Hoje é dia nacional do doente com AVC
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O dia 31 de março foi estabelecido desde 2003 como o Dia Nacional do Doente com Acidente Vascular Cerebral. Este dia foi instituído com o objetivo de sensibilizar a população geral para este problema e promover a melhoria das práticas dos profissionais de saúde. Mas não nos podemos esquecer, nos restantes dias do ano, que o AVC infelizmente continua a ser a principal causa de morte e incapacidade permanente em Portugal, mas que se pode prevenir, tratar e reabilitar.

A comunidade, com a orientação dos profissionais de saúde, deve conhecer as medidas de prevenção do AVC e também os sinais de alerta que justificam uma chamada imediata para o número de emergência 112. Sim, o AVC agudo é uma emergência e a Via Verde do AVC está organizada no nosso país por forma a encaminhar os doentes o mais rapidamente possível para o hospital mais indicado onde se instituirá a terapêutica adequada. Os tratamentos atualmente disponíveis são tanto mais eficazes quanto mais cedo forem realizados, conseguindo reduzir a incapacidade e melhorar as taxas de sobrevivência e de recuperação dos doentes. Restabelecer rapidamente o fluxo sanguíneo para a zona do cérebro afetada é a terapêutica mais eficaz para os doentes com AVC agudo devido a uma oclusão de grande artéria.

Imagem, AVC da artéria cerebral média esquerda, antes e após terapêutica de revascularização.
AVC da artéria cerebral média esquerda, antes e após terapêutica revascularização

 

Até 2015 a única terapêutica disponível e aprovada para o AVC agudo era a administração de um fármaco trombolítico endovenoso e apenas até 4,5h de evolução dos sintomas. É no fim de 2015 que surgem ensaiosclínicos a provar que a terapêutica endovascular e a remoção mecânica do trombo, em casos selecionados,reduz a morte e a incapacidade dos doentes.Foi a partir daí que as guidelinesforam modificadas e que em 2016 se organizou aUrgência Metropolitana de Lisboapara o tratamento do AVC, da qual este Centro Hospitalar faz parte. No CHULN a via verde do AVC é coordenada pela Neurologia e posso afirmar, como Neurorradiologista, que poder participar no tratamento destes doentes de forma multidisciplinar, tem sido o desafio profissional com resultados mais gratificantes. É uma terapêutica que faz de facto diferença e muitas vezes de forma imediata, ainda na sala de angiografia, logo após o tratamento, conseguimos ver o doente a recuperar dos défices neurológicos prévios.

Desde que se começou a Urgência Metropolitana para o tratamento do AVC agudo, e agora que estamos perto de realizar a nossa milésima trombectomia no CHULN, verificamos que esta conjugação de esforços tem melhorado bastante a prestação de cuidados: a rapidez de atuação, a experiência técnica, a capacidade de selecionar doentes, entre outros. Temos evoluído para procedimentos mais personalizados, muitas vezes recorrendo a métodos de imagiologia avançada, como os estudos de difusão e perfusão o que nos permite encarar a janela terapêutica de forma menos rígida. A evolução tecnológica tem proporcionado dispositivos e materiais cada vez mais eficazes e desenhados de forma dedicada, não só para o tratamento de fase aguda, mas também para a reabilitação, fase determinante na melhor recuperação.

É com satisfação pessoal e profissional que assinalo esta data, lembrando que nenhuma campanha é demais, que as mensagens repetidas e o reforço da informação das populações e dos profissionais de saúde são fundamentais para o sucesso contra esta “outra pandemia”.

Fotografia da professora Lia Lucas Neto

Lia Lucas Neto

Neurorradiologista

Serviço de Imagiologia Neurológica do CHLN

Instituto de Anatomia da FMUL