Sabe o que é bom? Com o tempo também aprendemos a esquecer as coisas menos positivas que, entretanto, aprendemos a lidar com elas. Diria que, não foi exatamente o que eu esperava, mas foi uma enorme vivência e não foi nem melhor, nem pior. Consegui estar preparado para um lugar com uma exposição como esta, estar apetrechado com as armas adequadas permite-nos reagir às interferências e moldar a Instituição.
Apresentou oficialmente a sua candidatura a Bastonário da Ordem dos Médicos. Esse pode vir a ser o seu próximo grande projeto. Porquê esta necessidade de uma candidatura? Por que razão se candidata?
Fausto Pinto: Entendi que com o fim deste mandato na Faculdade e com a conclusão do meu lugar enquanto Presidente da World Heart Federation, abria-se espaço para eu poder responder àquele que entendo ser o grande desafio do momento. Era altura de dar o meu contributo para que, com a minha experiência e bagagem médica, de quase 40 anos, dentro e fora de portas, poderia ser importante para o reforço da Ordem, para a boa prática médica. Chegou o momento em que penso que posso ser o agente do reforço da revalorização da imagem e importância que uma Ordem deve ter, da imagem que uma Ordem deve ter, da sua visibilidade, da sua respeitabilidade e da credibilidade que deve ter. Não é apenas um homem, o único intérprete dessa causa, mas será sempre necessário alguém a dar o rosto por esses valores, por uma Instituição que merece muito esse empenho. E essa tem sido a minha forma de estar, que é dar a oportunidade que os meus colegas possam optar e dizer que tipo de colega querem eles ter como Bastonário. Entendendo que a Ordem deve ter um papel essencial na sociedade, deve ser uma referência, e contribuir para a valorização da prática médica, devendo estar acima de qualquer questão partidária, ou sindical. A Ordem não deve entrar nesse patamar de discussão, não retirando a importância das outras discussões. Mas a população portuguesa precisa de confiança na comunidade médica e na Medicina que é praticada no seu país. A Ordem não é governo, mas deve trabalhar com o governo, seja ele qual for, e deve ser respeitada pela tutela. Deve ser símbolo de referência.
E é neste momento para si?
Fausto Pinto: Eu acho que não é tanto como devia ser. Temos tido vários exemplos em que a Ordem foi praticamente ignorada. Claro que a Ordem deve ser respeitada, mas tem igualmente de se dar ao respeito. Esta minha forma de estar, e da qual já dei provas, está disponível para representar a Ordem. Não há Saúde sem médicos, nem Medicina sem médicos e é preciso representá-los com um olhar forte. A comunidade médica deve ser forte, capaz, bem formada e respeitada, para que possa ser capaz de cumprir aquilo a que se propõe, tratar das pessoas, ou prevenir a doença. O médico acompanha as pessoas ao longo da sua vida. Não nos esqueçamos que quando perguntam à comunidade qual é o maior bem das pessoas, cerca de 8 a 9 num grupo de 10, apontam a Saúde. Estamos a lidar com aquele que é o bem mais essencial e o papel que os médicos representam é muito importante. O papel que o médico tem que representar tem que ser forte, para defender a saúde forte de toda a população. Este pensamento nada tem que ver com lobbys, nada disso. Mas todos os preconceitos e os conceitos do médico devem estar representados numa pessoa. É preciso alguém que vá por em prática uma Ordem que represente as necessidades das pessoas no que toca à sua Saúde. Em última análise é alguém que representa a Medicina ao serviço das pessoas. É urgente implementar boas práticas. É preciso articular a Ordem com as Faculdades de Medicina e a formação dos médicos. Toda esta estrutura tem de estar forte e de elevar o conceito da Saúde, com fundamentos éticos e humanistas, conceitos fundamentais, apesar de toda a tecnologia que possamos ter. Foi tudo isto que me impulsionou e depois de falar com vários colegas entendi que este era o momento de dar o meu contributo. Pôr a minha experiência ao serviço de todos os meus colegas, é isso a que me disponho.
Tem um plano B para o caso de não ser eleito Bastonário? Fica no Hospital como Diretor do Departamento de Coração e Vasos do Hospital?
Fausto Pinto: Primeiro, eu acho que vou ser Bastonário e merecer a confiança dos meus colegas de me darem essa honra. Mas se tal não acontecer irei continuar aquilo que sou, médico. Irei continuar a ser, se a Administração assim o entender, diretor do maior Departamento de Coração e Vasos do país, irei continuar a ser o diretor do Centro Cardiovascular de Lisboa, centro de investigação da Faculdade; irei continuar a ser Professor; irei continuar a organizar o ensino da Medicina e em particular da área cardiovascular; irei continuar ligado às diversas instituições e sociedades ligadas ao coração, algumas delas com papel de relevo internacional (enquanto past-presidente da World Heart Federation). Irei continuar a pugnar pela investigação clínica em Portugal na área cardiovascular, já trouxe várias inovações para Portugal. Tenho a capacidade de me envolver em várias áreas ao mesmo tempo, mas sempre em função do meu nível de responsabilidade. Seja qual for o caminho terei sempre o princípio de trabalhar em equipa, inspirando quem estiver comigo.
Joana Sousa
Equipa Editorial