“Temos de ser adultos e ter uma atitude pedagógica com a população”
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homem de óculos e fato cirúrgico

O Professor Fausto Pinto foi entrevistado pelo Canal Saúde +, onde comentou a evolução da pandemia no nosso país, avaliando as medidas e estratégias implementadas pelo poder político e autoridades de saúde ao longo dos últimos meses.

Reiterou a urgência em haver “planos consistentes, atempados e devidamente discutidos com quem no terreno tem a responsabilidade de os implementar”, lamentando a ausência de um planeamento atempado e “mais proactivo”, ao invés de uma estratégia “pró-reativa”, como entende ser o caso português na gestão da pandemia.

Na opinião do Presidente do CEMP (Conselho de Escolas Médicas Portuguesas) é fundamental ouvir quem está no terreno e “envolver os profissionais que sabem, que têm o conhecimento técnico e a competência para poderem ajudar a tomar as decisões”.

Em declarações ao Canal Saúde +, Fausto Pinto adiantou ainda que o desconfinamento português foi “demasiado optimista”, defendendo que a comunicação da pandemia não tem sido a mais eficaz, destacando a ausência de “mensagens claras”, e que agora é tempo de ter “uma atitude pedagógica com a população e de ser adultos”.

Sobre as recentes afirmações do nosso Primeiro-Ministro, em que António Costa garantiu que “o país não aguenta um segundo confinamento”, Fausto Pinto realça que “ninguém quer reconfinar, como é óbvio, mas para isso é preciso fazer a prevenção e ter a coragem de tomar medidas que, às vezes, não são as mais simpáticas”, entendendo que na fase de desconfinamento “quis-se avançar muito rápido e acabou por se ter resultados menos bons, precisamente porque não se fez a prevenção de forma a poder-se ter resultados mais adequados”.

Ainda sobre a gestão da pandemia, o Professor Fausto Pinto sublinhou, também, a “pouca valorização” e o “reconhecimento hipócrita” dos profissionais de saúde por parte do poder político nacional. “Tem havido várias atitudes dos decisores políticos que nos têm deixado muito desconfortáveis, cansados e preocupados”, afiança, lamentando a ausência de um alento sincero para com aqueles que estão na linha da frente do combate à Covid-19.

Ao Canal Saúde +, Fausto Pinto recordou que os hospitais portugueses conseguiram aguentar o embate da pandemia numa primeira fase, impedindo a rutura do nosso sistema de saúde, afirmando que, atualmente, verifica-se a prevalência de “grupos etários diferentes”, com a infeção por SARS-Cov-2 a atingir pessoas mais novas, e em que “1/3 dos doentes internados [no Hospital de Santa Maria] têm, neste momento, 40 ou menos anos de idade”, atestou o Professor, revelando que se “têm detetado mais pessoas assintomáticas”.

Sobre a testagem ao novo coronavírus, Fausto Pinto assegura que está a decorrer de forma razoável e recusa a sobrevalorização amplamente propagada, ressalvando contudo que “existem rácios que nos permitem dizer se, de facto, os testes estão a ser adequados em termos percentuais ou não, e nós ainda temos taxas elevadas de positividade, o que significa que existe ainda uma contagiosidade grande na população e daí a necessidade das medidas de prevenção”.

O Professor apelou, também, “ao reforço significativo” e imprescindível do investimento em Saúde, uma área na qual o país tem de apostar “fortemente”, na opinião de Fausto Pinto, uma vez que “sociedade precisa de um Sistema de Saúde bastante robusto”.

homem de óculos e fato cirúrgico

Em entrevista ao Canal Saúde +, Fausto Pinto fez, ainda, um balanço da retoma da atividade médica programada no Hospital de Santa Maria, onde dirige o Serviço de Cardiologia, em virtude dos constrangimentos criados pela Covid-19.

Partindo do reforço da ideia de que “as doenças cardiovasculares continuam a existir e a ter um peso muito importante”, o Professor avançou que houve “50% de quebra no número de doentes que vieram ao hospital com enfarte agudo do miocárdio e já existe alguma evidência, em vários locais, de que esta realidade se acompanhou de um aumento de mortalidade, que se deveu ao facto das pessoas terem medo de vir aos hospitais”, assegura, informando que a atividade programada na Cardiologia em Santa Maria foi retomada com base numa “planificação electiva dos doentes”, tendo já sido recuperada “uma parte significativa desses doentes”, conforme explicou na entrevista que pode ver na íntegra aqui.