"Subestimamos a gripe, não temos grandes linhas de investimento"
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Na notícia que dá conta da recente campanha lançada pela Comissão Europeia e respetivos parceiros mundiais, com vista à recolha de fundos para angariar 7,5 mil milhões de euros, verba destinada em parte ao financiamento de uma vacina para a Covid-19, a Lusa entrevistou o Professor Miguel Castanho, que reiterou a possibilidade de inexistência de uma vacina para o SARS-CoV-2. "Existe uma enorme pressão política para dar boas notícias, e daí retirar alguns dividendos", adiantou.

Miguel Castanho admite que "é normal, numa situação de grande expectativa e urgência", haver um grande esforço e os sucessivos anúncios de possíveis vacinas. No entanto, adverte que “o risco da pressa é queimar etapas, queimar etapas pode ter consequências muito perigosas” num “projeto muito longo e com muito investimento”, como é o caso da criação de uma vacina.

O Professor afiança, ainda, que "muitos projetos recuam e ficam parados a meio”, como aconteceu com as potenciais vacinas para os coronavírus da SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave) e da MERS (Síndrome Respiratória do Médio Oriente), avança a Lusa.

Miguel Castanho defende que os vírus da gripe são “uma ameaça latente” e defende que as doenças virais e bacterianas do passado, bem como o investimento na investigação desse género de doenças, são menosprezadas

O Professor da FMUL e investigador principal do iMM frisa, uma vez mais, que devemos preparar-nos para um cenário onde não existe uma vacina para a covid-19, citando o exemplo do processo de investigação e tratamento aplicado ao VIH/Sida, e reforça que a criação de uma vacina é um processo complexo, marcado por “avanços e recuos”, mas também reveses. E estes últimos podem ser, por vezes, “pequenos”, mas outras vezes “irreversíveis”.

Miguel Castanho explicou, também, que "é bastante difícil" identificar a zona estável da proteína da espícula do SARS-CoV-2, dada a “imprevisibilidade” do vírus, o que tem dificultado o trabalho dos investigadores em alcançar a fórmula desejada para a vacina.

Em entrevista à Lusa, o Professor admite ainda a possibilidade de novas vagas de covid-19 “mais amortecidas”, alertando que "quando o problema desaparecer do quotidiano", ou seja, num contexto social em que todos aprenderemos a conviver com o novo coronavírus, "há o perigo latente de subvalorizá-lo".

 

Leia aqui a entrevista na íntegra.