Controvérsias na vacinação de adolescentes (12-15 anos)
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Em Israel, no Reino Unido, na Área Económica Europeia e nos Estados Unidos da América têm sido relatados casos de miocardite e de pericardite, principalmente alguns dias após a 2ª dose da Vacina da Pfizer e da Moderna (vacinas RNA), em adolescentes e em adultos jovens do sexo masculino. A maioria dos casos evolui como doença benigna e autolimitada, com repouso e terapêutica convencional. As mortes registadas por miocardite ocorreram, apenas, em idosos ou naqueles com comorbilidades. A Agência Europeia do Medicamento (EMA), os Centers for Disease Control and Prevention (CDC) e a Organização Mundial de Saúde (WHO) consideram que as vacinas para a COVID-19 têm sido usadas sob monitorização de segurança intensa, incluindo estudos em adolescente, estando em avaliação estes casos de miocardite e a sua relação com a vacinação contra a COVID-19. Segundo aquelas agências, estes casos não devem pôr em causa a vacinação das crianças com mais de 12 anos, considerando-se que:

a) As crianças podem ser infectadas pelo vírus que causa a COVID-19;

b) As crianças podem adoecer, serem hospitalizadas, internadas em cuidados intensivos e, se bem que muito raramente, morrerem. 

c) As crianças podem sofrer do long COVID;

d) Calcula-se que o nº de casos de miocardite em adolescentes e em jovens adultos em consequência da COVID-19 seja seis vezes superior ao dos vacinados;

e) As variantes de interesse, em particular a delta, parece atingir mais as crianças do que as variantes prévias;

f) As crianças podem transmitir SARS-CoV-2, pondo em risco os conviventes, em particular os familiares mais idosos;

g) A actual situação pandémica é de risco elevado (emergência de variantes mais transmissíveis, relaxação e uso inapropriado de medidas de saúde pública e sociais, aumento da mobilidade e de ajuntamentos e taxa de vacinação, ainda, baixa).

 

EMA, CDC e WHO consideram que a razão de risco / benefício favorece a vacinação, incluindo as crianças com mais de 12 anos. Neste momento da pandemia em Portugal, tendo em consideração o referido  acima, em particular as alíneas e) e f) e as recomendações da EMA e da Agência Portuguesa do Medicamento (INFARMED) e, ainda, o facto de se tratar de uma situação rara (miocardite), com evolução benigna e autolimitada, ainda em avaliação em relação às causas e à sua relação com as vacinas para a COVID-19, é de considerar que as autoridades da saúde em Portugal, mais do que levantar barreiras à vacinação das crianças, devem deixar um alerta à comunidade, muito em particular  aos pais, quanto ao risco e sintomas da reactogenicidade à vacina e de como navegar no sistema de saúde, dando-lhes tranquilidade e segurança. Positivo considero, também, a divulgação de normas de rastreio / estratégias de vacinação, que possam minimizar o risco de efeitos adversos neste grupo de crianças. Face à evidência científica disponível e às recomendações das agências do medicamento é necessário o reforço do interesse da população pela vacinação contra a COVID-19, em particular nos indecisos, que podem contribuir para engrossar a fileira dos “negacionistas”. A emergência de variantes mais transmissíveis, que possam escapar ao efeito imunogénico da infecção ou da vacina, faz parte da adaptação do vírus ao novo hospedeiro e a medida mais eficaz de contrariar esta evolução é ter a maior percentagem da população vacinada e o mais rapidamente possível, reduzindo o risco de hospitalização, de necessidade de internamento em UCI e de morte, que atinge, em particular, os mais fragilizados, sejam idosos, adultos jovens, adolescentes ou crianças.

homem careca com fato

Francisco Antunes
Professor Jubilado da FMUL
Ex. Diretor do Serviço de Doenças Infeciosas do Hospital de Santa Maria

 

Nota: O autor optou por escrever o texto com o antigo acordo ortográfico.