As vagas, os alunos de Medicina, os casos internacionais e as médias mais elevadas
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- o balanço do Reitor da Universidade de Lisboa em mais um ano de candidaturas

 

reitor e jornalista na sic

No arranque das candidaturas ao Ensino Superior, são mais de 52 mil as vagas que estão disponíveis para os estudantes. Mas algumas dessas vagas garantem apenas o lugar para aqueles que apresentem médias acima dos 18 valores. O curso de Engenharia Aeroespacial é o caso mais flagrante desta realidade e que ainda assim tem 120 vagas neste momento.

Para comentar a situação atual, António da Cruz Serra, Reitor da Universidade de Lisboa, esteve nos estúdios da SIC em direto para dar conta dos números e da atual realidade financeira daquela que é a maior Escola de Ensino Público do país e uma das mais procuradas quer nacional, quer internacionalmente. “Queremos oferecer as vagas com a capacidade instalada certa. Por ano podemos aumentar 15% das vagas, mas para receber mais alunos, é preciso mais obras e mais professores”.

Se grande parte dos alunos já concorre na sua primeira opção com médias acima dos 17 valores, também é importante referir que para garantir a qualidade do ensino a que a Ulisboa habituou o mercado, o orçamento de estado alocado ao Ensino cobre apenas parte dos gastos totais assumidos, o que obriga a que as grandes Instituições procurem não só os estudantes internacionais, assim como os financiamentos europeus. Neste momento na Universidade de Lisboa há 8 500 estudantes estrangeiros, o que significa que 1 em cada 6 não é português. “Há muitos anos que a Universidade de Lisboa aprendeu a viver com as alternativas apresentadas ao orçamento proposto pelo Ministério do Ensino Superior, aquilo que é pago pelo orçamento de estado, não chega para pagar dois terços do ensino dos nossos estudantes”, reforçou o Reitor.

A gestão de orçamentos e admissão dos estudantes estrangeiros são temas que abrem vários caminhos de discussão, já que ao curso de Medicina não é permitido o acesso pela parte dos alunos internacionais, decisão cuja pasta estará nas mãos do Ministério do Ensino Superior.

Facto é que aos dois ministérios é exigida resposta à pergunta óbvia de um país ainda diante de uma pandemia. Estará o Serviço Nacional de Saúde apto com todos os médicos que precisa? A resposta não é imediata para António da Cruz Serra que atribui a análise ao Ministério da Saúde, a ele “cabe prever médicos e os recursos, mas a pandemia veio mostrar a importância de ter médicos e de reforçar o SNS”. E continuou, “a pandemia pode ajudar a recuperar a velha frase que contínua a resultar: se acham que a Ciência é cara, vejam o que teria acontecido se não tivéssemos investido durante 20 anos na tecnologia que nos permitiu investir nas vacinas da Pfizer e da Moderna.”

O assunto das vagas em Medicina acaba por ter sempre o mesmo dilema do ovo e da galinha e qual surgiu primeiro; serão as vagas de entrada, por sinal limitadas, as adequadas para as necessidades do mercado? Ou são as vagas às especialidades que precisam de acompanhar o aumento da procura e do mercado? “É preciso aumentar as vagas na especialidade se querem aumentar mais vagas no ensino. Não podemos esquecer que continuamos a ter muitos portugueses que querem seguir Medicina e têm que ir para fora estudar, porque em Portugal não entram”. Num país cuja realidade nos diz que mais de um milhão de portugueses não tem ainda médico de família, haverá respostas imediatas sobre os buracos abertos no mercado da Medicina?

Mas foquemo-nos nos números que nos dão respostas.

O valor que marca o crescimento de 2% anual, é o ritmo médio a que se tem assistido de crescimento da Ulisboa, dentro da atual legislatura. “Eu percebo que temos problemas, mas temos uma limitação de orçamento que é inferior do que aquilo que tínhamos há 10 anos atrás, e isto foi uma violência que aconteceu no Ensino Superior, resultado das crises financeiras e da vinda da Troika”.

Talvez por esta mesma razão o tema das propinas pagas pelos estudantes internacionais não se esgote em si, sendo taxativamente estes os que garantem o retorno financeiro mais elevado, mais do que as dos estudantes nacionais, tornando-se assim fonte evidente de uma receita que permite o equilíbrio das contas.

 

senhor de fato azul

Sobre estes, os estudantes estrangeiros, “diminuíram muito ligeiramente no começo da pandemia”, como referiu o Reitor que aproveitou para atualizar os números e dizer que o quadro já estabilizou. “Portugal é um destino muito apetecível e com o elevado nível de vacinação no país, teremos todos os estudantes do Ensino Superior vacinados. Penso que teremos novo aumento de estudantes internacionais, principalmente do Brasil, acréscimo que é explicado pela segurança do nosso país, proximidade da língua e a qualidade das Escolas Portuguesas”. António da Cruz Serra recordou ainda que, “não é apenas necessário o recurso aos estudantes internacionais para que as grandes Universidades vejam as suas capacidades instaladas, é também muito importante para os estudantes portugueses o contacto com os estudantes internacionais”, para a extensão de conhecimento e mais ampla visão de mundo.

Questionado se lhe faz sentido a existência de 1070 cursos sem praticamente quaisquer candidatos, o Reitor esclareceu, “temos uma oferta formativa caótica e é preciso reorganizar essa mesma oferta. Não há mal nenhum na replicação de cursos, mas eles têm de ser úteis. Vejam as dezenas de cursos que não têm nenhuma recolocação ou têm abaixo das 10 pessoas. Há cursos que as pessoas nem percebem o que vão estudar”.

Reitor da maior Universidade do país e até ao final de setembro deste ano, António da Cruz Serra orgulha-se de esta ser a Instituição portuguesa que tem “o bem mais precioso que uma Universidade pode ter, o prestígio do nosso diploma”.

Recordamos que as candidaturas da 1ª fase ao Ensino Superior decorrem até ao dia 20 de agosto, até lá vale a pena continuar a recordar a razão de Medicina ser a Escolha que se faz em consciência.

https://www.medicina.ulisboa.pt/nos-escolhemos-faculdade-de-medicina-ulisboa