Formação médica fica comprometida com impedimento de entradas em alguns espaços de saúde
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CEMP discorda e não se revê na atitude de alguns Conselhos de Administração hospitalares, que decidiram impedir a entrada de alunos de Medicina nas suas instalações, comprometendo gravemente a formação dos futuros médicos em Portugal

 

O Conselho de Escolas Médicas Portuguesas (CEMP), na sua reunião de 9 de Novembro de 2020, debateu a evolução da abertura do ano letivo nas várias Faculdades de Medicina portuguesas, constatando, com satisfação, que têm sido implementados, duma forma geral, os planos delineados para cada Escola. Queremos aqui realçar a postura exemplar de alunos e docentes, que tem levado a que, mesmo considerando a situação epidemiológica da pandemia a nível nacional, que é muito grave, no seio das Faculdades de Medicina o número de casos confirmados seja residual, permitindo, assim, o seu funcionamento dentro do que foi planeado, de forma segura e a garantir uma formação adequada para os futuros médicos.

Neste sentido, é com manifesta preocupação que constatámos o facto de alguns centros hospitalares terem dado instruções para impedir a presença de estudantes de Medicina nas suas instalações. Tal atitude merece a veemente reprovação do CEMP, baseada nos seguintes aspetos:

  1. É fundamental, sobretudo neste momento, garantir a formação adequada dos futuros médicos, o que implica, naturalmente, a existência de aulas práticas presenciais, com contacto com doente, elemento indispensável à formação médica. A sua interdição pode implicar estarmos a comprometer a formação dos futuros médicos, com consequências imprevisíveis na saúde dos portugueses.
  2. Foi feito um planeamento rigoroso, que implicou um investimento avultado por parte das Faculdades de Medicina, em articulação com os respetivos centros hospitalares, para garantir as condições de segurança para a presença dos alunos em ambiente de contacto com doentes, à semelhança do que é exigido aos profissionais de saúde (ex. aquisição de máscaras, batas descartáveis, fatos hospitalares, etc, etc).
  3. A situação pandémica que vivemos constitui uma oportunidade única para os estudantes poderem contactar com uma realidade para o qual se deverão preparar, sendo um verdadeiro modelo educacional impar, que deverá ser aproveitado ao máximo, pois permitirá uma preparação mais adequada das futuras gerações de médicos para lidarem, no futuro, com situações idênticas. É incompreensível, para nós, desperdiçarmos esta oportunidade de podermos ensinar de forma mais adequada os nossos alunos, futuros médicos.
  4. Existem já várias experiências a nível internacional e também nacional, dos próprios alunos, sobretudo os do 6º ano, integrarem, voluntariamente, equipas médicas que estão a tratar os doentes afetados pela doença COVID-19, com sucesso comprovado. A sua contribuição no combate a esta pandemia tem sido reconhecida a vários níveis, em todos os continentes.
  5. Tem-se comprovado de forma muito clara, que as situações de contaminação dos estudantes de Medicina tem sido residual, o que atesta o sentido de responsabilidade dos mesmos e do seu comportamento irrepreensível, que temos testemunhado em todas as Escolas Médicas nacionais.

Vimos, assim, apelar aos Conselhos de Administração das estruturas de saúde do nosso País, que colaborem com as Escolas Médicas Portuguesas, na formação dos nossos futuros médicos, de forma adequada e ajustada àquilo que são as exigências da formação rigorosa dum médico, a fim de não comprometer a mesma. Tal deverá ser considerado como um objetivo do máximo interesse nacional.

Gostaríamos ainda de chamar a atenção para a necessidade de se criarem condições a nível nacional, que permitam às Escolas Médicas portuguesas, implementar as recomendações da DGS sobre a necessidade de equiparar os alunos de Medicina a profissionais de saúde, no que se refere à vacinação para a gripe sazonal. É um facto que algumas administrações regionais de saúde, como a de Lisboa, se disponibilizaram a colaborar, o que registamos com agrado, mas tal deveria ser instituído de forma articulada, a nível nacional.

O CEMP manterá sempre uma postura independente, de grande responsabilidade e sentido cívico, no intuito de ajudar a encontrar soluções que permitam minorar os problemas que a atual crise pandémica tem trazido, em particular no que se refere à formação médica em Portugal, elemento essencial para garantir o bem-estar das populações.

 

 

Portugal, 9 de Novembro de 2020.

 

 

 

O Conselho de Escolas Médicas Portuguesas,

 

Fausto J. Pinto, Presidente do CEMP e Diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa

Altamiro da Costa Pereira, Diretor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto

Carlos Robalo Cordeiro, Diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

Henrique Cyrne Carvalho, Diretor do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar

Isabel Palmeirim, Presidente do Departamento de Ciências Biomédicas e Medicina da Universidade do Algarve

Jaime Branco, Diretor da Nova Medical School | FCM da Universidade Nova de Lisboa

Miguel Castelo Branco, Presidente da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior

Nuno Sousa, Diretor da Escola de Medicina da Universidade do Minho